Precisa e Ministério fazem guerra de versões sobre Covaxin

Diretora da empresa, Emanuela Medrades, classificou como "mentiroso" um documento que o Ministério da Saúde enviou à Câmara dos Deputados

14 jul 2021 - 17h26
(atualizado às 18h49)

Em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira, 14, a diretora da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, classificou como "mentiroso" um documento que o Ministério da Saúde enviou como resposta oficial à Câmara dos Deputados e no qual consta uma oferta de preço da vacina Covaxin, em 20 de novembro, a US$ 10 a dose. Na sua versão, esse valor foi apresentado apenas como "expectativa".

O documento foi revelado pelo Estadão, em 3 de julho. O contrato para a importação dos imunizantes produzidos pelo laboratório indiano Bharat Biotech foi fechado, em 25 de fevereiro, por US$ 15 a dose. A elevação do preço, o maior pago pelo governo brasileiro por uma vacina, é investigada pela CPI.

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Primeiro, a diretora foi taxativa. Em resposta ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, ela afirmou que o documento é mentiroso. "A memória da reunião é mentirosa. É isso?", perguntou o senador. "Sim, senador, é mentirosa".

Frasco com Covaxin
16/1/2021 REUTERS/Adnan Abidi/File Photo
Frasco com Covaxin 16/1/2021 REUTERS/Adnan Abidi/File Photo
Foto: Reuters

Em seguida, após o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ler todo o documento, ela fez um reparo à afirmação. Disse que os US$ 10 foram apresentados como "expectativa". "Foi apresentado como uma expectativa e não como uma proposta, não como oferta", afirmou.

Procurado várias vezes pelo Estadão, o Ministério da Saúde jamais se manifestou sobre o porquê ter fechado o contrato com valor 50% maior do que o colocado no relatório da reunião de novembro.

Emanuela Medrades confirmou a veracidade das informações no documento. Fez apenas dois reparos. Além da informação sobre o preço, disse que havia uma incorreção quanto à característica da vacina.

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Segundo ela, não é correta a menção de que a Covaxin seria em "pó liofilizado". O imunizante seria uma solução injetável pronta para aplicação.

O valor de US$ 15 por dose da Covaxin é 1.000% mais alto do que a Bharat estimou em agosto de 2020 - seis meses antes de o contrato com o Ministério da Saúde ser assinado.

Telegrama da embaixada brasileira na Índia registrou que, em um evento na Índia, a Bharat informou que o preço por dose da vacina, quando estivesse pronta, poderia ser de 100 rúpias (US$ 1,34, na cotação da época). A informação também foi antecipada pelo Estadão.

Este valor não chegou a ser oferecido ao governo brasileiro. Em abril deste ano, após ter fechado contrato com o Brasil, a empresa divulgou uma tabela de preços com valores mais altos para exportação do que para o mercado interno.

À CPI, Emanuela Medrades confirmou que o presidente da Bharat, Krishna Ella, afirmou na época que "a Covaxin custaria menos que uma garrafa de água". Segundo ela, o valor de agosto de 2020 nunca foi ofertado e, na ocasião, "o produto não tinha sido precificado nem pra Índia nem pra nenhum outro lugar".

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No ministério, as principais negociações para a compra da Covaxin foram lideradas pelo ex-secretário-executivo da pasta, Elcio Franco. Número 2 da gestão Pazuello, ele participou da reunião de 20 de novembro.

Coronel do Exército, Elcio Franco se tornou um dos principais alvos da CPI. Os senadores apuram se ele e os demais integrantes da pasta agiram para favorecer a Precisa, intermediária da compra da Covaxin, em detrimento de ofertas feitas diretamente por grandes farmacêuticas, como a Pfizer.

Por decisão dele mesmo, desde 29 de janeiro todas as tratativas relacionadas à vacina contra a covid-19 foram centralizadas na secretaria-executiva, como antecipou o Estadão.

Em 6 de março, portanto nove dias após o fechamento do contrato para entrega de 20 milhões de doses da Covaxin, Elcio Franco pediu a compra de mais 50 milhões de unidades. Ele também ainda não se manifestou sobre os motivos que o levaram a solicitar o acréscimo.

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O militar foi exonerado em 26 de março, com a saída de Pazuello. Foi nomeado, em 22 de abril, assessor especial da Casa Civil. O contrato, no valor de R$ 1,614 bilhão, foi suspenso no último dia 29. A decisão foi tomada após virem à tona denúncias de que houve pressão por parte de integrantes do ministério para acelerar a importação dos imunizantes, mesmo com inconsistências no processo.

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