Em depoimento à Polícia Federal para esclarecer sua denúncia sobre um novo plano golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Marcos Do Val (Podemos-ES) afirmou que Bolsonaro lhe disse que aguardaria sua resposta, aceitando ou recusando participar da armação criminosa para gravar ilegalmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
"O único momento em que o ex-presidente se manifestou foi quando o depoente disse que precisaria de alguns dias pra dar a resposta, quando o ex-presidente respondeu que o aguardaria", afirmou o senador à PF.
Do Val prestou depoimento depois que revelou em entrevistas e em uma live na internet que foi "coagido" por Bolsonaro a tentar dar um "golpe de Estado" para reverter o resultado da eleição presidencial de 2022, em mais uma tentativa do ex-presidente de ficar no poder.
Se verdadeira, a versão de Do Val, exposta à PF, não deixa de complicar Bolsonaro. O senador afirmou aos policiais que em nenhum momento o ex-presidente tentou se opor ou evitar a realização da armação para gravar criminosamente conversas com Moraes.
"Em nenhum momento o ex-presidente negou o plano ou mostrou contrariedade ao plano", afirmou Do Val em depoimento prestado aos delegados Dhiego Almeida e Cinthya Domingues nesta terça-feira (2).
Pouco depois de denunciar a suposta coação praticada por Bolsonaro, Do Val conversou com o senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, e passou a negar ter sido coagido.
Para a Polícia Federal, Do Val repetiu o recuo exposto durante o dia em entrevistas. O senador quis plantar a versão na PF de que Bolsonaro ficou praticamente calado na reunião, enquanto Silveira era quem expunha e articulava todo o esquema para gravar ilegalmente Moraes.
Do Val afirmou aos policiais que "durante toda a conversa o ex-presidente manteve-se calado" e que teve "a sensação de que o presidente não sabia do assunto".
Mas, quando questionado, o senador alegou que em nenhum momento Bolsonaro se opôs à empreitada criminosa. A versão de Do Val é, portanto, insuficiente para proteger o ex-presidente, porque Bolsonaro sabia e até se interessou pela armação criminosa, de acordo com o depoimento prestado à PF.
Ao falar de como supostamente avisou o ministro do STF sobre o plano do ex-presidente para "invalidar eleições, manter Bolsonaro no poder e prender Moraes", o senador alegou que a reação do ministro foi "uma expressão de surpresa pelo absurdo da situação".