É falso que fotos de yanomamis divulgadas na imprensa foram feitas na Venezuela

25 jan 2023 - 18h04

Não é verdade que o site Metrópoles e o jornal inglês The Guardian publicaram fotos de indígenas venezuelanos com desnutrição e os identificaram como yanomamis brasileiros para forjar uma crise, como alegam posts nas redes sociais. As duas fotos citadas — uma que mostra um homem deitado em uma maca e outra que retrata crianças sentadas no chão ao redor de panelas — de fato foram registradas em Roraima recentemente e mostram a crise sanitária que atinge o território Yanomami.

Posts que descontextualizam as imagens circulam principalmente no Facebook, onde já foram compartilhados mais de 1.000 vezes. O conteúdo também tem sido disseminado pelo WhatsApp (fale com a Fátima), plataforma em que não é possível estimar o alcance.

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Imprensa internacional desmente Lula. Guardian acusa ex-presidente brasileiro Bolsonaro de 'genocídio' indigenista - com uma foto de venezuelano.
Post alega, de forma enganosa, que foto usada pelo Guardian retrataria indígenas venezuelanos, não brasileiros
Post alega, de forma enganosa, que foto usada pelo Guardian retrataria indígenas venezuelanos, não brasileiros
Foto: Aos Fatos

Publicações nas redes sociais enganam ao sugerir que o jornal inglês The Guardian teria publicado uma foto de um indígena venezuelano para forjar uma crise do povo yanomami no Brasil e associá-la ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de genocídio segundo reportagem da última segunda-feira (23).

Ao contrário do que dizem os posts, a imagem veiculada pelo jornal inglês retrata um indígena brasileiro deitado em uma maca, divulgada à imprensa pelo Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana), que confirmou a informação ao Aos Fatos.

O presidente do conselho, Júnior Hekurari Yanomami, informou que a foto foi registrada na cidade de Alto Alegre (RR), dentro da Terra Indígena Yanomami.

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Print do G1 mostra que foto de indígena em maca foi divulgada pelo Condisi-YY.
Foto: Aos Fatos

Fome. Equipe médica atende indígena em estado crítico de desnutrição em território Yanomami (Reprodução/G1)

Elementos presentes na imagem desmentem a versão de que a cena teria sido registrada na Venezuela: é possível ver os logotipos do SUS (Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde e do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) nas roupas dos agentes de saúde presentes no local.

Essa imagem do Metrópoles, pode-se notar que o uniforme do profissional é da assistência PAN AMERICANA, que não atua no Brasil. Essa foto é na VENEZUELA.
Usuário no Facebook alega que foto de crianças indígenas teria sido registrada na Venezuela, o que é falso
Foto: Aos Fatos

Também circula descontextualizada uma foto que mostra um agente da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) perto de crianças yanomamis. A imagem foi registrada em Roraima, é de autoria de Antônio Alvarado e foi divulgada pela pela associação yanomami Urihi (veja abaixo). Em seu Instagram, Alvarado publicou outras fotos da missão de combate à desassistência dos povos yanomamis na região de Surucucu, em Roraima.

Legenda do UOL diz que autoria de foto de crianças yanomamis é do fotógrafo Antônio Álvaro.
Foto: Aos Fatos

Crianças. Imagem de crianças se alimentando foi registrada na região de Surucucu, em Roraima (Reprodução/UOL)

As publicações checadas ainda enganam ao dizer que a Opas não atua no Brasil. A organização é uma das parceiras na missão do Ministério da Saúde na região Yanomami, que teve início no dia 16 de janeiro. Participam também da ação a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a UFRR (Universidade Federal de Roraima), além de associações indígenas e órgãos dos ministérios dos Povos Indígenas e da Defesa.

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O homem que aparece com um colete da organização na foto é o médico brasileiro e pesquisador da Fiocruz André Siqueira, que foi enviado ao local pela Opas. Em entrevista à BBC Brasil, ele disse que ficou uma semana no polo-base Surucucu, em Roraima, mas atendeu outras comunidades da região. Outras fotos da mesma ocasião foram publicadas pela Urihi em seu Instagram oficial.

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Após a declaração de emergência sanitária pelo Ministério da Saúde, publicações nas redes sociais saíram em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para dizer que os indígenas seriam oriundos da Venezuela e vieram ao Brasil em busca de ajuda. A tese foi negada pelo órgão e vai contra as denúncias que ocorrem há anos na terra indígena localizada entre Roraima e Amazonas e que envolvem invasões de terras e destruição da floresta por meio do garimpo ilegal.

A falsa alegação também foi desmentida pela Agência Lupa.

Referências:

1. Twitter (@tomphillipsin)

2. G1

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3. UOL

4. Instagram (@antonioalvaradoc)

5. Governo federal

6. Fiocruz

7. BBC Brasil

8. Aos Fatos (1 e 2)

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