Da corrupção à ideologia de gênero, Bolsonaro repete mentiras no Sete de Setembro

7 set 2022 - 13h41
Jair Bolsonaro elogiou Michelle Bolsonaro durante discurso em Brasília
Jair Bolsonaro elogiou Michelle Bolsonaro durante discurso em Brasília
Foto: Leo Bahia/FotoArena / Estadão

O presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), voltou a dizer nesta quarta-feira (7) que não existem casos de corrupção em seu governo, o que é mentira. Também disse combater a "ideologia de gênero", expressão usada em teorias da conspiração promovidas por setores religiosos conservadores. Em discurso durante o desfile de comemoração dos 200 anos de independência do Brasil, em Brasília, ele ainda falou de inflação, aborto e pandemia.

A reportagem do Aos Fatos está aberta a contestações da assessoria do Planalto e registrará o outro lado caso necessário.

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A íntegra da transcrição do discurso foi feita automaticamente pelo Escriba e revisada pela equipe do Aos Fatos. –

Veio uma pandemia. Lamentamos as mortes.

A declaração é contraditória, já que, durante a pandemia de Covid-19, o presidente acumulou episódios em que minimizou a letalidade da doença e debochou de vítimas. Em abril de 2020, ao ser questionado sobre a escalada de mortes pela infecção, Bolsonaro afirmou: “Eu não sou coveiro, tá certo?”. O presidente também associou a doença a uma “gripezinha” e criticou medidas de proteção, chegando a afirmar que o Brasil não deveria ser um “país de maricas”. Em duas lives em 2021, ele imitou pessoas com falta de ar para criticar protocolos adotados por seu ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Em algumas situações, o presidente chegou a lamentar as mortes, mas ponderou que elas poderiam ter sido evitadas com remédios que não se provaram eficazes contra a Covid-19. “Lamento todos os óbitos. Lamento muito. Qualquer óbito é uma dor na família. E nós, desde o começo, o governo federal teve coragem de falar em tratamento precoce”, disse em entrevista dois dias depois de o Brasil atingir 500 mil óbitos, em junho de 2021.

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Com uma gasolina entre as mais baratas do mundo.

O Brasil tem atualmente a 36ª gasolina mais barata entre 168 países analisados, de acordo com o site Global Petrol Prices, que lista os valores dos combustíveis no mundo. Em 5 de setembro, o insumo custava, em média, US$ 1,019 por litro, acima do cobrado em países como Bolívia (US$ 0,542), Colômbia (US$ 0,557) e Emirados Árabes (US$ 0,898), mas abaixo da média mundial, de US$ 1,34.

Com o recorde na criação de empregos.

Um relatório divulgado pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) no final de agosto mostra que o Brasil registrou um estoque de 42,2 milhões de empregos formais, o maior da série histórica do levantamento. Isso, no entanto, não permite afirmar que houve recorde na criação de empregos, porque a base de dados sofreu mudanças metodológicas em janeiro de 2020, o que impede a comparação com anos anteriores. A partir daquela data, o Caged passou a considerar outras fontes e a captar mais dados. Os registros de trabalhadores temporários, por exemplo, eram opcionais até 2020 e agora são obrigatórios, permitindo uma contabilização mais precisa.

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Somos uma pátria majoritariamente cristã,

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em janeiro de 2022, a grande maioria dos brasileiros se declara cristã, sendo 51% católicos e 26% evangélicos, entre outras denominações do cristianismo.

... que não quer a liberação das drogas, ...

É verdade que a população brasileira é resistente à liberação das drogas. Uma pesquisa de 2019 do instituto Ipsos, que avaliou 29 países, mostra que apenas 24% é favorável ao uso recreativo legal da maconha. Já um estudo publicado pelo Senado em 2014 apontou que somente 9% dos brasileiros eram favoráveis à liberação da maconha para qualquer finalidade.

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... não quer legalização do aborto, ...

De fato, a maioria da população brasileira é contrária à legalização do aborto, segundo duas pesquisas publicadas em maio. Levantamento do PoderData apontou que 59% dos entrevistados são contra a interrupção voluntária da gravidez. Já o Datafolha indicou que 39% acreditam que a legislação deve permanecer como está — ou seja, com permissão somente em casos de estupro, risco para a mãe e anencefalia do feto — e outros 32% afirmaram que a medida deve ser proibida em qualquer caso. A mesma pesquisa apontou que 18% são favoráveis ao aborto em mais situações do que as previstas em lei, e que 8% concordam com a interrupção da gravidez em qualquer situação.

... que não admite a ideologia de gênero.

O termo “ideologia de gênero” é usado por setores religiosos conservadores desde o final dos anos 1990 para criticar discussões relacionadas a gênero e sexualidade e serve de base para uma teoria da conspiração sobre um plano para minar a heterossexualidade e a família cristã. Além disso, uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Cenpec (Centro de Pesquisas e Estudos Em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e pela Ação Educativa, publicada em julho de 2022, indica que a maioria dos brasileiros acredita que questões de gênero e sexualidade devem ser debatidas em sala de aula. Quando questionados sobre se as escolas devem promover o direito de as pessoas viverem livremente sua sexualidade, sejam elas heterossexuais ou LGBTQIA+, 66% disseram concordar totalmente com a afirmação e 15% concordar em parte. Entre os entrevistados, 71% disseram concordar que a escola está mais preparada do que os pais para explicar temas como sexualidade e puberdade. A pesquisa foi realizada com 2.090 brasileiros, com idades entre 16 anos ou mais, em 130 municípios do país, de 8 a 15 de março deste ano.

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... e que combate a corrupção para valer.

Os exemplos de interferência política em órgãos de investigação e as suspeitas de corrupção no governo, corroboradas por depoimentos e documentos, tornam a declaração de Bolsonaro FALSA. Desde o início do mandato, o presidente já determinou cinco vezes a troca do diretor-geral da Polícia Federal e substituiu delegados responsáveis por investigações sobre ele ou membros de sua família. O procurador-geral da República, Augusto Aras, arquivou 104 pedidos de investigação contra o presidente até o fim de julho, segundo levantamento do UOL. Durante o governo Bolsonaro, o Brasil também perdeu posições no CCC (Índice de Capacidade de Combate à Corrupção), elaborado pela Americas Society/Council of the Americas. O último relatório, publicado em junho deste ano, mostra o país em 10º lugar na América do Sul. O documento aponta como recuos no combate à corrupção as tentativas do presidente de controlar órgãos de investigação e os cortes orçamentários de agências anticorrupção independentes. Sobre os casos de corrupção na atual gestão, uma série de membros e ex-membros do governo são investigados por delitos ligados à administração pública, como o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL). Referências:

1. G1

2. Poder360

3. Global Petrol Prices

4. Ministério do Trabalho e Emprego

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5. Caged

6. Folha

7. O Globo

8. Senado

9. Poder360

10. Folha

11. Aos Fatos

12. Folha

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13. AS/COA

14. UOL

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