Dois dias depois de pedir à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid para mudar seu depoimento por ter mantido contato com dois servidores acometidos pela doença, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello recebeu, nesta quinta-feira, 6, a visita do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM), em Brasília.
O Estadão flagrou o momento em que Onyx e uma assessora do Palácio do Planalto saíram do encontro no Hotel de Trânsito de Oficiais, onde mora Pazuello, no Setor Militar Urbano.
Onyx deixou a área militar por volta das 10h da manhã. O encontro não constava na agenda pública do ministro da Secretaria-Geral. Naquele momento, segundo registro oficial do governo Jair Bolsonaro, ele participaria de reunião com o assessor José Vicente Santini no gabinete dentro do Palácio do Planalto.
A reportagem entrou em contato com o ministro e sua assessoria direta, mas a Secretaria-Geral da Presidência ainda não se pronunciou.
O secretário-geral da Presidência é o coordenador da estratégia política do Palácio do Planalto na CPI. Onyx foi um dos primeiros ministros de Bolsonaro a ter covid-19. Ele comunicou que contraiu a doença em julho do ano passado. Mesmo já tendo sido contaminado, é possível a reinfecção.
A recomendação sanitária para pessoas que tiveram contato direto com casos confirmados é de se resguardar e manter medidas de isolamento por até 14 dias.
Além de ter se reunido com Onyx, o Estadão apurou que, na prática, Pazuello tem mantido uma rotina de poucos cuidados dentro das dependências militares. Ele foi visto, nesta quinta-feira, circulando pelo hotel sem máscara e usando o telefone da recepção para fazer chamadas.
O pedido para mudar seu depoimento provocou irritação em senadores, que alegaram justamente a falta de cuidados do ex-ministro da Saúde. Dias antes, o ex-ministro havia sido fotografado passeando sem máscara num shopping em Manaus (AM). O ex-ministro teve a covid-19 no ano passado.
Aos senadores, o Exército enviou um comunicado com o relato de Pazuello. No documento, o ex-ministro afirma que soube, na segunda-feira, 3, que manteve "contato direto" com dois servidores federais infectados pelo novo coronavírus. Por isso, sugeria que fosse interrogado remotamente, por vídeo, ou o adiamento. Os senadores optaram pela remarcação do depoimento presencial para o dia 19 de abril.
O ofício foi encaminhado ao presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), pelo general de Divisão Francisco Humberto Montenegro Junior, comandante da Secretaria-Geral do Exército, órgão administrativo ao qual Pazuello está ligado desde o fim de abril. O comandante-geral do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, também conversou por telefone com o senador.
O Estadão apurou que um dos coronéis próximos a Pazuello infectados pelo coronavírus é o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco. Ele costuma atender aos telefonemas feitos ao celular pessoal do ex-ministro.
Atualmente assessor na Casa Civil, Elcio Franco está afastado do trabalho, com o argumento de que teria testado positivo. A Casa Civil, no entanto, ainda não confirma oficialmente a doença do coronel porque ele ainda não apresentou a documentação que ateste a contaminação, o que deve ser feito quando retornar ao trabalho. A agenda dele não registra compromissos nos últimos dias.
Elcio Franco era um dos envolvidos na preparação de Pazuello para depor na CPI, o que demandou até treinamento de mídia no governo. Ele não retornou aos contatos da reportagem nos últimos dois dias.
A exposição de Pazuello na CPI e a falta de traquejo dele perante as câmeras e os parlamentares preocupam o governo Bolsonaro e as Forças Armadas. Oficiais do Exército, no entanto, dizem que a força não participou do treinamento de mídia feito com Pazuello por assessores do Palácio do Planalto.