As iniciativas ainda são esparsas e tímidas, mas experiências de trabalho alternativas começam a ganhar espaço. Licença maternidade compartilhada com o pai, crianças pequenas nos escritórios, home office e pet day têm sido adotados como uma maneira de deixar o local de trabalho mais acolhedor para quem precisa de flexibilidade. Além disso, a carga horária está sendo repensada.
Uma pesquisa feita no Reino Unido pela vouchercloud perguntou a 1.989 funcionários de escritórios de vários setores produtivos no país: "se você tivesse que afirmar um número, quanto tempo acha que gasta trabalhando produtivamente durante a jornada de trabalho?" A resposta foi surpreendente: 2 horas e 53 minutos foi a média declarada. Mas o que os entrevistados estariam fazendo no resto do tempo?
Checando mídia social - 44 minutos
Lendo sites de notícias - 1 hora e 5 minutos
Discutindo atividades não relacionadas ao trabalho com colegas - 40 minutos
Preparando bebidas quentes - 17 minutos
Pausas para fumar - 23 minutos
Texto / mensagens instantâneas - 14 minutos
Comendo lanches - 8 minutos
Fazendo comida no escritório - 7 minutos
Ligando para o parceiro / amigos - 18 minutos
Procurando por novos empregos - 26 minutos
Foi pensando nisso que a Perpetual Guardian, empresa de serviços fiduciários, adotou uma jornada alternativa temporariamente: 8 horas diárias por 4 dias. Entre março e abril deste ano, a empresa situada na cidade de Auckland, na Nova Zelândia, permitiu que seus 240 colaboradores internos tivessem a oportunidade de executar o mesmo trabalho em menos tempo, sem redução do salário, e melhorassem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
O resultado, publicado no NZ Herald, informa que 78% dos funcionários disseram ter tido mais sucesso no equilíbrio cotidiano, melhora de 25% no percentual. Também houve redução de 7% no nível geral de estresse sem prejuízo da produtividade. A jornada reduzida não impactou no resultado financeiro do período e agora, o conselho estuda implementar a medida de maneira permanente.
Outro exemplo de experiência na área vem da Alemanha. No ano passado, a Rheingans Digital Enabler, empresa de tecnologia da informação localizada na cidade de Bielefeld, reduziu para 5 horas diárias sua jornada de trabalho, mantendo salário integral e mesmo período de férias para seus funcionários, que passaram a trabalhar das 8h às 13h. Neste período, atividades pessoais, ligações particulares, longas conversas e pausas para o café são desencorajadas. Outras empresas no país também começam a fazer testes com carga horária reduzida.
Legislação no Brasil e no mundo
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) informa que, na América Latina, no Oriente Médio e na Ásia predominam legislações que determinam jornadas de trabalho acima de 42 horas semanais. Enquanto na Argentina a carga máxima é de 48 horas, no México é de 42. Nos EUA, 38 horas semanais. Já na Europa, o mais comum é a jornada de trabalho de 40 horas semanais em média. No Reino Unido a legislação admite 48 horas, mas na França são 35.
No Brasil, a jornada de trabalho de 44 horas foi definida na Constituição Federal de 1988, com possibilidade de extensão por mais duas horas extras por dia, remuneradas com acréscimo de 50% sobre o salário acertado. Mas alguns setores da economia mantêm seus próprios acordos. Bancários, por exemplo, têm jornada semanal de 30 horas. Advogados, de 40 horas. Funcionários da área da saúde, no entanto, adotam plantões de 12 horas de trabalho, chegando a relatar 36 horas de serviço sem interrupções para descanso.
Com a Reforma Trabalhista aprovada em dezembro de 2017 pelo Senado, os contratos de trabalho podem ser flexibilizados em termos contratuais e a lei modifica substancialmente as possibilidades. A jornada de trabalho poderá ser de 12 horas diárias com períodos de descanso, desde que respeite o limite de 44 horas semanais (ou 48 horas, com as horas extras). O salário mínimo deixa de ser obrigatório na remuneração por produção, o home office passa a ser formalizado e a terceirização é possível para a atividade-fim, ampliando sua legalidade. Centrais sindicais têm trabalhado pela redução da carga horária tendo como base estudos como os que foram apresentados acima.
Segue, em aberto, a discussão sobre a jornada de trabalho mais eficiente. E você, acha que trabalharia com mais eficiência se tivesse uma jornada de trabalho mais curta?
Website: http://bluevisionbraskem.com/desenvolvimento-humano/pesquisa-sugere-que-reduzir-jornada-pode-gerar-mais-produtividade