Crivella filia Bolsonaros e negocia acordo para eleições

Prefeito busca aumentar popularidade; aliados do presidente querem apoio para candidaturas em cidades menores

9 abr 2020 - 05h10
(atualizado às 07h22)

Enquanto prefeitos e governadores têm criticado a postura do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), acena cada vez mais ao mandatário. Com baixos índices de popularidade, ele tenta ganhar força para a disputa eleitoral com a filiação de filhos do presidente ao seu partido.

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

A ida para o Republicanos do vereador Carlos Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro e da ex-mulher do presidente, Rogéria, envolveu negociações sobre candidaturas em 2020. Representantes do Aliança pelo Brasil, legenda que Bolsonaro pretende criar, usarão a sigla de Crivella como abrigo temporário enquanto o partido não sai do papel. Essa união eleitoral envolve, por exemplo, o apoio dos Bolsonaros a Crivella em troca de protagonismo de pessoas ligadas ao Aliança em outras cidades do Estado do Rio.

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Alguns deputados estaduais, como Dr. Serginho (Cabo Frio) e Alana Passos (Queimados), ambos do PSL, reivindicam encabeçar a chapa em seus municípios. O acordo também passa pela eleição de 2022, quando o prefeito e o bolsonarismo voltariam a estar juntos.

Com queda nos índices de popularidade, Crivella busca apoio para sua tentativa de reeleição. Na mais recente pesquisa Datafolha, publicada em dezembro, ele era rejeitado por 72% dos cariocas. Interlocutores do prefeito resistem a falar sobre a indicação do vice para a chapa, mas a tendência é de que a família Bolsonaro tenha poder para escolher o nome.

No início da semana, Crivella elogiou a condução da crise por Bolsonaro. "Nunca tivemos um presidente tão ciente de suas magnas responsabilidades", afirmou, na segunda-feira, durante transmissão ao vivo feita na sua página pessoal.

Entre os aliados de Crivella, há a convicção de que a chegada da família Bolsonaro ao Republicanos ajuda a legenda a acabar com o rótulo de "partido da Igreja Universal", sempre associada ao bispo Edir Macedo. Apoiador do presidente, ele é fundador e líder da igreja, além de tio do prefeito do Rio.

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Redes

A máquina digital dos bolsonaristas também é um ativo com o qual Crivella pretende contar na eleição. Conhecido pela atuação nas mídias sociais da Presidência da República, mesmo sendo vereador, Carlos Bolsonaro teria um papel importante nesse ponto.

Sites conhecidos por publicar textos favoráveis ao presidente já começaram a citar positivamente o prefeito. Um deles, que chegou a ter um link sobre a hidroxicloroquina compartilhado por Bolsonaro, publicou no início da semana: "Enquanto Crivella anuncia que doará o próprio salário para combater a covid-19, a imprensa se cala".

A aproximação entre Crivella e o presidente não vem de hoje. Em outubro do ano passado, a prefeitura nomeou para a Secretaria de Ordem Pública o ex-árbitro de futebol Gutemberg Fonseca, ligado a Flávio Bolsonaro. Ele chegou a ser secretário de Governo na gestão de Wilson Witzel (PSC), ex-aliado e atualmente um dos adversários do presidente.

Em meio à pandemia do coronavírus, contudo, o prefeito se equilibra entre a aliança política com a família presidencial e o compromisso com as medidas restritivas para evitar a proliferação da doença. Chegou a ventilar uma reabertura do comércio, mas a ideia não foi colocada no papel. O mesmo ocorreu com as escolas municipais. Cinco secretários do prefeito, incluindo a responsável pela Saúde, receberam diagnóstico de covid-19. Crivella fez o teste rápido da doença, que deu negativo.

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