Vídeo contra isolamento foi "experimental", diz Planalto

Peça, que reforça discurso do presidente Jair Bolsonaro, é compartilhada pelo senador Flávio Bolsonaro e circula em grupos bolsonaristas

27 mar 2020 - 19h20
(atualizado às 20h06)
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em frente ao Palácio do Planalto durante manifestação, já em meio à epidemia do coronavírus 
15/03/2020
REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em frente ao Palácio do Planalto durante manifestação, já em meio à epidemia do coronavírus 15/03/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Quase 24 horas após a divulgação de um vídeo com a campanha o "Brasil não pode parar" contra medidas de isolamento, o Palácio do Planalto divulgou, na tarde desta sexta-feira, que o material foi produzido "caráter experimental".

A peça publicitária reforça o discurso do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento ao coronavírus e contraria as recomendações das autoridades sanitárias. Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação (Secom) disse que o vídeo, que defende a flexibilidade do isolamento social, não ainda não havia sido avaliado pelo governo e teve "custo zero."

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"A peça seria proposta inicial para possível uso nas redes sociais, que teria que passar pelo crivo do governo. Não chegou a ser aprovada e tampouco veiculada em qualquer canal oficial do Governo Federal", justifica a nota.

O vídeo, no entanto, foi compartilhada senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, na noite de quinta-feira, 26. No mesmo horário, a campanha começou a circular em grupos bolsonaristas no WhatsApp. Integrantes do governo também enviaram o material para seus contatos.

Apesar de não ter sido publicado em canais oficiais do Executivo, a peça tem a marca do governo federal ("Pátria Amada Brasil") e usa a hashtag #OBrasilNãoPodeParar. No dia 25, a mesma hashtag foi usada em uma publicação no perfil do Instagram da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), chefiada por Fabio Wajngarten.

A postagem segue a mesma linha do argumento do vídeo. "A quase totalidade dos óbitos se deu com idosos. Portanto, é preciso proteger estas pessoas e todos os integrantes dos grupos de risco, com todo cuidado, carinho e respeito. Para estes, o isolamento. Para todos os demais, distanciamento, atenção redobrada e muita responsabilidade. Vamos, com cuidado e consciência, voltar à normalidade", diz o texto.

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Apesar disso, em nota, a Secom afirmou "que não há qualquer campanha do Governo Federal com a mensagem do vídeo sendo veiculada por enquanto, e, portanto, não houve qualquer gasto ou custo neste sentido."

Integrantes do Palácio do Planato atribuem divulgação a um vazamento

Integrantes do Palácio do Planalto atribuíram a divulgação do vídeo a um vazamento. A versão que circula no governo é que uma pessoa envolvida no processo de produção divulgou o material enquanto ele ainda estava sendo avaliado.

Segundo a narrativa adotada pelo governo, seria esta mesma pessoa que teve a ideia de produzir o vídeo depois do pronunciamento do presidente Bolsonaro na terça-feira, 24, no qual pediu para as pessoas voltarem "à normalidade" mesmo diante da escalada dos casos do novo coronavírus. A identidade do responsável, no entanto, tem sido mantida em segredo.

O Ministério da Saúde ainda não adotou uma diretriz pelo isolamento vertical, que restringe a circulação apenas idosos e pessoas doentes, conforme defende o presidente Bolsonaro. Medidas de quarentena têm sido tomadas por governos estaduais e municipais.

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O vídeo mostra cenas de trabalhadores em atividades com um narrador ao fundo repetindo o tema da campanha. "Para trabalhadores autônomos, o Brasil não pode parar. Para ambulantes, engenheiros, feirantes, arquitetos, pedreiros, advogados, professores particulares e prestadores de serviço em geral, o Brasil não pode parar", diz a narração. O vídeo se encerra com a marca "Pátria Amada Brasil", adotada pelo governo Bolsonaro.

No comunicado, a Secom informou que o vídeo não tem relação com a contratação por R$ 4,9 milhões uma agência de publicidade sem licitação, conforme publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). A justificativa é "disseminar informações de interesse público à sociedade, por meio de desenvolvimento de ações de comunicação". A empresa contratada é a iComunicação Integrada.

Em nota, a iComunicação justificou que foi contratada de modo temporária para substituir a empresa Isobar, que deixou as contas do governo. A agência negou que ela tenha sido responsável pela campanha "O Brasil Não pode Parar."

"A empresa venceu contratação direta, com disputa de menor preço, por conta do encerramento das atividades da agência Isobar junto ao governo. Esta contratação temporária de seis meses está em negociação desde fevereiro desde ano. A empresa reforça que a campanha "O Brasil não pode parar" é trabalho de outra agência", informou.

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