O presidente Jair Bolsonaro evitou nesta segunda-feira, 13, comentar a cobrança do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para que o governo tenha uma "fala única" nas orientações sobre o enfrentamento do novo coronavírus. "O brasileiro não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente, quem é que ele escuta", disse Mandetta em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, exibida na noite de domingo.
"Não assisto à Globo, tá ok? Vou perder tempo da minha vida assistindo à Globo agora?", respondeu Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada, a um apoiador que o questionou sobre o que havia achado da entrevista. Depois, repetiu a frase a jornalistas.
Como revelou o Estado, a entrevista de Mandetta foi encarada por interlocutores e integrantes do Palácio do Planalto como uma provocação ao presidente, com quem trava uma guerra pública sobre medidas de enfrentamento ao novo coronavírus. Na avaliação inicial deles, o ministro não apenas voltou a contrariar as opiniões do presidente, mas a fala à emissora que Bolsonaro costuma classificar como "inimiga" também foi vista como uma afronta.
Outro ponto que não passou despercebido foi o fato de a entrevista ter sido gravada no Palácio das Esmeraldas, na sede do governo de Goiás. O governador Ronaldo Caiado (DEM) rompeu no mês passado com o presidente, após Bolsonaro se referir à covid-19 como uma "gripezinha" e ter incentivado as pessoas voltarem à "normalidade" para evitar um colapso econômico.
Na entrevista, além de apontar os sinais trocados do governo, Mandetta também criticou quem se baseia em notícias falsas da internet para minimizar a pandemia e avisou a empresários que eles serão expostos se driblarem as restrições.
Mandetta disse ainda que maio e junho serão os meses mais difíceis da crise. Enquanto Bolsonaro, em clara divergência, disse neste domingo, em videoconferência com lideranças religiosas, que a "questão do vírus está começando a ir embora".
Ontem durante a entrevista, Mandetta também criticou o comportamento de pessoas que têm quebrado o isolamento. "Quando você vê as pessoas entrando em padaria, supermercado, fazendo fila, piquenique isso é claramente uma coisa equivocada", avaliou o ministro.
Na última quinta-feira, Bolsonaro ignorou orientações de distanciamento social e foi a uma padaria na Asa Norte, em Brasília. O chefe do Executivo provocou mais agrupamentos no dia seguinte quando foi a uma drogaria. Na ocasião ele fez questão de deixar claro: "Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir".
O presidente e o ministro participaram no sábado, 11, de uma visita ao hospital de campanha em construção na cidade de Águas Lindas, em Goiás. Na ocasião, o presidente foi ao encontro de apoiadores, que se aglomeraram para cumprimentá-lo. Questionado sobre o comportamento, o ministro respondeu: "Eu procuro seguir uma lógica de não aglomeração", disse.
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