De noiva assassinada a cidade submersa: às margens da freeway, Lagoa dos Barros é um dos locais mais misteriosos do RS

Para moradores e viajantes, cada aparição, acidente ou som estranho na lagoa carrega o peso dessas lendas, perpetuando o mistério de um dos locais mais enigmáticos do sul do Brasil

15 jan 2025 - 22h33

Uma visão no mínimo intrigante para quem está indo para o Litoral Norte: uma grande lagoa sem barcos nem pescadores. Algo incomum, julgando o tamanho do corpo d'água. Através das janelas dos carros, as curiosas crianças frequentemente levantam questões a respeito do local. Os pais já ouviram falar de alguma coisa e, para entreter a viagem, contam a história da Noiva da Lagoa dos Barros. Alguns mais versados em lendas urbanas também podem ter conhecimento do redemoinho mortal e até mesmo da cidade submersa. 

Foto: Reprodução / Porto Alegre 24 horas

Localizada no Litoral Norte, a lagoa é cercada por histórias e mistérios que atravessam gerações. Dona de uma beleza discreta, o local esconde lendas. Estas histórias começaram a ganhar força a partir de um crime brutal da década de 1940, quando a jovem Maria Luíza Haüssler foi assassinada pelo noivo, Heinz, próximo à antiga usina Açúcar Gaúcho S/A (Agasa). Desde então, caminhoneiros afirmam avistar o fantasma da noiva às margens da rodovia, alimentando a aura de mistério do lugar.

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O caso voltou aos holofotes em 2019 após a descoberta de documentos do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que estavam esquecidos em arquivos antigos. Dentre eles, laudos periciais e recortes de jornal da época, confirmando detalhes macabros do crime: Maria Luíza foi encontrada na lagoa com os pés amarrados por seu casaco e tijolos presos ao pescoço. Heinz, que cumpriu apenas metade de uma pena de 12 anos, negou a autoria do crime até sua morte. A narrativa, recheada de elementos dramáticos, se tornou uma das maiores lendas urbanas do estado, com relatos que vão desde caminhoneiros evitando a estrada até histórias de acidentes atribuídos à aparição da noiva.

Além dessa história trágica, outros mistérios pairam sobre a lagoa. Moradores e visitantes falam de um redemoinho mortal que impede a navegação, enquanto lendas mais fantásticas sugerem a presença de um monstro semelhante ao de Loch Ness ou uma cidade submersa cuja igreja emergiria em tempos de seca. O local é tão peculiar que, próximo à antiga usina Agasa, bússolas perdem sua funcionalidade, reforçando o temor popular.

A lagoa também carrega histórias de sobrevivência, como a de Beto do Daer, que em 1990 quase perdeu a vida em uma tempestade enquanto pescava. Após uma luta de horas contra ventos intensos e nevoeiro, ele prometeu nunca mais voltar à lagoa. Para muitos locais, o respeito pelas lendas é sagrado. Até mesmo instrutores de esportes aquáticos evitam navegar pelo centro do lago e oferecem oferendas à noiva, como forma de evitar infortúnios.

Com cerca de 100 km² de extensão e profundidade de até sete metros, a Lagoa dos Barros é tão imensa que alguns acreditam em uma ligação subterrânea com o mar, teoria reforçada por vestígios marinhos encontrados na área. Pesquisadores, contudo, apontam para uma formação natural ligada a um período em que a lagoa fazia parte de uma grande baía. Apesar das explicações científicas, as histórias continuam fascinando e assustando quem passa pela região.

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A Lagoa dos Barros é um exemplo de como crimes reais, fenômenos naturais e a imaginação popular podem se fundir para criar narrativas que atravessam gerações. Para moradores e viajantes, cada aparição, acidente ou som estranho na lagoa carrega o peso dessas lendas, perpetuando o mistério de um dos locais mais enigmáticos do sul do Brasil.

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