BRASÍLIA - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, telefonou no domingo para o ministro da Defesa, Fernando de Azevedo e Silva, para questionar a participação do presidente Jair Bolsonaro em manifestação convocada em defesa do fechamento do Congresso, do Supremo e a destituição dos governadores. Os dois são próximos. Antes de assumir a pasta, o ministro assessorava Toffoli na Corte.
Toffoli manifestou o desconforto com a postura do presidente e avisou que a simples presença dele em atos que tinham como pauta medidas inconstitucionais deu um sinal ruim. Ele observou que não pode haver dúvida ou ambiguidade dessa natureza em relação ao comportamento do presidente.
Na conversa, o ministro da Defesa tentou tranquilizar o presidente do Supremo. Disse que, em nenhum momento, Bolsonaro discursou em defesa de medidas autoritárias contra os demais poderes e enfatizou que o presidente é um defensor da Constituição.
Nesta segunda-feira, o ministro divulgou nota na qual afirma que "as Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do País, sempre obedientes à Constituição Federal". E que o "esforço de todos os brasileiros", neste momento, deve ser "para combater um inimigo comum: o Coronavírus e suas consequências sociais. É isso o que estamos fazendo." O Estado apurou que o objetivo foi afastar qualquer especulação de que medidas antidemocráticas estariam sendo planejadas pelo governo com o apoio das Forças Armadas.
Vários ministros do Supremo e políticos condenaram a atitude do presidente. O PGR pediu ao Supremo a abertura de um inquérito para apurar quem convocou o evento que pregava o fim da democracia. Diante disso, várias conversas e reuniões, inclusive entre o presidente e alguns ministros, foram realizadas entre domingo e segunda. Na pauta, a avaliação de estratégias para contornar a nova crise que, mais uma vez, atrapalharia o foco do governo, que deveria ser se concentrar em atacar o novo coronavírus.
Na manhã desta segunda-feira, o presidente atendeu a um apelo dos militares ao afirmar, em entrevista coletiva, que não defendeu medidas antidemocráticas e, pela primeira vez, repreender, na frente das câmeras, uma apoiador que pediu o fechamento dos demais poderes.