Queiroga recebe Wizard para tratar sobre venda de vacina

Empresário conversa com o ministro da Saúde e propõe doar apenas metade das doses à rede pública, em vez de todo o lote

26 mar 2021 - 14h03
(atualizado às 14h42)

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recebeu o empresário Carlos Wizard nesta sexta-feira, 26, para discutir a venda de vacinas contra covid-19 ao setor privado. A reunião não consta na agenda de Queiroga, que está "sem compromissos oficiais".

Marcelo Queiroga, médico escolhido por Jair Bolsonaro para o Ministério da Saúde.
Marcelo Queiroga, médico escolhido por Jair Bolsonaro para o Ministério da Saúde.
Foto: EFE/EPA/Marcos Oliveira/Agência Senado - 12/8/2015 / Estadão Conteúdo

Wizard disse ao Estadão que foi pedir apoio para que o setor privado compre vacinas sem ter de doar todo o volume ao Sistema Único de Saúde (SUS). "Queiroga disse que vai fazer qualquer empenho, esforço e articulação necessários para conseguir o amparo jurídico que o setor precisa", afirmou o empresário. Ele faz parte de um consórcio de empresas interessadas em adquirir 10 milhões de imunizantes.

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A proposta do grupo é doar metade das doses à rede pública, em vez de todo o lote. Wizard também lançou um abaixo-assinado para pressionar pelo aval a estas compras fora do SUS.

Segundo lei aprovada neste mês, todas as doses compradas pela iniciativa privada devem ser doadas à rede pública enquanto grupos de risco são imunizados. Depois de superada essa fase da campanha de imunização, metade ainda tem de ser entregue.

Nesta quinta-feira, 25, no entanto, a Justiça Federal no Distrito Federal concedeu liminar para permitir que todo o volume comprado fique com a iniciativa privada, mesmo sem todos do grupo prioritário terem sido vacinados na rede pública. A decisão é provisória e ainda deve ser avaliada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).

Wizard disse que teve reuniões na quinta-feira, 25, para defender a compra das vacinas com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O empresário também se encontrou com os ministros Paulo Guedes (Economia), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos). O empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan, acompanhou as agendas de Wizard. Hang também esteve ontem na Saúde, mas foi recebido por auxiliares de Queiroga, que estava viajando.

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Segundo Wizard, o ministro da Economia defendeu a compra pelo setor privado. "Ele é 100% favorável."

Ex-proprietário de escola de inglês que leva seu nome e fundador do grupo Sforza, que tem investimentos em franquias como Taco Bell Brasil e Mundo Verde, Wizard chegou a anunciar que assumiria a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, no ano passado, mas foi barrado pelo presidente Jair Bolsonaro. O empresário, porém, seguiu atuando nos bastidores da pasta no apoio a bandeiras como o uso de medicamentos sem eficácia contra a covid-19, como a cloroquina.

Wizard afirma que o grupo de empresários já abriu negociação para a compra das doses, mas não quis revelar quais marcas podem ser adquiridas. As principais farmacêuticas têm dito que não têm doses para o setor privado, prefeitos e governadores, pois toda a produção estaria comprometida com governos centrais. Em fevereiro, Wizard disse ao Estadão que "em seis meses vai ter vacina sobrando no mercado, o preço vai cair".

Wizard afirmou ainda que tanto Lira como Pacheco entenderam que a lei que obriga a entrega das doses ao SUS "não beneficia ninguém". O presidente do Senado, porém, posicionou-se na quinta-feira, 25, contra a possibilidade de empresas anteciparem a imunização de seus funcionários. Ele comentava sobre a vacinação de empresários do ramo de transportes em Minas Gerais, descumprindo o Planlo Nacional de Imunização (PNI). "Não podemos admitir e tolerar que se descumpra o PNI. O entendimento do Congresso foi de que na edição da lei houvesse possibilidade de aquisição pela iniciativa privada para doação de sua integralidade para o SUS. Não se pode descumprir essa lei e essa diretriz", afirmou.

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou.

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