Quase 30% da população adulta de São Paulo, no momento em que a vacinação contra a covid-19 começou na cidade, já tinha anticorpos para o coronavírus Sars-CoV-2, o que indica que cerca de 2,5 milhão de pessoas com mais de 18 anos já tinham se contaminado em algum momento desde o início da pandemia.
Os dados são da quinta fase da pesquisa SoroEpi, mapeamento conduzido em uma parceria de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Grupo Fleury com o Ibope Inteligência, para medir a prevalência de anticorpos na população da capital.
A coleta, feita entre 14 e 23 de janeiro, apontou um aumento de 300 mil casos desde a fase anterior, realizada no início de outubro. Na fase 4 a soroprevalência era de 26,2%, e agora subiu para 29,9%.
De acordo com o levantamento, parte dessa elevação ocorreu entre jovens de 18 a 34 anos, confirmando a percepção de que essa faixa etária vem se expondo mais nos últimos tempos. A soroprevalência nesta faixa etária passou de 24,7% na fase 4 para 33% na fase 5. Com esse aumento, a prevalência entre os mais jovens ficou 1,7 vez maior que entre os de mais de 60 anos (19,9%), que parecem estar se protegendo mais.
"Esses dados indicam que as diferenc¸as entre grupos estão diminuindo e que os mais jovens esta~o se infectando em nu´mero crescente. É um dado que, de maneira não medida diretamente, já era percebida pelo governo e pelos hospitais e médicos. Os mais jovens estavam furando mais as medidas de distanciamento social", disse o biólogo Fernando Reinach, colunista do Estadão e responsável por reunir os pesquisadores participantes do SoroEpi, em coletiva de imprensa para divulgação dos dados.
A pesquisa mostra que o vírus está se espalhando mais pela cidade, mas ainda não de forma homogênea. A soroprevalência continua maior nos distritos mais pobres (36,4%) do que nos mais ricos (22,8%).
Esta estimativa chega a 37,9% entre os que têm renda de até R$ 2.200 e a 37,8% entre aqueles que declararam cor de pele parda e preta. A soroprevale^ncia entre eles é 1,6 vez maior que entre os brancos (23,2%).
Mas houve uma redução das diferenças quando considerado o nível de escolaridade. Pessoas que estudaram ate´ o ensino fundamental apresentaram uma soroprevale^ncia 1,7 vez maior que indivi´duos com ni´vel superior completo (33,8% versus 19,6%). Essa diferenc¸a era de 2,2 vezes na fase 4 do estudo.
Oficialmente a prefeitura apontava que havia em 23 de janeiro, quando a coleta de dados foi concluída, 546.523 casos confirmados de infecção. O inquérito sorológico indica uma prevalência quase cinco vezes maior da circulação do vírus.