O advogado Tadeu Frederico de Andrade, paciente da Prevent Senior, reforçou as denúncias contra a empresa de plano de saúde em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta quinta-feira, 7. A comissão investiga a seguradora por supostamente fazer experimentos em pessoas para testar medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus em alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro.
Andrade relatou que, por orientação de médicos da Prevent, recebeu o chamado 'kit covid' quando foi diagnosticado com a doença e teve uma piora no quadro. Ele ficou 30 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e relatou ter sido vítima de uma tentativa de retirá-lo dos cuidados intensivos sem consentimento da família.
Por telefone, de acordo com o advogado, uma médica da Prevent Senior informou à filha do paciente que ele seria retirado da UTI e iria para um leito paliativo, com aplicação de morfina e determinação para não reanimação em caso de parada cardíaca.
Segundo Andrade, os médicos informaram que seu caso não tinha mais solução, pois ele estaria com rins e pulmões comprometidos. "No prontuário está que eu sairia da UTI, iria para um leito híbrido e que meu óbito ocorreria em poucos dias", detalhou, emocionado. "O argumento foi de que seria mais confortável e digno para o paciente morrer com a bomba de morfina".
O depoente disse que os médicos só desistiram de removê-lo da UTI após os familiares ameaçarem procurar a Justiça e a mídia. "Minha família não concorda nessa reunião com início dos cuidados paliativos, se insurge, ameaça ir à Justiça buscar uma liminar para impedir que eu saia da UTI e ameaça procurar a mídia. Nesse momento, a Prevent recua e cancela o início do tratamento paliativo, ou seja, eu em poucos dias estaria vindo a óbito e hoje estou aqui", relatou o paciente, que chorou durante o depoimento.
Uma das medidas da CPI, de acordo com decisão da cúpula da comissão, será propor mudanças na lei dos planos de saúde em função das denúncias contra a Prevent Senior. Os senadores criticam o formato vertical de gestão, em que a mesma empresa é dona do plano e dos hospitais, direcionando os valores e o modelo de atendimento aos pacientes atendidos. "Havia um projeto megalômano de fazer um tratamento no Brasil que seria vendido ao mundo para revolucionar o mundo com óbvio estímulo do governo federal", disse o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
"Tratamento paliativo foi usado para eliminar paciente de alto custo"
Em sua exposição inicial, Tadeu Frederico de Andrade relatou seu drama nos 120 dias em que ficou internado. Ele foi intubado duas vezes, teve pneumonia, passou por hemodiálise e traqueostomia, além de ter sofrido com outros problemas por consequência da covid-19.
O ex-paciente da Prevent Senior disse que sobreviveu porque a família dele lutou "contra uma poderosa organização" e não aceitou a imposição de tratamento paliativo — prática adotada pela empresa para eliminar pacientes de alto custo, segundo ele.
"Eu não fui o único"
Tadeu Frederico de Andrade acredita que outros pacientes da Prevent Senior foram encaminhados para os chamados 'cuidados paliativos'. Segundo parlamentares da CPI, a medida era adotada pela operadora de saúde para retirar pacientes dos leitos de UTI e reduzir custos.
"Pelo menos um caso. Uma das minhas filhas relatou que fez amizade com uma mulher que estava acompanhando a avó dela num leito de UTI próximo ao meu. Elas se encontraram várias vezes. Pelo que a gente sabe, essa senhora foi para cuidados paliativos e veio a óbito. Não posso generalizar, mas esse caso minha filha testemunhou. Eu não fui o único. Acredito que muitos mais tenham ido a cuidados paliativos".
* Com informações da Agência Senado