Em coletiva de imprensa excepcional realizada neste domingo, 17, o prefeito de São Paulo retomou o esquema tradicional de rodízio, que passa a valer a partir da próxima segunda-feira, 18, e anunciou que tenta antecipar os feriados de Corpus Christi (11 de junho) e Consciência Negra (20 de novembro) para ampliar isolamento social, mas apelou à população que fique em casa para conter o avanço do coronavírus. "São Paulo precisa desacelera ainda mais o ritmo para diminuir o contágio. Me resta na manga o uso dos feriados municipais", afirmou Bruno Covas (PSDB).
A decisão foi tomada porque a ampliação do rodízio, para 50% da frota, não teve impacto no aumento do isolamento social. Segundo Covas, foi possível tirar das ruas a circulação de 1.270 veículos por dia e houve uma diminuição de 5,5% nos passageiros de ônibus, mas a taxa média de isolamento não subiu. "Mas isso não pode ser desculpa para as pessoas se sentirem à vontade para retomar a circulação pela cidade. Precisamos ampliar o isolamento, precisamos rápido e estamos ficando sem alternativa", disse Covas.
"É um contrasenso o prefeito da cidade mais dinâmica do País, a cidade símbolo do trabalho, a cidade símbolo do empreendedorismo, pedir para a cidade parar, pisar no freio e se esforçar ainda mais para apertar o cinto. Esse é o meu pedido. Eu não vou me omitr. Essa é a minha escolha, o meu dever. É difícil acreditar que alguns prefiram que a população seja submetida a uma roleta russa. A indiferença diante da morte é indecorosa, é crime de responsabilidade, é contra a nossa Constituição federal. Não há outro caminho neste momento em que estamos. Não há melhor vacina. Antes de pensarmos em abrir, precisamos parar."
Comparando a última sexta, 15, com a anterior, o ganho foi de apenas dois pontos percentuais, de 48%, ante 46%. Mas quanto comparada a média semanal, verifica-se que "ficamos na mesma linha insuficiente", disse. Neste sábado, o Estado de São Paulo ultrapassou a China no número de mortes pela covid-19. Já são 4.688 vítimas, sendo 2.792 na capital. A cidade não vem conseguindo alcançar índices de isolamento considerados seguros para impedir a transmissão da covid-19, mesmo com as medidas adotadas pelos governos municipal e estadual e com a ampliação do rodízio de carros para 50% da frota desde a segunda passada, 11.
Na última semana, não houve um único dia útil em que o índice de isolamento social entre a população da capital tenha atingido o mínimo de 50%. Apenas fins de semana e feriados têm alcançado esse número ao longo do mês de maio. A última vez que a cidade de São Paulo teve esse nível de isolamento durante a semana foi há mais de um mês, em 15 de abril.
Neste sábado, 16, o boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado mostrou que os hospitais da capital já atingiram 89% de ocupação em leitos de UTI. Em 30 de abril, esse número também foi atingido e os pacientes da Grande São Paulo começaram a ser transferidos para o interior do Estado.
O nível ideal de isolamento social defendido pelo governo é de 70%, enquanto 60% seria um índice "aceitável". No último dia 8, o secretário de Saúde José Henrique Germann já havia alertado que, caso esse número permanecesse abaixo dos 55%, haveria "problemas no atendimento aos pacientes".
Na segunda-feira, 11, Covas implementou o rodízio de 24 horas em toda a capital, na tentativa de aumentar o índice de isolamento social no município, após os bloqueios no trânsito terem fracassado na diminuição dessa taxa. A medida, apesar de ter diminuído o tráfego nos horários de pico, resultou em aumento de passageiros no transporte público.
Lockdown
Até o momento, o lockdown ou "isolamento total" já foi implementado em Fortaleza, capital do Ceará; em 33 cidades do Tocatins; em todo o estado do Amapá; em Recife e em outras quatro cidades de Pernambuco; em quatro municípios da Região Metropolitana de São Luís, no Maranhão; em dez cidades do Pará; e em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro.
Até a última sexta, 15, pelo menos 32 municípios da Grande São Paulo se declararam contrários ao lockdown, de acordo com levantamento feito pelo Estadão. O único prefeito que se mostrou favorável à medida foi Gabriel Maranhão (Cidadania), de Rio Grande da Serra.