Pfizer como reforço aumenta em até 25 vezes anticorpos

Constatação foi feita por pesquisadores da Unifesp em estudo com profissionais de saúde que tinham recebido duas doses de CoronaVac

8 mar 2022 - 11h10
(atualizado às 11h36)
Mulher segura frasco rotulado como de vacina contra Covid-19 em frente ao logo da Pfizer em foto de ilustração
30/10/2020 REUTERS/Dado Ruvic
Mulher segura frasco rotulado como de vacina contra Covid-19 em frente ao logo da Pfizer em foto de ilustração 30/10/2020 REUTERS/Dado Ruvic
Foto: Reuters

A redução da imunidade contra o SARS-CoV-2 registrada 75 dias após a segunda dose das vacinas Coronavac e do imunizante Oxford/AstraZeneca pode ser revertida significativamente com o reforço da Pfizer/Biontech, conforme estudo conduzido na Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A pesquisa mostrou que a 3ª dose da Pfizer aumenta em até 25 vezes o nível de anticorpos medido depois das duas aplicações de CoronaVac e em até sete vezes o alcançado após a imunização completa com a Oxford/AstraZeneca. Os resultados foram publicados no Journal of Infection.

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Apoiado pela Fapesp por meio de dois projetos (17/20106-9 e 20/08943-5), o estudo foi realizado com 48 profissionais de saúde de hospitais e instituições regionais. Eles têm idade média de 30 anos, para os vacinados com CoronaVac, e 40 anos para os que receberam a Oxford/AstraZeneca.

"Temos visto que a adesão à dose de reforço da vacina contra a covid-19 não está tão alta quanto poderia ser. Nosso estudo, no entanto, mostra a importância de a população tomar a terceira dose porque há um aumento significativo da resposta imunológica e celular, indicando maiores níveis de proteção" diz Alexandre Keiji Tashima, professor do Departamento de Bioquímica da Escola de Medicina da Unifesp e autor correspondente do artigo.

Até 1º de março, o Brasil contava com 30,6% da população imunizada com a dose de reforço contra a covid-19 (cerca de 65,073 milhões de pessoas). Com a vacinação completa (duas doses ou dose única) eram 73% dos brasileiros (155,071 milhões de pessoas), segundo dados do Our World in Data, da Universidade de Oxford (Reino Unido).

"Com a pandemia, montamos um grupo de pesquisadores na Unifesp para trabalhar em estudos envolvendo a covid-19. O objetivo é fazer uma caracterização bioquímica completa dos anticorpos", afirma Tashima, que é orientador do doutorado de Jackelinne Yuka Hayashi, primeira autora do artigo. O trabalho contou ainda com a participação de quatro pesquisadores da Euroimmun Brasil, empresa especializada em soluções para diagnóstico laboratorial.

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Os resultados do grupo corroboram estudos já publicados por cientistas de Hong Kong e de universidades americanas. Além disso, outras pesquisas haviam mostrado a eficácia do reforço. Uma delas, publicada no início de fevereiro na Nature Medicine, mostrou que a aplicação da 3ª dose da Pfizer seis meses após a imunização com duas da CoronaVac confere uma eficácia de 92,7% contra a doença. Já contra casos graves do Sars-CoV-2, a proteção sobe para 97,3%. Foram analisados dados de cerca de 14 milhões de brasileiros.

Avaliações

Os participantes da pesquisa do grupo da Unifesp tiveram amostras de sangue colhidas em cinco momentos: antes da vacinação; 28 dias após a primeira dose; 14 dias depois da segunda, 75 dias depois da segunda dose e 14 dias após o reforço da terceira. Foram realizados testes clínicos para IgG (que determina a presença e quantidade de anticorpos no organismo), com avaliação de anticorpos neutralizantes, capazes de impedir a infecção, e das respostas celulares.

No grupo imunizado com CoronaVac e reforço de Pfizer, os valores médios de IgG aumentaram de 19,8 BAU/ml (unidades de anticorpos ligantes por mililitro de sangue), após a primeira dose, para 429 BAU/ml com a segunda. Valores iguais ou acima de 35,2 BAU/ml são considerados positivos.

Essa proteção diminuiu significativamente nas dez semanas seguintes, caindo para 115,7 BAU/ml. Após o reforço, no entanto, a concentração de IgG voltou a subir, crescendo 25 vezes e atingindo 2.843 BAU/ml. Em relação aos níveis de anticorpos neutralizantes, houve aumento de 23,5%, no intervalo da segunda dose, para 99,3% depois do reforço.

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Entre os imunizados com a vacina da Astrazeneca e a terceira dose de Pfizer, as respostas medianas de IgG aumentaram de 86,8 BAU/ml para 648,9 BAU/ml durante as duas primeiras aplicações. Depois, caíram para 390,9 BAU/ml. Mas, com a dose de reforço, subiram sete vezes - para 2.799,2 BAU/ml. Já os níveis de anticorpos neutralizantes cresceram de 63,2% para 98,9%.

"É possível ver que mesmo com a redução da imunidade no período pós-segunda dose ainda há uma resposta celular relevante contra os antígenos do coronavírus. No entanto, o interessante é que, após a terceira dose, os dois grupos tiveram aumento significativo tanto da resposta celular como da humoral (de anticorpos). Isso foi algo que nos impressionou, indicando uma boa resposta nos dois grupos", explica Tashima.

Uma das limitações do estudo foi o fato de não ter sido possível comparar os resultados com dados da população em geral ou de grupos específicos, como idosos. Alguns voluntários que participaram do estudo foram contaminados pela variante Ômicron após o reforço da vacinação. Os pesquisadores estão agora em nova etapa de coleta de sangue desse grupo para analisar eventuais impactos da variante, que no início de janeiro respondeu por 97% dos casos de covid-19 no Brasil.

O artigo Humoral and Cellular Responses to Vaccination with Homologous CoronaVac or ChAdOx1 and Heterologous Third Dose with BNT162b2 pode ser lido em: www.journalofinfection.com/article/S0163-4453(22)00115-3/fulltext#fig0001.

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Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND

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