Profissionais dão dicas para pais neste início de ano letivo

Volta às aulas - com ensino a distância ou na escola - requer organização e diálogo com as crianças

31 jan 2021 - 05h10
(atualizado às 09h27)

Quando as escolas reabriram em setembro, Maria Luisa, de 4 anos, não voltou. Quase todos os amiguinhos voltaram a se divertir na quadra e no parque, ouviram história embaixo da árvore, brincaram com outras crianças da mesma idade. Ficou tudo bem naqueles últimos meses de 2020 - ninguém pegou o coronavírus - e Carolina Chi Shin Tong, mãe de Maria Luisa, até se animou com a ideia de voltar às aulas presenciais agora em fevereiro. Com o agravamento da pandemia, porém, voltou atrás.

 Sala de aula do tradicional colégio da zona sul de São Paulo (SP), na região de Santo Amaro
Sala de aula do tradicional colégio da zona sul de São Paulo (SP), na região de Santo Amaro
Foto: Marco Ambrósio / Futura Press

O medo principal da família é que Malu leve o vírus para casa. Cadu, seu irmãozinho de 2 anos, já foi internado duas vezes com bronquiolite antes da pandemia, com passagem até pela UTI, e seu pai, Luiz Carlos Teixeira de Souza Junior, tem asma. Com a perspectiva de pelo menos Luiz Carlos ser vacinado - ele é veterinário, trabalha no Aeroporto de Cumbica e está na fila - e com a diminuição dos casos, a família pode rever essa decisão. Por ora, todos se preparam psicologicamente para a volta das aulas online, que nem sempre agradam às crianças menores.

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Fernanda Teixeira, diretora pedagógica da escola Capítulo 1, na Vila Mariana, usa duas palavras para definir esse recomeço: leveza e tempo. E diz que a retomada dos encontros online após as férias deve acontecer com atividades acolhedoras. "Os momentos individuais, entre o aluno e a professora, são um bom disparador para motivar a criança. Um momento que ela terá a professora todinha para si, poderá mostrar o brinquedo de que mais gosta, apresentar sua casa e assim vão criando vínculos."

Entre as dicas que Fernanda dá aos pais, está a retomada da rotina, cuidando do horário do sono e da alimentação. Ela sugere ainda montar, com a criança, um quadro apontando esses horários e atividades. "Isso a ajudará a se organizar, trazendo-lhe segurança e previsibilidade", ela explica.

A diretora conta que a maioria (80%) das famílias da escola optou pelas aulas presenciais, que estão previstas para recomeçar nesta segunda, 1.º, com rodízio de alunos. Para ela, o mais importante para a educação infantil agora é a retomada dos vínculos, das brincadeiras, do movimentar-se pelo espaço. "Para as crianças que não retornarem, creio que as famílias também devam se concentrar nisso e no tempo - um tempo de qualidade nas relações, um tempo de estar junto de corpo e alma, de brincar".

A data do recomeço das aulas foi uma quebra de braço na Justiça. Na quinta, 28, o Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio de liminar, determinou a suspensão da volta das aulas presenciais em escolas públicas e privadas em cidades que estejam nas fases vermelha e laranja do Plano SP. No dia seguinte, o governador João Doria (PSDB) recorreu da decisão e derrubou a liminar. Na mesma noite, outra decisão liminar impediu a volta das aulas da educação infantil pública - e ela também foi derrubada.

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Seja como for, Carolina Tong também tem dicas para quem optou por ficar em casa. "A Malu gostava dos encontros. Mas se eu me atrasava ou deixava para separar o material em cima da hora, ela sentia o estresse e às vezes não queria mais participar. A organização dos pais é muito importante neste momento", diz. E conta que havia outra coisa que podia atrapalhar a concentração da pequena. Para que Carolina pudesse acompanhar Malu nas aulas, sua irmã ia até a casa da família para dar uma mão com Cadu. E Malu, que sabia que no celular da tia havia mais joguinhos do que no da mãe, às vezes não queria entrar na aula.

No fim das contas deu tudo certo. "Ela é tímida, falava pouco, mas conseguia se concentrar e gostava de concluir as atividades e mostrar para as professoras e para os amigos", conta a mãe, para quem o vínculo com a escola é primordial. "A interação com outras pessoas é fundamental. O ensino online é menos do que o presencial, mas é mais do que ficar em casa só com a mãe e o pai." Sem contar que o planejamento enviado pela escola é uma grande ajuda aos pais que já esgotaram sua criatividade nos primeiros meses da pandemia.

Com rotina e planejamento, é possível encarar mais um período de homeschooling até que as famílias se sintam seguras novamente para mandar as crianças de volta para a escola. Mas, em muitos casos, fica faltando o contato com outras crianças.

"A criança se desenvolve na relação com o outro e na relação com os seus pares. É ali que aprende a se posicionar, a dividir e a lidar com os limites colocados pelo outro. Ela se diverte e tem momentos de brincadeira onde vai desempenhar diferentes papéis que vão prepará-la para a adolescência e para a vida adulta. Na primeira infância, a interação social é um laboratório de vida. Tirar isso da criança é preocupante", explica a psicóloga Rafaela Gualdi.

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Amor, cuidado, compreensão, validação de sentimentos e espaço para o diálogo são fundamentais dentro da famílias para um bom desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos filhos, ela acrescenta. E reafirma: "Mas para que ela se desenvolva de forma mais plena, ela precisa do amiguinho. Nessa relação, ela aprende uma série de habilidades que dentro de casa, com adultos, não aprenderia da mesma forma."

Para a criança que ficar em casa por mais tempo, ela sugere novos estímulos para entretê-la, organizar o cronograma de aula online, se possível ampliar a bolha para que o filho interaja com outras crianças e observar alterações de comportamento. Sobre o retorno do ensino presencial, ela recomenda tornar este momento o mais divertido possível, envolvendo a criança nos preparativos, mostrando fotos de como a escola está e antecipando como será o retorno. Ligar para um amiguinho antes também pode ajudar. No caso de qualquer dúvida ou insegurança dos pais, a recomendação é não discutir isso na frente dos pequenos. E ter paciência porque a readaptação pode ser lenta.

Para a psicóloga Deisy Emerich-Geraldo, a escolha sobre o ensino online ou presencial deve ser determinada pela dinâmica da família. "Não dá só para considerar as necessidades das crianças e desconsiderar o contexto familiar. E não ouvir a criança também não é uma opção. E preciso ter equilíbrio", diz.

Dicas para os pais no volta às aulas

  • Em casa ou na escola?

    Deisy Emerich-Geraldo sugere que pais de crianças a partir dos 5 perguntem como elas se sentem com a ideia de voltar para a escola. Recomenda, no caso das menores, que avaliem se ela é capaz de ficar com máscara por períodos prolongados e se sabem seguir regras. "Se não conseguem, talvez seja o caso de reforçar isso em casa antes, já que viveremos assim por mais um tempo." Famílias também devem se perguntar se vão conseguir manter suas atividades pessoais e profissionais com o ensino remoto.

  • Rotina é importante

    E ajuda a criança a se sentir mais segura. Um quadro com as atividades diárias pode ser feito em conjunto com o filho. "É importante ter uma rotina regular, mas não rígida", diz Deisy. A criança pode ajudar em casa, fazer uma culinária, brincar livremente. "Os pais, que são exemplos, também precisam ter um tempo de lazer."

  • Quando voltar

    Outra dica de Deisy é notar como o filho está voltando para casa, após o retorno presencial das aulas. Como é sua expressão, o que conta? Como se sentiu?

  • Se não voltar

    Rafaela Gualdi recomenda, para quem se sentir confortável e seguro, que duas famílias convivam mais "para que a criança interaja com outra criança e para garantir a saúde mental dela".

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