O deputado estadual Anderson Moraes (PSL-RJ), um dos maiores defensores do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), atendeu nesta sexta-feira, 20, um telefone celular registrado em nome de Alexandre Ferreira Dias Santini, sócio de Flávio Bolsonaro numa loja de chocolates investigada pelo Ministério Público. A empresa foi alvo de mandado de busca e apreensão na terça-feira, durante operação do MP para investigar um suposto esquema de 'rachadinha' na Alerj.
Procurado pela reportagem em seu próprio telefone, o deputado argumentou que estava tomando um café com Santini, que é seu amigo, e atendeu à ligação porque o sócio de Flávio não quer dar entrevistas. Segundo ele, era uma brincadeira.
No primeiro telefonema, a reportagem perguntou se quem estava na linha era Alexandre. A pessoa que atendeu se apresentou como "o deputado Anderson Moraes". A voz era, de fato, a do parlamentar. Ele tem em seu gabinete quadros com fotos de Flávio e Jair Bolsonaro, cujo governo defende com entusiasmo.
Em uma segunda ligação para o mesmo número, outro homem atendeu — com o mesmo ruído ambiente ao fundo. Disse que falava do "puteiro (sic) Santa Maria". E desligou em seguida.
Após as duas ligações para o número registrado em nome de Santini, a reportagem telefonou para outro número, que é oficialmente do deputado. O parlamentar atendeu e, ao ouvir o relato da reportagem, pediu para explicar a situação por escrito, por meio do aplicativo WhatsApp. Inicialmente, porém, não respondeu à mensagem enviada.
O Estado, então, procurou a assessoria de imprensa do bolsonarista. A assessoria confirmou que foi o parlamentar quem atendeu à ligação. Explicou que o número é de Santini, de quem Anderson seria amigo. Os dois tomavam café quando o jornal telefonou. Como o sócio de Flávio está evitando dar entrevistas, Anderson atendeu para fazer uma brincadeira.
No início da noite, o deputado ligou para o repórter e confirmou a versão da brincadeira.
Suspeita de peculato
A investigação sobre a suposta prática dos crimes de peculato (desvio de recursos públicos por servidor), lavagem de dinheiro e organização criminosa no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj apontou seis supostos núcleos. Um deles operaria um suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio de uma franquia da rede Kopenhagen em um shopping center na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca.
Segundo o Ministério Público, Santini seria um "laranja" usado por Flávio e sua mulher, Fernanda Antunes Bolsonaro. O casal injetaria dinheiro na Bolsotini para lavar (dar aparência de procedência legal a) recursos desviados pelo suposto esquema de "rachadinha" (desvio de salários em beneficio de Flavio, quando era deputado) na Alerj, de acordo com o MP.
Flávio nega ter cometido ilegalidades.