O primeiro dia de vacinação contra o coronavírus em crianças de 5 a 11 anos com comorbidades e deficiência teve baixa procura na cidade de São Paulo. Na segunda-feira, 17, 6.663 doses pediátricas da Pfizer foram aplicadas, conforme a Secretaria Municipal de Saúde. A capital paulista, porém, havia recebido 64.090 unidades do imunizante. Médicos reforçam que o produto é seguro e eficaz contra o coronavírus. Embora não seja o grupo mais vulnerável à doença, crianças também têm risco de agravamento e a vacinação ajuda ainda a frear a transmissão.
O balanço de doses aplicadas no primeiro dia equivale a cerca de 2,8% do total do público-alvo prioritário. Segundo a Prefeitura, há cerca de 236 mil de crianças com comorbidade. Nesta terça-feira, o Município recebeu novo lote do Ministério da Saúde, com 74.730 doses. O imunizante está disponível nas 469 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Assistências Médicas Ambulatoriais AMAs/UBSs Integradas, das 8h às 19h.
Procurada para comentar sobre a baixa procura, a Secretaria Municipal de Saúde não se manifestou. O Município disse apenas ter ampliado nesta terça a lista de crianças com comorbidade aptas a receber a injeção, mas não falou em abrir a vacinação para outros públicos. A aplicação de doses em crianças sem comorbidade ou deficiência está prevista só para fevereiro.
Já na segunda, a Prefeitura abriu cadastro para xepa da vacina, em que pais de crianças sem comorbidade podem entrar em um cadastro. Caso sobrem frascos de imunizante abertos no fim do dia, elas são convocadas pelo posto de saúde para receber a injeção, com o objetivo de evitar desperdício. Das doses aplicadas, segundo a pasta municipal, 730 eram remanescentes.
Presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi diz não saber qual era a meta de São Paulo na campanha, mas acredita que o número de vacinados foi "pequeno". Ela atribui o fato, principalmente, à desinformação. "Realmente essas crianças (do grupo prioritário) deveriam estar bem orientadas pelos médicos que as acompanham. São crianças que têm atendimento especial. Acho surpreendente", destaca.
Para ela, os motivos que explicam o cenário ainda devem ser investigados a fundo, mas ela relembra estímulos à hesitação promovidos, principalmente, pelo governo Jair Bolsonaro. "Uma campanha de vacinação infantil em que se destaca a não obrigatoriedade, em que você cria uma pesquisa de opinião pública, e depois uma audiência onde você dá voz ao antivacinismo, vai precisar de um esforço muito grande para dar certo", continua a pediatra.
Para vencer o desafio da baixa procura, Mônica diz que os melhores caminhos são a informação qualificada e o diálogo com os pais que têm preocupações. "Não dá pra entrar numa guerra, numa briga. Vamos convencer orientando, explicando. É cansativo, mas é a melhor forma de reverter esse cenário, porque o brasileiro por histórico gosta de vacina e acredita em vacina."
Para o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, por ser uma campanha destinada a um público muito específico, não era de se esperar "adesão tão grande assim". "Quando você abre a vacinação e convoca uma população em geral, a adesão é outra. Estamos falando de um grupo só de alto risco. A vacinação será muito lenta neste começo, enquanto não liberarmos as portas para toda a população", aponta.
Para serem vacinadas, as crianças devem estar acompanhadas por um responsável maior de 18 anos e apresentar documento de identificação (preferencialmente CPF); carteira de vacinação; comprovante da comorbidade (exames, receitas, relatório ou prescrição médica físicos ou digitais, contendo o CRM do médico e emitido há no máximo dois anos) ou da deficiência permanente (laudo médico, cartão de gratuidade no transporte público, documentos comprobatórios de atendimento em centros de reabilitação ou unidades especializadas ou documento oficial de identidade com a indicação da deficiência).
Imunizante é seguro e usado em mais de 40 países
A vacinação contra a covid-19 começou no País nesta sexta-feira, 14, quase um mês após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dar aval ao imunizante da Pfizer. Contrário à vacinação, o governo Jair Bolsonaro colocou em xeque a segurança e a eficácia da vacina e convocou uma consulta pública sobre o assunto. O produto é recomendado por médicos e cientistas. A imunização contra covid de crianças já é realidade em mais de 40 países.