Nova variante do coronavírus em Belo Horizonte? O que se sabe até agora

Pesquisadores da UFMG divulgaram descoberta de 18 mutações no Sars-Cov-2 que ainda não haviam sido identificadas, o que pode sinalizar existência de mais uma variante do vírus no Brasil

8 abr 2021 - 08h28
(atualizado às 08h32)
Maioria das mutações no vírus não é preocupante, mas algumas são consideradas críticas porque alteram fatores como transmissibilidade ou mortalidade do patógeno
Maioria das mutações no vírus não é preocupante, mas algumas são consideradas críticas porque alteram fatores como transmissibilidade ou mortalidade do patógeno
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um conjunto de 18 mutações no Sars-Cov-2 que ainda não haviam sido identificadas e detalhadas por cientistas foi descoberto por pesquisadores do laboratório do Instituto de Ciências Biológicas UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Sars-Cov-2 é o nome oficial do vírus que causa a covid-19.

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A descoberta do conjunto de mutações foi divulgada na quarta-feira (07/04). De acordo com uma nota publicada pelos pesquisadores, ela pode indicar a existência de uma nova variante do vírus em Belo Horizonte (MG).

Se confirmada, ela pode entrar em listas internacionais de variantes conhecidas do novo coronavírus. Até o momento, a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA destacam cinco variantes entre as mais preocupantes:

- B.1.1.7 (detectada inicialmente no Reino Unido)

- P.1 (conhecida como a variante de Manaus)

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- B.1.351 (África do Sul)

- B.1.427 (Estados Unidos)

- B.1.429 (Estados Unidos)

Mas é importante lembrar que é comum, durante qualquer pandemia, que vírus sofram mutações conforme são transmitido de pessoa para pessoa.

A maioria dessas mutações não costuma preocupar. Algumas, no entanto, são consideradas críticas quando alteram índices como transmissibilidade (ou a facilidade com que a doença se espalha) e mortalidade (o número de mortes relacionadas ao vírus).

No Twitter, o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino escreveu sobre o assunto.

"Enquanto o plano de ação federal for promover o contágio, o que coloca vulneráveis, curados e vacinados em contato com o coronavírus, teremos variantes sendo geradas. Evolução é implacável e estamos selecionando vírus mais transmissíveis e que reinfectam", escreveu.

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Ainda não há informações suficientes para saber se as mutações descobertas em Belo Horizonte de fato constituem uma nova variante. Assim, cientistas ainda não podem afirmar se ela é ou não mais transmissível ou letal.

Mas os pesquisadores afirmam que "os resultados da pesquisa requerem urgência de esforços de vigilância genômica na região metropolitana de BH e estado de Minas Gerais" para avaliação da situação.

O monitoramento das alterações em códigos genéticos ajuda a acompanhar casos preocupantes. O procedimento também é essencial para embasar medidas para bloquear a transmissão da doença.

O problema é que, por falta de recursos, o Brasil e o restante da América Latina ainda enfrentam dificuldades na chamada "vigilância genômica" - outro termo para o monitoramento de novas variantes do vírus.

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"A América Latina precisa de uma vigilância genômica forte. Na maioria dos países, ainda é mínima", escreveu no Twitter, no início de março, a epidemiologista Zulma Cucunubá, especialista em doenças infecciosas e saúde pública da universidade Imperial College London, no Reino Unido.

"Não sabemos o que está acontecendo com as variantes do SARS-CoV-2 na região."

O que diz a pesquisa feita em BH

O estudo foi realizado a partir de amostras clínicas coletadas na região metropolitana de Belo Horizonte, que foram usadas para o sequenciamento de 85 genomas de Sars-Cov-2 entre outubro de 2020 e março de 2021.

O sequenciamento do genoma permite conhecer detalhes sobre a composição genética do vírus e possíveis mudanças - ou mutações - em seu funcionamento e estrutura.

Na empreitada, os pesquisadores encontraram dois novos genomas com um conjunto de 18 mutações desconhecidas. É essa a descoberta que, segundo eles, "caracteriza possível nova cepa do Sars-CoV-2".

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Essas mutações foram encontradas em dois genomas de amostras não relacionadas geograficamente - distantes uma das outras - que coletadas nos dias 27 e 28 de fevereiro de 2021.

Assim, "não existem evidências de ligação epidemiológica entre ambas, como parentesco ou proximidade geográfica entre os infectados, o que reforça a plausibilidade de circulação dessa nova possível variante", explica o professor Renato Santana, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, que participou do estudo.

Coleta de material para teste molecular do coronavírus; algumas mutações já detectadas preocupam pelos indícios de maior transmissibilidade
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os genomas sequenciados na UFMG mostraram a presença de novas mutações que podem ser preocupantes. Duas delas estão no que os cientistas chamam de posição E484 e posição N501.

Eles explicam que mutações nas posições E484 e a N501 são consideradas críticas porque aparecem justamente no gene que codifica a proteína da espícula do vírus (proteína S). Ela é utilizada pelo vírus para invadir nossas células e é associada tanto a transmissibilidade quanto ao chamado escape imunológico (ou seja, a possibilidade de reinfecção).

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Outras mutações nessas mesmas posições, a E484K e a N501Y, estão presentes em variantes já consideradas preocupantes, como a P.1 (Manaus) e a B.1.1.7 (Reino Unido).

Nesse contexto, os pesquisadores lembraram que a mutação N501Y, presente nas linhagens acima (P.1 e B.1.1.7), foi recentemente associada a um aumento de aproximadamente 60% no risco de mortalidade em indivíduos infectados no Reino Unido.

Este estudo ainda não passou por revisão de outros cientistas e também não foi publicado em um periódico científico, mas os pesquisadores afirmam que logo será submetido para publicação.

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