Pandemia de desinformação: fake news sobre Covid-19 colocam vidas em risco

Em época de Covid-19, disseminação de fake news pode colocar vidas em risco. Como escapar da pandemia de desinformação na internet?

19 jun 2020 - 12h34
(atualizado em 22/6/2020 às 00h55)

Sars-CoV-19 criado em laboratório pela China, mortes por outras causas sendo computadas como por Covid-19 e até mesmo curas milagrosas para a doença que parou o mundo. Essas são apenas algumas das informações incorretas sobre a pandemia que têm chegado a milhões de pessoas todos os dias, na onda de disseminação das fake news.

Foto: DINO / DINO

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), autoridade no Brasil e no mundo quando se trata de saúde pública, tem acompanhado a situação de perto. Um estudo, feito com conteúdos captados entre 17 de março e 10 de abril, revelou que 65% das fake news envolviam curas caseiras milagrosas (e não comprovadas pela ciência) para a Covid-19. 5,7% estão relacionadas a golpes bancários, 5% tratam de projetos falsos para arrecadar recursos destinados a instituições de pesquisa e 4,3% qualificam a doença como uma manobra política.

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Presentes há anos, fake news são especialmente graves durante a pandemia

Além dos conteúdos falsos veiculados pelas redes sociais, principalmente no WhatsApp, as autoridades de saúde de vários países têm se mostrado preocupadas com outro problema: o fato de que políticos e pessoas com altos cargos dentro de governos têm contribuído com a pandemia de desinformação.

Nos Estados Unidos, essa postura trouxe consequências fatais. Em abril, o presidente do país, Donald Trump, sugeriu que injeções de desinfetante promoveriam uma "limpeza interna" nos organismos das pessoas, ajudando a prevenir e a tratar a Covid-19. Nas 18 horas seguidas ao pronunciamento do presidente, a cidade de Nova Iorque registrou mais que o dobro de ocorrências de intoxicação pelo produto do que o normal. Os serviços de emergência de todo o país também receberam inúmeras ligações para confirmar a informação dada por Trump.

No Brasil, o governo federal tem sido acusado de manipular os dados de mortes e infecções por Covid-19 após anunciar mudanças em sua estratégia de divulgação. Em primeiro lugar, os dados seriam liberados apenas às 22h, em horário incompatível com a veiculação pela grande imprensa. O método de compilação de dados também seria alterado: em vez dos casos confirmados a cada dia, seriam contabilizados apenas os ocorridos na data. Com a demora no processamento dos testes, isso significaria que muitos casos deixariam de ser veiculados pelos meios de comunicação.

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Outro assunto que tem estado no centro do debate das fake news durante a pandemia de Covid-19 é o uso da Cloroquina, defendido por Donald Trump e Jair Bolsonaro. O uso do medicamento para tratar a doença, porém, não é unanimidade entre os médicos, e o seu consumo indiscriminado pode causar efeitos colaterais sérios, como problemas cardíacos. Ainda assim, diversas notícias falsas circulam pela internet, supostamente apresentando pessoas que foram totalmente curadas apenas por meio do uso dessa substância.

Compartilhamento de fake news pode trazer consequências legais

De acordo com especialistas, a mistura de medo da doença com o vácuo de informação causado pelo fato de o Sars-CoV-19 ser um vírus novo e com a contribuição de agentes públicos com a pandemia de desinformação cria um terreno particularmente fértil para a disseminação de fake news. Ainda assim, juristas relembram que o compartilhamento de tais conteúdos é extremamente prejudicial para a sociedade, e que pode haver inclusive consequências jurídicas pelo ato.

Por mais que não exista dispositivo específico na lei penal para punir os propagadores de boatos, existe um trecho da Lei de Contravenções Penais que vem sendo usado para coibir tal atitude. O artigo 41 da legislação qualifica como contravenção "provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto". O delito pode causar até seis meses de prisão ou, ao menos, serviços comunitários.

Assim, na dúvida, a melhor opção é não compartilhar, e, se possível, denunciar à plataforma onde o conteúdo suspeito está sendo veiculado. As principais redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram) já começaram a bloquear conteúdos que promovem a desinformação a partir da delação de seus usuários.

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Pandemia de Fake News: como se defender

O principal motivo pelo qual as fake news são tão compartilhadas é o fato de que elas passam por uma espécie de disfarce, induzindo quem as lê a crer que se trata de algo real. Apesar de isso dificultar a tarefa de identificar quais são os conteúdos verdadeiros e quais são os falsos, existem algumas evidências que ajudam na tarefa.

Em primeiro lugar, é preciso ficar atento ao contexto: qual é a data da notícia em questão? Muitas vezes, conteúdos verdadeiros são tirados do contexto no qual foram publicados. Além disso, notícias falsas não costumam fazer referências a datas concretas, usando palavras vagas como "hoje" ou "ontem".

Da mesma maneira, recursos chamativos, como emojis e caixa alta, devem ativar o alerta: textos jornalísticos sérios dificilmente fazem uso desses recursos. O mesmo se aplica a pedidos de máxima difusão: sempre que um conteúdo pedir que o usuário o compartilhe com o máximo de pessoas possível, é preciso suspeitar.

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