Deputados Católicos e evangélicos estudam atuação conjunta

Juntas, frentes parlamentares podem representar "bloco cristão" com 311 deputados

28 jan 2020 - 10h34
(atualizado às 11h03)

Em meio ao crescimento no Congresso Nacional - em número e influência - de parlamentares ligados ao cristianismo, líderes das frentes Evangélica e Católica Apostólica Romana afirmam o desejo de estreitar a "sinergia" entre os dois grupos. Em entrevista ao Estado, os deputados Francisco Júnior (PSD-GO) e Silas Câmara (Republicanos-AM) defendem que o diálogo entre ambas as frentes poderia ser maior e que há uma agenda em comum entre elas.

"Ainda não existe uma sintonia tão grande, mas eu quero que ela exista. A maioria dos valores que defendemos são cristãos, não são propriedade nem do católico e nem do evangélico", afirma Júnior, líder da frente católica. Para o deputado, a afinidade de pautas, principalmente aquelas ligadas aos costumes, gera uma atuação comum. "Os deputados se conhecem, vão conversando e, mesmo sem articulação, acabam indo na mesma direção."

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Esplanda dos Ministérios com o Congresso Nacional ao fundo, em Brasília
07/04/2010
REUTERS/Ricardo Moraes
Esplanda dos Ministérios com o Congresso Nacional ao fundo, em Brasília 07/04/2010 REUTERS/Ricardo Moraes
Foto: Reuters

Coordenador da frente evangélica, Silas Câmara também se diz favorável à criação de uma única frente cristã, mas exige empenho por parte dos deputados católicos nessa articulação. "Eles podem construir isso conosco. Podemos sim avançar para uma frente cristã comum."

Juntas, as frentes parlamentares Evangélica e Católica reúnem 311 deputados, dos quais 98 estão presentes em ambos os grupos, segundo levantamento feito pelo Estado. Na eventual junção de um único bloco cristão, a frente ficaria entre as cinco maiores do Congresso, atrás apenas das Defesa de Furnas (387), Justiça Notarial e Registral (333), Educação (312) e empatada com a de Defesa dos Municípios Brasileiros.

Embora ligeiramente menor em número, a bancada evangélica, com 200 deputados, alcança mobilização maior em torno dos projetos que defende ou se opõe. "A maioria dos deputados se declara católica, mas não tem esse comprometimento com a Igreja. Não é uma frente religiosa, mas defende valores católicos", pondera Júnior.

Para o deputado, a atuação tímida da frente católica até aqui tem se destacado em pautas que atentem contra o "chavão" do grupo, como ele mesmo define: defesa da vida e da família. "Existe quase uma articulação constante e transversal em torno de temas calorosos, com relação a costumes", pontua, destacando o combate a pautas como aborto, eutanásia e o que ele chama de "ideologia da identidade de gênero". "Isso traz temas sempre polêmicos e presentes no Congresso", explica, citando como exemplo um projeto de lei proposto por Orlando Silva (PCdoB-BA), que visava aumentar o reconhecimento de famílias pelo Estado.

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Articulação diluída

De acordo com Silas, um das principais mobilizações da frente evangélica em 2020 será para um novo entendimento do Congresso sobre a LGBTfobia, que ano passado foi equiparada ao crime de racismo pelo STF. Simultaneamente, eles também pretendem frear o avanço sobre descriminalização das drogas na Suprema Corte, influenciar o marco do saneamento e se articular em torno da reforma tributária, retomando a discussão sobre imunidade tributária às igrejas, vetada em janeiro por Bolsonaro.

A frente católica, por sua vez, visa aumentar a "interlocução entre o voto católico e o Legislativo" em pautas maiores, como a reforma trabalhista, continuando um trabalho que já fizeram no pacote anticrime do ministro Sérgio Moro e na na reforma da Previdência : "Todos os deputados votaram a favor, mas melhoramos aspectos como a aposentadoria para viúvas, pessoas com deficiência e outros valores que consideramos fundamentais".

A tática geral, para ambas as frente, é tocar as pautas de costumes em paralelo à agenda econômica do governo e do Congresso, onde pretendem representar o interesse católico e evangélico.

Alinhamento com o Executivo

Embora seja católico autodeclarado, Jair Bolsonaro se aproximou da comunidade evangélica ainda na campanha de 2018, consolidando esse laço em seu primeiro ano de mandato. Em julho, durante culto realizado pela FPE na Câmara dos Deputados, Bolsonaro indagou se já "não estava na hora" de o Brasil ter um ministro do STF evangélico.

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"Poderei indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal. Um deles será terrivelmente evangélico", declarou o presidente, logo após a decisão da Suprema Corte de equiparar a discriminação com base em identidade de gênero e orientação sexual ao racismo.

Perguntado se o presidente privilegia os evangélicos em seu governo, Câmara refuta a afirmação, argumentando que boa parte da equipe ministerial e do Supremo é católica. "Para mim, essa ideia do presidente é uma amenização e uma justiça com os evangélicos, que já são mais de 20% da população", afirma.

Ele aponta que essa representatividade já está sendo vista no Congresso e, eventualmente, terá que chegar em outros espaços, como o Executivo e o Judiciário. Júnior, por sua vez, também afirma não se importar com a declaração do presidente, desde que o ministro em questão seja "terrivelmente evangélico e terrivelmente competente".

Apesar do alinhamento com a FPE, o deputado aponta que entre os 209 parlamentares da frente católica, ela abrange um grande espectro político e, no geral, acompanha bastante o governo. "Só não temos militantes de esquerda", afirma, apesar de o grupo contar com 17 parlamentares do PT, quatro do PCdoB e um do PSOL, de acordo com o site da Câmara. "A competência significa dar atenção ao que gerou a constituição. A nossa Constituição tem valores Cristãos muito sérios."

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