Por falta de voluntários, pesquisa da Butanvac terá mudanças

Primeira etapa não usará mais placebo; vacina é produzida pelo Instituto Butantan

18 ago 2021 - 11h50
(atualizado às 11h57)
Caixa da Butanvac, a vacina que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan
Caixa da Butanvac, a vacina que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan
Foto: Governo do Estado de São Paulo/Divulgação / Estadão Conteúdo

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta quarta-feira, 18, uma mudança no estudo clínico da vacina Butanvac, desenvolvida pelo Instituto Butantan. Voluntários na primeira fase da pesquisa não receberão mais o placebo (substância inativa) como estava previsto anteriormente. A alteração, segundo a Anvisa, foi feita a pedido do Butantan diante da dificuldade de convocar voluntários para o estudo com placebo.

A Butanvac é uma das vacinas contra a covid-19 em etapa mais avançada de desenvolvimento no Brasil. Como o Estadão mostrou, a fase inicial da pesquisa planejava separar os voluntários em um grupo que receberia placebo (uma injeção sem vacina) e outro que receberia a Butanvac. Para a primeira etapa, o Butantan previa selecionar jovens entre 18 e 30 anos ainda não vacinados e que não tivessem contraído a covid-19.

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O avanço da vacinação no Estado de São Paulo, porém, dificultou a convocação de pessoas não vacinadas para tomar placebo. A disponibilidade de vacinas no mercado torna antiética a condução de um estudo com placebo, substância sem nenhum componente ativo. Nesta quarta-feira, 18, São Paulo iniciou a vacinação de adolescentes após cobrir boa parte da população adulta com a primeira dose.

Com a mudança autorizada pela Anvisa, a pesquisa agora vai separar os voluntários em grupos que vão receber ou a vacina em teste (a Butanvac) ou a Coronavac. Nesse tipo de pesquisa, é feita a comparação entre os dois imunizantes para estimar se a nova vacina em desenvolvimento protege tão bem ou mais do que a vacina que já existe.

Segundo a Anvisa, "a alteração foi solicitada pelo Instituto Butantan, que, em seu pedido, relatou dificuldades na mobilização de voluntários para o estudo com placebo". O aval para a mudança no formato do estudo foi publicado nesta quarta-feira, 18, no Diário Oficial da União.

Os primeiros voluntários para a pesquisa da Butanvac foram mobilizados no dia 9 de julho. Naquele dia, houve apenas a realização dos primeiros exames antes da aplicação da vacina.

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A primeira fase do estudo da Butanvac vai envolver 400 voluntários. Depois, serão convocados seis mil voluntários com 18 anos ou mais. A vacina será aplicada com duas doses, em um intervalo de 28 dias entre a primeira e a segunda. A pesquisa deve ser realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

A Butanvac é uma aposta do Instituto Butantan diante da possível necessidade de revacinação da população no ano que vem. Caso se mostre eficaz, o imunizante poderá ter produção 100% brasileira. Após uma sequência de adiamentos - inicialmente, a promessa era aplicar a Butanvac na população em julho - a previsão agora é concluir os estudos este ano.

Como será a medida a eficácia das novas vacinas

Sem usar placebo, as novas vacinas em desenvolvimento no Brasil terão de ser estudadas em comparação com imunizantes que já existem no mercado. No modelo, todos os voluntários recebem vacinas: uma parte toma imunizantes já em uso nos postos de saúde, e a outra parte, doses do produto que se quer testar.A Butanvac será aplicada em um grupo de voluntários e testada na comparação com outro grupo, que receberá Coronavac.

O dilema será: como medir a eficácia da Butanvac? Para o Butantan, o imunizante poderia já ser usado na população após análise da resposta imune produzida no grupo que tomou Butanvac, na comparação com o grupo da Coronavac. Esse modelo dispensaria a fase 3 de testes, que verifica as hospitalizações e infecções nos dois grupos.

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Em julho, o Estadão questionou a Anvisa sobre a possibilidade de que pesquisas com vacinas brasileiras possam excluir a análise de infectados ou hospitalizados (fase 3 clássica) e considerar como desfecho só a resposta imune. A Anvisa diz que, para isso, seria preciso definir um anticorpo "padrão ouro" obtido pelas vacinas da covid comprovadamente eficazes. O novo produto, então, seria analisado quanto à possibilidade de gerar este mesmo anticorpo no organismo de quem recebeu a injeção.

Mas, segundo a Anvisa, há discussões internacionais sobre como definir esse "padrão ouro" e ainda "não existe consenso". Por isso, "neste momento", informou a agência em julho, mesmo com proposta de comparação entre vacinas, "estudos de fase 3 seriam necessários para verificar o desempenho na prevenção de casos graves e sintomáticos de uma vacina versus outra".

A medida de eficácia com base na análise de quantas pessoas adoeceram ou não deve fazer com que os testes das vacinas brasileiras demorem muito mais tempo do que os estudos feitos até agora e demandem muito mais voluntários. Isso porque, no estudo comparativo, em que ambos os grupos tomam vacinas, o aparecimento de infecções ou hospitalizações tende a ser mais raro. Os testes com as vacinas anticovid que conhecemos hoje andaram rapidamente, entre outros motivos, porque havia alta circulação do vírus e boa parte da população estava desprotegida.

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