O primeiro lote da vacina Sputnik V, criada pela Rússia contra a covid-19, ultrapassou as 15 mil doses, informou a assessoria de imprensa da fábrica farmacêutica Binnopharm. No último sábado, 15, foi anunciado o início da produção em larga escala do imunizante, sem especificar quantidades. No entanto, nesta segunda-feira, 17, a empresa revelou que o primeiro lote foi de 15,5 mil unidades, segundo a agência TASS.
No dia anterior, o país já havia anunciado que a campanha de vacinação em massa começará dentro de um mês.
O diretor do Instituto Gamaleya, Alexandr Ginzburg, que desenvolveu a primeira vacina registrada no país contra a doença, indicou que nos próximos sete ou dez dias iniciarão os estudos em que milhares de pessoas serão vacinadas.
Guinzburg destacou que os estudos vão durar entre quatro e seis meses, mas que isso não será obstáculo para o início da vacinação em massa da população, que, como declararam as autoridades do país, será voluntária.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu com cautela a notícia de que a Rússia havia registrado a primeira vacina do mundo contra o novo coronavírus, lembrando que o imunizante, assim como os demais, deve seguir os procedimentos de pré-qualificação e revisão estabelecidos pela entidade. A vacina russa não estava entre as seis que a OMS observou na semana passada serem as mais avançadas.
O presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou na sexta-feira, 14, que a Rússia "pulou alguns testes" ao se desenvolver e garantiu que seu país não fará o mesmo. O diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, Francis Collins, chegou a comparar a uma "roleta russa" a decisão dos desenvolvedores de vacinas no país de pular o que ele descreveu como "partes fundamentais" do processo de aprovação.
Comunidade científica desconfia
A velocidade com que a Rússia está se movimentando para lançar sua vacina destaca a determinação em vencer a corrida global por um produto eficaz, mas despertou preocupações de que pode estar colocando o prestígio nacional acima da ciência e segurança sólidas. Moscou, no entanto, afirmou que a aprovação é sinônimo da sua "proeza científica".
O país decidiu aprovar o produto antes da realização de testes que deveriam envolveriam milhares de participantes, comumente conhecidos como ensaios de fase 3, para checar a eficácia do produto. Esses ensaios são etapas essenciais para garantir tanto a segurança quanto se a vacina funciona contra a doença. Informações iniciais apontam que o produto foi testado somente em 38 pessoas testadas até agora, mas os resultados do teste não foram publicados.
A vacina foi batizada Sputnik V, em homenagem ao primeiro satélite do mundo lançado pela União Soviética. O presidente Vladimir Putin, sem apresentar nenhum resultado científico, afirmou ao público que ela é segura. Como "prova", ele disse que uma de suas filhas teria testado a droga na condição de voluntária e sentido-se bem.
Responsável pela distribuição da vacina, o Instituto Gamaleya, de Moscou, disse anteriormente que a Rússia estaria produzindo cerca de 5 milhões de doses mensais da droga até dezembro e janeiro, de acordo com a agência Interfax.
Na quarta-feira, 12, o governo do Paraná anunciou um acordo com a Rússia para auxiliar no desenvolvimento de uma eventual vacina contra a covid-19. A partir do memorando, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) deve estreitar os laços com o Instituto Gamaleia de Moscou, que lidera o desenvolvimento da Sputnik V. O Estado ainda não teve acesso aos resultados dos testes clínicos realizados pela Rússia e países aliados.
No mesmo dia, a Embaixada da Rússia no Brasil também afirmou negociar um acordo sobre a vacina com o governo da Bahia. Em nota, a Embaixada informou que, em 30 de julho, o chanceler russo, Sergey Akopov, participou de uma videoconferência com o governador baiano e presidente do Consórcio do Nordeste, Rui Costa, e o secretário de Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas.
O tema da conversa foi uma possível parceria entre as instituições de pesquisa baianas e os centros científicos russos nos testes e produção do imunizante. Foi discutida também a possibilidade de outros estados da região se juntarem à negociação. / EFE e Reuters