A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, exonerou Paulo Roberto de Mendonça e Paula, responsável por assinar um contrato de R$ 7 milhões com uma empresa de tecnologia suspeita de ser usada como laranja para desviar dinheiro dos cofres públicos. Mendonça é aliado do deputado federal Osmar Terra (MDB-PR), demitido nesta quinta, 13, do Ministério da Cidadania. Segundo publicação no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 14, a saída de Mendonça do cargo de subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração foi a pedido dele.
O desligamento ocorre um dia depois de o Estado mostrar que, apesar de Terra ter afirmado que demitiu toda a equipe responsável por contratar a Business to Technology (B2T) no Ministério da Cidadania, quatro funcionários continuavam com cargos no governo. A pasta que era comandada por Terra fez a contratação mesmo após alertas feitos por duas empresas concorrentes e por órgãos de controle sobre suspeitas de irregularidades envolvento a B2T.
Na semana passada, a empresa foi alvo da Operação Gaveteiro, da Polícia Federal, que investiga o desvio de R$ 50 milhões do extinto Ministério do Trabalho entre 2016 e 2018, na gestão de Michel Temer.
O contrato com o ministério, hoje comandado por Onyx Lorenzoni, foi assinado em 19 de julho de 2019, no valor total de R$ 6,9 milhões. Na época, Mendonça era subsecretário de Assuntos Administrativos da pasta. No dia 25 de setembro de 2019, o ministro assinou uma portaria que o promoveu para diretor de programa e, dois meses depois, o exonerou da sua pasta.
No dia 1º de novembro, porém, Mendonça ganhou novo cargo no governo, de subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração no ministério de Damares. O salário dele continuou o mesmo: R$ 13 mil. Ele respondia diretamente para a secretaria executiva, segundo cargo mais importante da pasta.
Ao ser procurado na última sexta-feira, por telefone, Mendonça chegou a afirmar ao Estado que não tinha mais qualquer vínculo com o governo. A exoneração, porém, só foi publicada hoje, uma semana depois.
Investigação
O Estado apurou que a PF deve incluir o contrato com a pasta da Cidadania em uma nova fase da Operação Gaveteiro. Na primeira etapa, deflagrada na semana passada, o foco foi o contrato firmado pelo Ministério do Trabalho. Os sócios da B2T estão entre os investigados.
Procurado desde a terça-feira da semana passada, Terra se manifestou pela primeira vez sobre o caso na quarta-feira, somente após ser cobrado pelo presidente Jair Bolsonaro. Em nota, ele afirmou ter afastado todos os responsáveis pela contratação e pedido um pente-fino em todos os contratos da área de tecnologia. Na montagem do governo, Terra foi indicado para a Cidadania pelo ministro Onyx Lorenzoni, então todo-poderoso titular da Casa Civil, que agora o substituirá no cargo. Os dois são gaúchos.
A reportagem tenta contato com a B2T desde a última semana, mas ninguém da empresa foi encontrado para falar a respeito das suspeitas da PF e do contrato com a pasta. No endereço em Brasília informado pela firma, ela não funciona.