"Trump só não geriu a pandemia pior que o mini-Trump brasileiro"

Republicano de longa data, Tim Miller agora lidera movimento anti-Trump que visa impedir a reeleição do presidente americano

15 jul 2020 - 12h00
(atualizado às 15h06)

Diretor político do projeto Republican Voters Against Trump (Eleitores Republicanos contra Trump), Tim Miller afirma que a presidência de Donald Trump tem sido um "desastre absoluto em todos os sentidos imagináveis" e que sua reeleição mergulharia os Estados Unidos num período de "intensa turbulência".

Miller foi assessor de comunicação da campanha de Jeb Bush na corrida primária republicana de 2016 e trabalhou para vários republicanos de destaque, incluindo o candidato presidencial de 2008 John McCain.

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Em entrevista à DW, Miller fala sobre as perspectivas para o Partido Republicano e o momento atual vivido pelos EUA, afirmando que Trump "administrou a pandemia pior do que qualquer outro líder no mundo, com exceção, talvez, do mini-Trump no Brasil (o presidente Jair Bolsonaro)".

"Trump tem sido um fracasso total, e estou feliz por fazer parte dos esforços para me livrar dele", diz Tim Miller
"Trump tem sido um fracasso total, e estou feliz por fazer parte dos esforços para me livrar dele", diz Tim Miller
Foto: DW / Deutsche Welle

DW: Há quanto tempo o senhor é republicano?

Tim Miller: Desde criança. Minha vida inteira. Comecei a me envolver com a política no ensino médio e me identifiquei como republicano na época. Lembro-me de prestar muita atenção às primárias [para presidente] de 1996 e, em seguida, consegui um emprego como estagiário na campanha de um governador republicano no Colorado, em 1998.

Em 2016, ano em que Donald Trump foi eleito, o senhor trabalhou na campanha primária presidencial do republicano Jeb Bush. Qual foi sua impressão inicial de Trump concorrendo à presidência?

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Não achei que ele pudesse vencer. Pensei que fosse uma piada. No final das contas, eu estava errado, obviamente. Seus números nas pesquisas estavam indo bem e ele vinha tendo um grande impacto na condução da narrativa da campanha. No meio do ano, então, decidimos levá-lo mais a sério.

Por que o senhor não queria que ele vencesse?

Por tudo o que se possa imaginar sobre Donald Trump. Sua plataforma inicial de envolvimento na política foi fazer avançar a teoria da conspiração racista de que Barack Obama nascera na África. Achei isso nojento. Ao anunciar sua candidatura, ele incluiu no discurso ataques racistas contra mexicanos, [descrevendo-os] como estupradores e criminosos. Obviamente, ele não é qualificado para o cargo, por qualquer ângulo que se olhe. Em termos de caráter pessoal, ele está abaixo do que eu achava que deveríamos esperar para um presidente.

Em quem o senhor votou nas eleições presidenciais gerais de 2016?

Decidi, na última semana, votar em Hillary [Clinton, a candidata democrata]. Inicialmente, eu fui convencido de que talvez devesse haver um candidato de um terceiro partido. Mas concluí que Donald Trump era uma ameaça muito grande para o país para votar em alguém que não teria a melhor chance de derrotá-lo. Então votei em Hillary.

O que o senhor acha de Donald Trump hoje e de sua presidência até agora?

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Tem sido um desastre absoluto em todos os sentidos imagináveis. Ele degradou o cargo da presidência para um nível que seria inimaginável há cinco anos. Ele arruinou nossas alianças com nossos aliados no exterior, como a Alemanha, enquanto se aproximava dos ditadores mais grotescos do mundo, de Kim Jong-un [na Coreia do Norte] a Erdogan [na Turquia], Xi [na China] e Putin [na Rússia]. Esses são seus aliados, os autocratas, e não as nações democráticas que deveriam ser aliadas da América pelo mundo.

Ele errou e administrou mal a pandemia do [coronavírus], pior do que qualquer outro líder no mundo, com exceção, talvez, do mini-Trump no Brasil [o presidente Jair Bolsonaro].

Trump não tem demonstrado nenhum interesse em levar o trabalho a sério. Ele exacerbou ainda mais as tensões raciais neste país. Ele é o primeiro presidente, durante a minha vida, que nem sequer tem tentado unir ou acalmar o país em um momento de divisão racial.

Ele tem sido um fracasso total, e estou feliz por fazer parte dos esforços para me livrar dele. Estou ansioso para votar em Joe Biden.

Até que ponto o senhor considera Donald Trump um republicano?

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Ele está muito longe dos republicanos liberais clássicos com os quais eu me identifiquei quando jovem. Não acho que ele seja nada parecido com George H. W. Bush ou Ronald Reagan. Obviamente, ele compartilha certas posições políticas com o passado republicano, sobre impostos e coisas do gênero. Mas, no que diz respeito aos valores fundamentais do partido, ele está em conflito com o que acredito que sejam esses valores. Embora agora eu ache que o partido está mudando, e provavelmente para pior por causa dele.

Quais seriam esses valores republicanos?

A dignidade individual é uma. Mercados livres e pessoas livres. Donald Trump é hostil ao livre comércio. Ele não é um aliado para libertar as pessoas ao redor do mundo, como os republicanos foram no passado. Acho que ele só se importa com a liberdade de seus próprios apoiadores, os brancos.

Como o senhor vê as chances de reeleição de Trump?

Sabe, fiz um mau trabalho ao prever da última vez. Acho que estamos muito longe das eleições, estamos em tempos incertos, e, por isso, prever agora o que vai acontecer em novembro é tolice.

O que significaria a reeleição de Trump para o Partido Republicano e para o país?

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Se Trump for reeleito, o Partido Republicano será um partido essencialmente nativista e trumpiano no futuro próximo. Acho que o país sofreria grandes danos nos próximos quatro anos. Acredito que nossa posição de líder mundial, que sofreu uma grande erosão nos últimos quatro anos, desapareceria se Trump ficasse por mais quatro anos. Acho que isso criaria um período de intensa turbulência no país e que o extremismo à esquerda e à direita aumentaria em resposta a um segundo mandato de Trump.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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