Agência Europeia de Medicamentos (EMA) liberou nesta segunda-feira a vacina da farmacêutica americana Novavax. À base de proteína do vírus Sars-CoV-2, ela é um pouco diferente das outras quatro já em uso.A União Europeia terá mais uma vacina - a quinta - em circulação a fim de prevenir-se contra o coronavírus. Depois da Pfizer-BioNTech (EUA/Alemanha), Moderna (EUA), AstraZeneca (Reino Unido) e Johnson&Johnson (EUA), a Novavax, também dos Estados Unidos, foi aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) nesta segunda-feira (20/12).
Em um recente estudo, a empresa divulgou que a vacina tem 90,4% de eficácia contra a covid-19 e que deverá começar a entregar os primeiros lotes na Europa em janeiro. A União Europeia, que pesquisa os efeitos e riscos da Novavax desde novembro, já teria encomendado cerca de 200 milhões de doses.
A principal diferença da Novavax para as outras quatro já em circulação no bloco está no fato de ela ser baseada em proteínas, ou seja, contém pequenas partículas proteicas produzidas em laboratório do vírus Sars-CoV-2, que causa o coronavírus. Com isso, as proteínas atuam como anticorpos neutralizantes e, assim, bloqueiam o vírus.
A Pfizer-BioNTech e a Moderna são baseadas em mRNA-mensageiro, isto é, por meio de um processo genético, estimulam células do corpo a combater o vírus. Já a AstraZeneca e a Johnson&Johnson baseiam-se na tecnologia de vetor viral não replicante, ou seja, um "vírus vivo" é injetado a fim de "ensinar" o corpo a se defender.
Devido a isso, vacinas baseadas em proteínas, como a Novavax, podem fazer uma grande diferença na campanha global de vacinação. Desde a forma como é produzida até a logística, ela pode ser uma alternativa real para nações mais vulneráveis - e também para os céticos antivacinas.
Vacinas de proteína já são usadas há décadas para prevenção e proteção contra doenças como poliomielite, tétano, hepatite-B ou mesmo influenza. Além de oferecer eficácia de mais de 90% contra o coronavírus, a Novavax pode causar menos efeitos colaterais do que as vacinas já aprovadas.
As vacinas baseadas em proteínas podem contribuir para melhorar a situação dos países pobres porque são mais baratas de se produzir e também mais fáceis de transportar e armazenar - de 2 a 8 °C - do que as vacinas de mRNA, que precisam ser congeladas. Por isso, as vacinas à base de proteínas também poderiam ser produzidas concomitantemente no hemisfério sul.
Utilização já ocorre em outros países
O desenvolvimento de uma vacina à base de proteína contra o coronavírus levou mais tempo do que outras, mas já havia obtido aprovação em países como Indonésia, onde foi utilizada de maneira emergencial. No Reino Unido, Canadá e Austrália, os pedidos ainda estão sendo revistos.
Outros fabricantes de vacinas, como a farmacêutica indiana Biological E e a concorrente chinesa Clover Biopharmaceuticals também deverão apresentar pedidos semelhantes à União Europeia em breve. Além dessas, a britânico-francesa Sanofi-GSK, a canadense Medicago e a sul-coreana SK Bioscience também tendem a entrar com pedidos de aprovação.
No entanto, vacinas baseadas em proteínas estão sendo desenvolvidas em muitos países. Em Cuba, Rússia e Taiwan, por exemplo, elas têm sido a tônica das campanhas de vacinação.
Como é feita a distinção entre as vacinas?
As vacinas à base de proteína, no caso do coronavírus, contêm uma pequena partícula da proteína spike. O sistema imunológico reage às proteínas oriundas da aplicação da vacina. A resposta imunológica costuma ser mais rápida porque, ao contrário de outras vacinas, o corpo não tem de produzir as proteínas.
Antes que as vacinas de mRNA fossem protagonistas na pandemia de covid-19, as vacinas de proteínas eram consideradas uma tecnologia quase futurista para o caso da pandemia atual, segundo o Prof. Dr. Carlos Alberto Guzman, chefe do Departamento de Vacinologia e Microbiologia Aplicada do Centro Helmholtz.
"As vacinas baseadas em proteínas são muito bem conhecidas, geralmente são melhor toleradas, e não há grandes dúvidas. Uma desvantagem é que elas levam mais tempo para serem produzidas do que as vacinas vetoriais ou de mRNA", afirma Guzman.
A demora é maior porque leva-se mais tempo para integrar as proteínas spike em células de micróbios, mamíferos, insetos ou plantas. No entanto, uma vez concluído o desenvolvimento e os testes clínicos necessários, essas vacinas devem ser concorrentes diretas das vacinas vetoriais e de mRNA já em uso.
Dupla proteção contra SARS CoV-2 e influenza
Um dado interessante sobre a Novavax é que ela é uma vacina combinada, que protegeria não somente contra o coronavírus, mas também contra o vírus influenza (a gripe sazonal). Esta seria uma notícia e tanto - e uma estratégia um tanto eficaz, pois não seria mais necessário esperar um determinado período entre as duas vacinas. Com apenas uma dose, o paciente já estaria protegido.
De acordo com Guzman, "a recente pré-análise da Novavax representa um avanço. Ela fornece a primeira evidência de que uma vacina contra o coronavírus pode ser administrada simultaneamente com uma vacina contra a gripe sazonal em dois braços diferentes sem comprometer sua eficácia".
Papel de liderança na campanha global de vacinação
Ainda que muitos países europeus tenham atualmente suas próprias preocupações, devido à forte alta nos números de contágio por coronavírus nos últimos dois meses, o bloco continua comprometido com a resposta global à pandemia.
A Alemanha, por exemplo, já doou 107 milhões de doses de vacinas para a plataforma internacional de vacinas Covax, que até agora forneceu as doações a 144 países e regiões. O plano é doar pelo menos 175 milhões de doses a países emergentes e em desenvolvimento, tornando-se, assim, o segundo maior doador mundial, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
A União Europeia pretende doar pelo menos 500 milhões de doses, enquanto os Estados Unidos já doaram cerca de 252 milhões. Juntos, os países do G7 querem fornecer ao menos 870 milhões de doses até o fim de 2022.
De acordo com a Novavax, 100 milhões de doses de vacinas poderiam ser produzidas por mês, em um primeiro momento, com possibilidade desse número subir para 150 milhões.
"Muitas de nossas primeiras doses irão para países de baixa e média renda, e esse foi o objetivo desde o início", disse Stanley Erck, executivo-chefe da Novavax.
gb/dpa/ots