Enquanto países ricos distribuem doses de reforço, nações africanas sofrem grave escassez de imunizantes em meio a nova onda de covid-19. Apenas 20 dos 54 países completaram esquema vacinal de 10% de suas populações.O continente africano poderá ter de esperar até o segundo semestre de 2024 para conseguir vacinar 70% de seus 1,3 bilhão de habitantes contra a covid-19 - meta já atingida por muitos dos países mais ricos.
O alerta foi feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira (14/12) e vem num momento em que o mundo enfrenta um aumento dos casos da doença em razão da variante ômicron do coronavírus, mais contagiosa.
As estimativas da OMS sugerem que levará até maio de 2022 para que a cobertura da vacinação na África chegue a 40% da população do continente, e até agosto de 2024 para que seja possível imunizar 70% das pessoas.
Autoridades de saúde da África do Sul, onde a ômicron foi inicialmente detectada, afirmam que análises iniciais sugerem que a nova variante causa infecções menos graves e de duração mais curta em relação às outras cepas, além de exigir tempo mais curto de hospitalização, embora seja mais contagiosa.
Apenas 8% receberam duas doses
Assim, alguns dos países mais ricos se apressaram em distribuir as doses de reforço das vacinas contra a covid-19, enquanto apenas 8% da população do continente africano recebeu as duas primeiras doses.
"Jamais sairemos dessa situação se não trabalharmos juntos, como um só mundo", disse Flavia Senkubuge, presidente das Faculdades de Medicina da África do Sul, entidade que supervisiona a qualidade do sistema de saúde do país.
Somente 20 dos 54 países africanos completaram o esquema vacinal de ao menos 10% de suas populações, sendo que dez países vacinaram com as duas doses somente 2% de seus cidadãos.
O diretor da OMS para a África, Matshidiso Moeti, rechaçou suspeitas de que as nações africanas estariam permitindo que um grande número de doses expirasse, em razão da fraca infraestrutura e da resistência à vacina.
Segundo Moeti, o continente africano recebeu em torno de 434 milhões de doses, e destas 910 mil expiraram em 20 países, o que representa menos de um quarto de 1% das doses recebidas.
O maior desafio no continente continua sendo o acesso aos estoques globais de vacina.
Mais casos e menos mortes
Dados da OMS revelam que a África registrou aumentos acentuados nas infecções por coronavírus na semana passada, mas o número de mortes foi mais baixo do que o observado nas ondas anteriores da doença.
Na semana passada, os casos de covid-19 aumentaram em 83%, com alta de 66% na África do Sul. Moeti se disse "cautelosamente otimista" de que os números da doença cairão. "Mas, a baixa distribuição das vacinas na África significa que os números serão mais altos do que deveriam ser."
"Podemos ainda salvar muitas vidas se acelerarmos o ritmo da vacinação no início de 2022", observou.
rc (AP, AFP)