Daqui exatos 100 dias, alunas e alunos de todo o País estarão resolvendo a prova de maior importância de suas vidas - até agora. A pressão é enorme e vem de todos os lados. Nesta contagem regressiva para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que garante acesso às universidades públicas brasileiras e a algumas particulares, os alunos estão em busca de tornar os estudos mais objetivos, com foco na aprovação.
Pensando nisso, o Terra conversou com professores, especialistas em Enem e com um estudante que já entrou na faculdade com a nota da avaliação para trazerem dicas de como montar o melhor plano de estudos faltando tão pouco para o exame.
De aluno para aluno
Enzzo Queiroz, de 19 anos, realizou o sonho de deixar sua cidade natal, no interior da Bahia, para morar em São Paulo onde cursa medicina em uma faculdade particular. O ingresso num curso tão concorrido aconteceu no mesmo ano em que saiu do Ensino Médio, com a nota do Enem e através do Fundo de Financiamento ao Estudante (Fies).
Naquela época, uma das coisas que o motivava a estudar eram as publicações que fazia em seu perfil no Instagram voltado para os estudos - chamados de “studygram”. Hoje, Enzzo tem 418 mil seguidores na rede social. E, apesar de ter começado a postar coisas relacionadas à faculdade, continua dando dicas para os vestibulandos.
Para ele, que teve que lidar com a frustração de, no ano seguinte à aprovação, ver sua nota abaixar no Enem, o segredo para um bom plano de estudos é o equilíbrio entre fazer questões e estudar os conteúdos.
“Nesse ano que eu fiquei estudando em casa, eu foquei muito em questões e acabou que eu não balanceei o que eu precisava fazer para consolidar a minha base. Eu na verdade já tinha muito conhecimento, mas eu precisava ainda continuar vendo a matéria. Tinha dia que eu fazia 200 questões por dia”, conta Enzzo, que prestou o Enem mesmo já aprovado porque queria cursar uma universidade federal. Mas sendo aceito pelo Fies decidiu seguir com o sonho em outra instituição.
Estudo mais direcionado
Nesta reta final, o consenso entre os professores é de que é impossível querer abraçar todo o conteúdo programático do Enem. Criar planos de estudo mais direcionados é a melhor opção.
Rodrigo Machado, de 45 anos, professor de química no curso pré-vestibular Anglo, aconselha que o aluno foque nos assuntos que mais caíram nos últimos quatro anos no Enem de cada disciplina.
Sobre química, ele já dá a deixa sobre alguns dos principais assuntos:
“Eletroquímica é um assunto que caiu quase todo ano. É um assunto que não tem muita conta, então aquele aluno que tem dificuldade em matemática não vai se enroscar muito. Na química orgânica, dê uma olhada nas funções orgânicas, nas principais variações orgânicas, como hidrólise, saponificação, dê uma olhada em isomeria. Daí tem também a cinética química, em que um dos conteúdos mais cobrados são os fatores que alteram a velocidade.”
Outra dica que o professor dá é que o aluno não estude aqueles assuntos que não gosta por último. O melhor, segundo Machado, é começar justamente pelos mais difíceis, quando a mente está mais “descansada”.
“Se você deixar aquele conteúdo de maior dificuldade para o momento que você está mais cansado, o seu aproveitamento vai ser menor. Eu oriento para que, no dia, eles tenham um cronograma de estudos com alguns assuntos para estudar”, diz.
O especialista em Enem Matheus Prado, que presta consultorias para a prova além de ter sido colunista de Educação, sugere ainda que os alunos que estão prestando vestibular para um curso menos concorrido dê maior atenção a disciplinas que não são tão necessárias àquele curso.
“Quem quer história, quem quer geografia e tal, ele não sabe, mas o que vai fazer diferença para ele, vai ser matemática. Vai aumentar a nota de forma muito mais rápida”, exemplifica.
Isso porque a nota do Enem é gerada através da Teoria de Resposta ao Item (TRI), que faz com que cada prova tenha uma nota máxima e mínima diferente, a depender do grau de dificuldade das questões e de quantas pessoas as acertaram. A avaliação de matemática costuma ser a que chega aos maiores valores, tendo, segundo Prado, atingido uma vez a nota 1000.
Melhor forma de fazer a prova
Para o dia da prova, também há dicas para melhorar o desempenho. Prado sugere que o aluno comece o exame pelas questões que ele tem mais facilidade, assim ele garante que não vai deixar perguntas que sabia responder em branco.
“Ele começa pelas questões mais fáceis e por aquelas que ele obviamente sabe fazer, repete isso nas duas provas aplicadas aquele dia. Aí, ele passa para o gabarito. Isso já deu a base, já garantiu que as questões que se pressupunha que ele iria acertar, ele acertou mesmo”, afirma.
No Enem, por serem muitas questões em pouco tempo, a dica é que o aluno não quebre a cabeça com algo que não saiba responder. A probabilidade, segundo Prado, é que a questão que ele está achando difícil também seja difícil para os concorrentes, o que diminui os números de acertos e o valor dela segundo o TRI.
Dicas para a redação
Para tirar uma boa nota na redação do Enem, o segredo é: treino. O aluno Enzzo conta que fez o Enem desde o primeiro ano do Ensino Médio. Na primeira vez, tirou 720; na segunda, 840; e na terceira chegou bem próximo ao mil, com 980.
O que diferencia o resultado entre os três anos foi a prática. “Você tem que criar o seu próprio modelo e você tem que estar acostumado a isso para você conseguir escrever de maneira clara e que você consiga ficar confortável com o que você está escrevendo. Eu estudava todos os os âmbitos mesmo, eu estudava questão de saúde, de educação, meio ambiente…”, relembra.
Julia Ferreira, coordenadora da plataforma Redação Nota Mil, sugere que o aluno busque inspiração em textos que chegaram à nota máxima nos anos anteriores do exame. Além disso, Julia aconselha o estudante a ficar atento às particularidades do Enem.
“A proposta interventiva é algo que só é cobrado no Enem. Então, o exame sempre vai abordar uma problemática do contexto brasileiro. Geralmente acaba vindo na frase temática, mas por vezes está nos textos motivadores. Essa ideia do contexto brasileiro é exatamente visando a essa proposta interventiva, em que o aluno deve citar órgãos públicos e apresentar uma solução”, explica.
Ou seja, guerra da Ucrânia e outros temas internacionais não devem ser tema da redação do Enem.
Outro ponto que ela pede atenção é ao uso dos elementos coesivos. Apesar deles serem cobrados em outros vestibulares, no Enem, segundo Julia, há sempre a necessidade de usá-los principalmente entre parágrafos. Além disso, o aluno nunca pode esquecer de fundamentar bem suas referências teóricas.
Com relação ao tema do Enem, Julia explica que na plataforma em que trabalha são propostos diversos temas ao longo do ano para que o aluno possa treinar, mas nem sempre é possível acertá-lo. Para este ano, ela cita como assuntos em alta a tecnologia, com a inovação do ChatGPT, a pauta ambiental e temas relacionados à segurança pública.