Cerca de 60 hotéis do Rio de Janeiro fecharam as portas temporariamente desde o início da pandemia do coronavírus, e há risco de demissão de até 5 mil funcionários, segundo a associação de hotéis da cidade, que comparou a gravidade da situação com estragos provocados por uma guerra.
Segundo José Caamaño, vice-presidente da Associação de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), o setor se preparava para viver o melhor março dos últimos tempos, com previsão de taxa de ocupação de 75%, depois de alguns anos difíceis, com crescimento do produto interno bruto na faixa de 1% entre 2017 e 2019.
No entanto, com o avanço da pandemia e a adoção de medidas de restrição de movimentação e isolamento social para conter a disseminação do vírus, a taxa de ocupação foi declinando a ponto de obrigar os hotéis a fecharem as portas temporariamente.
"Tem hotel hoje na cidade que está sem um hóspede", disse Caamaño à Reuters nesta sexta-feira.
Caamaño frisou que o fechamento provisório atinge tanto as grandes redes, como Sheraton e Fasano, como estabelecimentos de categorias inferiores, algo jamais visto na cidade, segundo ele.
"Para nós é o caos. A gente nunca esperou, é como se fosse uma Segunda Guerra Mundial, só que sem bala", afirmou.
O setor hoteleiro do Rio espera uma retomada no nível de ocupação e, consequentemente, no fluxo de turistas de passeio e negócios, daqui a três meses, a depender das medidas adotadas para fazer frente ao avanço da pandemia.
Ainda sim, ressaltou Caamaño, a recuperação deve ser lenta e, inevitavelmente, haverá demissões no setor. Segundo ele, cerca de 5 mil empregados da indústria hoteleira estão com o futuro ameaçado. Atualmente, o setor emprega cerca de 40 mil pessoas no Rio.
Com hotéis fechados, milhares de profissionais já estão de licença remunerada, e, segundo o executivo, o acordo com o sindicato da categoria prevê a concessão de cesta básica e a manutenção do plano de saúde por quatro meses para aquelas redes que já ofereciam esse benefício.
"Eles (funcionários) estão aceitando bem. O pior é a demissão, que a gente acredita que pode ser de 20%. A gente fará de tudo para evitar, mas... Se o hotel voltar a trabalhar antes o funcionário é recrutado para voltar", afirmou.
Para tentar sobreviver, a indústria de hotéis tem mantido contato permanente com as três esferas de governo e já conseguiu o adiamento no pagamento das contas com as concessionárias de água, luz e telefonia.
Segundo Caamaño, mesmo assim serão necessárias novas medidas para proteger o setor e evitar mais demissões. "A postergação no pagamento de contas e impostos é importante porque a prioridade são os nossos colaboradores", disse.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve anunciar em breve um programa de apoio aos setores de turismo, hotéis, bares, restaurantes e setor aéreo, que foram fortemente impactados pela pandemia da Covid-19, segundo o presidente da instituição, Gustavo Montezano.