O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, voltou a defender o uso de fármacos sem a eficácia comprovada para o tratamento da covid-19 para o tratamento precoce da doença, apesar de afirmar que quando chegou à pasta foi necessário fazer uma nota informativa para conter o uso do medicamento na fase final da doença.
Para Pazuello, as questões com relação à cloroquina são "simples", disse. "O Brasil usa cloroquina há 70 anos. A cloroquina é um antiviral e um anti-inflamatório conhecido pelo Brasil [...] Ele tem ações antivirais e anti-inflamatórias, pelo menos é o que me é trazido, eu não sou médico" afirmou, lembrando o uso de medicamentos durante as crises de Zika e Chikungunya no País. O ex-ministro logo foi corrigido pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), que afirmou que o medicamento é antiprotozoário - e não antiviral.
O ex-ministro também afirmou que no começo da pandemia, durante a gestão do Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde recomendava o uso do fármaco, observando ainda que teriam sido recomendadas doses altas do medicamento no começo da pandemia, e que foi necessário orientar médicos para que o medicamento não fosse utilizado na fase final da doença. "Nós precisávamos fazer alguma coisa, só que eu não podia fazer protocolos, nem deveria, nem nunca fiz", afirmou, dizendo que poderia fazer uma "orientação" sobre o uso da cloroquina.
Pazuello nega pressão para defender o medicamento
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello negou que tenha sofrido qualquer pressão para defender o chamado tratamento precoce e o uso de cloroquina contra a covid-19 e que tenha orientado seu uso, e que a questão do medicamento virou uma questão "político-ideológica".
Segundo o ministro, a nota informativa feita pelo ministério logo depois que ele assumiu a pasta, que definia critérios para o uso do medicamento no início da contaminação, não era uma protocolo ou uma determinação, mas uma orientação.
"Colocávamos que o médico seria soberano, era público e notório que a cloroquina estava sendo usada off label [uso de medicamentos fora das indicações homologadas]", disse. Pazuello disse ainda que não participou da decisão de aumento da produção de cloroquina pelos laboratórios do Exército.
Ofício de tratamento precoce
Eduardo Pazuello atribuiu à secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), Mayra Pinheiro, a autoria do ofício recomendando aos Estados brasileiros que "fosse difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internações e óbitos".
O tratamento precoce, ainda que falte comprovação de sua eficácia, é defendido por membros do governo federal como alternativa a medidas de prevenção como o distanciamento físico entre as pessoas e o uso de máscaras.
Em depoimento à CPI, Pazuello defendeu que "o atendimento imediato com a prescrição do médico, dos medicamentos disponíveis, reduz a quantidade de pessoas que vai chegar na fase de agravamento da doença".
"Se não controlássemos a entrada do sistema de saúde, o meio pacientes com sintomas de médio a grave seria impactado demais", disse Pazuello desenhando a curva com as mãos. "Em momento algum pode parar o atendimento imediato."
Conhecida como 'capitã cloroquina', Mayra deve ser ouvida nesta quinta-feira, 20, pelo colegiado. A secretária chegou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) habeas corpus pelo direito de não se autoincriminar perante a CPI, porém o pedido foi negado.
Apesar da defesa da prescrição médica para o uso do medicamento, Pazuello admitiu mais cedo em seu depoimento que quando foi acometido pela doença, em outubro do ano passado, mesmo sem recomendação do hospital que o atendeu, ele tomou "tudo que qualquer um podia me falar que tinha que tomar".
* Com informações do Estadão Conteúdo e Reuters
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