Uma menina, que veio ao mundo com auxílio da ciência e desde os dois anos de idade tem o sonho de ser médica, pode se tornar a primeira mulher a ganhar o 'Nobel do estudante'. Millena Xavier Martins, de Juiz de Fora (MG), representa o Brasil entre os 50 finalistas do Chegg.org Global Student Prize. O vencedor da edição ganha US$ 100 mil (equivalente a cerca de R$ 557,2 mil) e recebe uma viagem para Nova York, para discursar em uma assembleia com diversos líderes mundiais.
Estando nesse lugar de destaque, o que Millena quer é levar a ciência brasileira, em suas palavras, para outros patamares.
"Nos intercâmbios que vou, falam do Brasil como um país tropical, de futebol e carnaval. As pessoas não falam da nossa ciência. O Brasil nunca ganhou um Nobel, nem esse Nobel estudantil ainda. Então, eu quero ajudar a mudar essa visão", complementa.
Sua atuação na ciência inclui também a realização do sonho de criança. Depois de concluir o ensino médio, Millena quer ingressar na faculdade de Engenharia Biomédica para atuar no Sistema Único de Saúde.
"Eu quero ajudar a empoderar o Sistema Único de Saúde (SUS), para que acessibilize o diagnóstico das principais doenças com o auxílio da tecnologia. O SUS já é referência, mas quero que seja ainda mais", destaca.
Como tudo começou
Ainda no ensino fundamental, se descobriu no mundo das Olimpíadas Científicas. Ela até passou a morar em outra cidade para não perder uma oportunidade de estudo. Agora, aos 17 anos, já sendo reconhecida internacionalmente como uma jovem que faz a diferença nas áreas de ciência e educação, pode se tornar a primeira mulher e também a primeira brasileira a ganhar o 'Nobel do estudante'.
Tudo aconteceu em um breve intervalo de tempo. Mas, para trilhar esse caminho, Millena teve que ser disciplinada nos estudos e sustentar o peso de suas escolhas. Ela conta, por exemplo, que esbarrou na falta de apoio por buscar um futuro "fora do convencional", quando dava seus primeiros passos em direção à carreira científica.
Foi essa falta de incentivo, aliás, que a fez criar seu primeiro projeto de sucesso: a PrepOlimpíada. Aos 13, conheceu um estudante que conseguiu diversas oportunidades de estudos após ser premiado na Olimpíada Brasileira de Astronomia.
Um ano depois, aos 14, criou a organização sem fins lucrativos que prepara estudantes para olimpíadas científicas. O intuito é fomentar uma comunidade de jovens com interesse na área, na qual possam compartilhar dicas, informações e formações.
"É muito complicado você começar do zero", disse, em entrevista ao Terra.
Mudança para mais de 200 km de distância
Aos 15 anos, Millena passou no processo seletivo do Colégio de Aplicação Coluni, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e segue estudando lá até o momento. Seu pai, que falou com a reportagem em on, mas posteriormente preferiu não ter a identidade revelada, contou ao Terra que, antes de Millena viajar para a cidade, que fica a mais de 200 quilômetros de onde ela morava com eles, ela já havia recebido duas negativas com relação aos estudos.
A jovem passou em terceiro lugar no processo seletivo do Colégio Farias Brito, em Fortaleza, no Ceará, colégio referência no Brasil. "Mas eu falei que lá era muito longe", admitiu o pai.
Em outro momento, ela também quis estudar em um Colégio Militar, na Zona Norte de Juiz de Fora. Como seria uma mudança complicada, Millena acabou não indo.
Então, quando a oportunidade de Viçosa veio...
"Não teve como. Embora fosse longe, acabamos deixando ela ir para lá, porque também sabíamos que era um curso muito bom", complementou o pai. Lá, no Coluni, Millene agora está no último ano do Ensino Médio.
Apesar das expectativas, a jovem disse que não encontrou o apoio que imaginava no Colégio de Aplicação. Mais uma vez, teve que "fazer muitas coisas por si". Até a brecha da greve das federais neste ano foi uma oportunidade para mergulhar nos estudos.
"Me ajudou a ter tempo para estudar, porque a escola é muito pesada, o nível. Então, eu tive tempo para estudar para a Olimpíada Internacional só com a greve", contou.
Os estudos deram fruto, mais uma vez. Em agosto, ela estará na Bulgária para representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Ciência Artificial. Millena é a primeira garota latino-americana a ocupar esse espaço.
Mais de 60 olimpíadas no currículo
No total, Millena, de 17 anos, já participou de mais de 60 olimpíadas. A primeira foi durante a pandemia, por conta própria. Desse total, ao longo dos anos, ela conseguiu 38 premiações. As mais relevantes, como ela mesmo pontuou, foram:
- Dois ouros na Olimpíada Brasileira de Tecnologia;
- Dois ouros na Olimpíada Nacional de Ciência;
- Ouro na Olimpíada Brasileira de Informática;
- Ouro na Olimpíada Brasileira de Inteligência.
Toda sua experiência a proporcionou não só um currículo extenso, mas o título de mais jovem a ser nomeada na lista 'Forbes Under 30', na categoria 'Ciência e Educação'. Pelo mundo, já teve mais de 10 aprovações internacionais, inclusive, neste mês de julho ela passou duas semanas na Universidade de Yale para estudar ciência e tecnologia.
Lá, em um grupo de bioengenharia, ela segue como pesquisadora bolsista e desenvolve outro projeto que começou sozinha: a Autinosis, uma solução baseada em inteligência artificial positiva que auxilia no diagnóstico do autismo.