O que os milionários do Congresso fazem no combater a covid

Enquanto não decidem cortar seus salários por combate a vírus, parlamentares ricos dizem fazer sua parte e focam doações

3 abr 2020 - 05h11
(atualizado às 07h53)

Com um patrimônio declarado de R$ 238 milhões, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) disse que tem contribuído com instituições de caridade durante a pandemia do novo coronavírus, mas prefere não divulgar valores. "Não gosto de dar publicidade", afirmou ele ao Estado.

Alexis Fonteyne divulga que adaptou sua fábrica para produzir álcool em gel
Alexis Fonteyne divulga que adaptou sua fábrica para produzir álcool em gel
Foto: Alexis Fontey / Facebook / Estadão Conteúdo

Já seu colega, deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP) - R$ 28 milhões em bens -, faz questão de mostrar diariamente nas redes sociais o trabalho em sua fábrica, que foi adaptada para produzir álcool em gel. A exemplo de celebridades que anunciaram doações ao setor público para auxiliar o enfrentamento da doença, como a apresentadora de TV Xuxa e o jogador de futebol Neymar, parlamentares da lista dos mais ricos do Congresso também dizem fazer sua parte para ajudar.

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"Minha fábrica de revestimentos tem sido usada para fracionar álcool 70%, com doação da Associação Brasileira da Indústria da Cana-de-Açúcar", afirmou Fonteyne, que disse ainda estar usando o salário de deputado (R$ 33,7 mil) para comprar as embalagens necessárias para distribuir o produto no interior de São Paulo.

No caso do deputado Hercílio Coelho Diniz (MDB-MG), a ajuda ainda não saiu, segundo ele, por dificuldade de encontrar respiradores no mercado. Sua intenção é doar um equipamento para sua cidade, Governador Valadares, no interior de Minas. Cada aparelho, de acordo com o deputado, sai por R$ 60 mil. Diniz é dono de um patrimônio de R$ 38 milhões, segundo declarou à Justiça Eleitoral nas últimas eleições.

A falta de equipamentos da área de saúde tem sido uma preocupação do governo no momento em que o número de casos de covid-19 no País não para de crescer. Na quinta-feira, 2, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou já ter um "plano de logística" para buscar insumos na China.

Salários

Além das doações individuais, projetos apresentados na Câmara preveem o corte de parte dos salários dos parlamentares e de servidores públicos para destinar à Saúde neste momento de crise. A proposta, porém, tem poucas chances de avançar, segundo disse o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "Fica uma posição difícil quando o ministro da Economia diz que não há necessidade de se discutir esse tema agora", afirmou Maia anteontem.

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No fim de semana, o ministro Paulo Guedes disse a investidores que não era favorável à proposta como forma de captar recursos públicos para o enfrentamento da pandemia.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) é um dos que apoiam a medida. Ele afirmou que doa seu salário todos os meses para entidades que ajudam pessoas pobres. "Já que tenho outras fontes de renda, desde o início do mandato resolvi doar integralmente meu salário para alguns projetos sociais, especialmente na área da cultura e do esporte", disse o parlamentar.

"Penso que o aflorar do sentimento de solidariedade e compaixão independe do grave desafio que vivemos agora." Girão defende ainda a adoção no País de um imposto sobre grandes fortunas, medida que poderá afetar o próprio senador. "(A proposta) É justa e meritória. Tem como ser destinada, não apenas à covid-19, mas ao combate à pobreza", afirmou.

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