Reino Unido tem 7 mortes por coágulo no sangue após vacina de Oxford; entenda

Agência reguladora britânica confirmou mortes à BBC, mas diz que os benefícios continuam a superar qualquer risco.

3 abr 2021 - 08h01
(atualizado às 08h31)
Agência reguladora britânica confirmou mortes à BBC, mas diz que os benefícios continuam a superar qualquer risco
Agência reguladora britânica confirmou mortes à BBC, mas diz que os benefícios continuam a superar qualquer risco
Foto: EPA / BBC News Brasil

Sete pessoas morreram de coágulos sanguíneos raros depois de receber a vacina Oxford-AstraZeneca no Reino Unido, confirmou a agência de vigilância sanitária britânica à BBC.

No total, 30 das 18 milhões de pessoas vacinadas até 24 de março no país desenvolveram esses coágulos.

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Ainda não está claro se eles são apenas uma coincidência ou um efeito colateral do imunizante.

Mas a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA, na sigla em inglês), órgão do governo britânico equivalente à Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) no Brasil, afirma que os benefícios continuam a superar qualquer risco.

Ainda assim, a preocupação levou outros países, incluindo Alemanha, França, Holanda e Canadá, a restringir o uso da vacina apenas para pessoas mais velhas.

No Brasil, a vacina Oxford-AstraZeneca é um dos imunizantes aprovados para uso pela Anvisa.

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Os dados divulgados pela MHRA na sexta-feira (2/4) mostraram 22 casos de trombose venosa cerebral (TVC), que é um tipo de coágulo sanguíneo no cérebro.

Estes foram acompanhados por baixos níveis de plaquetas, que ajudam a formar coágulos sanguíneos, no corpo. A MHRA também encontrou outros problemas de coagulação junto com os baixos níveis de plaquetas em oito pessoas.

O órgão confirmou, em um e-mail enviado à BBC, que "infelizmente sete (pessoas) morreram".

June Raine, diretora-executiva da MHRA, disse: "Os benefícios ... na prevenção da infecção por covid-19 e suas complicações continuam a superar quaisquer riscos e o público deve continuar a receber sua vacina quando for convidado a fazê-lo."

Investigações estão sendo realizadas agora para determinar se a vacina AstraZeneca está ligada à formação desses raros coágulos sanguíneos. No início desta semana, a Agência Europeia de Medicamentos disse que essa relação "não foi provada, mas é possível".

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Duas questões estão levantando suspeitas. A primeira é a natureza incomum dos coágulos, que incluem níveis baixos de plaquetas e anticorpos raros no sangue que foram associados a outros distúrbios de coagulação.

"Isso levanta a possibilidade de que a vacina possa ser um fator causal nesses casos raros e incomuns de TVC, embora não saibamos disso ainda, então mais pesquisas são necessárias com urgência", disse David Werring, do Instituto de Neurologia da Universidade College London (Inglaterra).

A outra questão é a diferença entre as vacinas Oxford-AstraZeneca e Pfizer-BioNTech.

Houve dois casos de TVC após administração do imunizante da Pfizer no Reino Unido, entre mais de 10 milhões de vacinados, mas estes não apresentavam níveis de plaquetas baixos.

No entanto, permanece a incerteza sobre quão comuns esses coágulos são normalmente. As estimativas variam de dois casos por milhão de pessoas a cada ano a quase 16 em cada milhão em tempos normais, e o coronavírus foi associado à coagulação anormal, o que pode estar tornando esses coágulos mais comuns.

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A Alemanha relatou 31 TVCs e nove mortes em 2,7 milhões de pessoas vacinadas no país, com a maioria dos casos em mulheres jovens ou de meia-idade.

Dados semelhantes sobre quem foi afetado no Reino Unido não foram publicados localmente, mas acredita-se que pessoas de diferentes gêneros e faixas etárias tenham sido afetadas.

Um cientista disse à BBC que há evidências crescentes de que os eventos de coágulo sanguíneo são "causalmente relacionados", embora ele enfatize que os benefícios de tomar a vacina AstraZeneca ainda superam os riscos de não receber o imunizante.

Paul Hunter, professor de medicina da Universidade de East Anglia (Inglaterra), disse à BBC: "Não é incomum obter grupos de eventos raros puramente por acaso".

"Mas, uma vez que você encontra aquele aglomerado em uma população e ele surge em outra - como anteriormente na Alemanha e agora no Reino Unido - então acredito que as chances de que seja uma associação aleatória são muito, muito baixas".

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"Claramente, mais estudos são necessários, mas acho que as evidências estão mudando mais no sentido de provar essa relação causal no momento."

No entanto, a especialista em saúde pública Linda Bauld, da Universidade de Edimburgo (Escócia), disse à BBC que os casos eram "eventos raros" e enfatizou que não houve nenhum evento "no momento de uma relação causal - que a vacina estaria causando diretamente esses resultados" .

Ela recomendou ao público continuar se apresentando para tomar a vacina e acrescentou: "A própria covid aumenta o risco de coágulos sanguíneos de forma bastante significativa e é possível que isso seja parte da explicação de por que estamos vendo isso."

Análise

Todos os medicamentos, desde vacinas ao paracetamol, têm potencial de causar efeitos colaterais graves.

A vacina da gripe sazonal tem cerca de uma chance em um milhão de causar a síndrome de Guillain-Barré.

Portanto, a verdadeira questão é: os riscos compensam os benefícios?

Mesmo que a vacina tenha sido a causa, e isso ainda não foi comprovado, os números apontam em torno de uma morte a cada 2,5 milhões de pessoas vacinadas.

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No entanto, isso deve ser pesado contra a ameaça conhecida representada pelo coronavírus.

Se 2,5 milhões de pessoas de 60 anos pegassem o coronavírus, cerca de 50 mil morreriam. Se todos tivessem 40 anos, cerca de 2,5 mil morreriam.

Este equilíbrio de risco e benefício será melhor avaliado à medida que mais dados sejam revelados e mais jovens, que apresentam menor risco de morrer por causa da covid-19, sejam vacinados.

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