Filha única de auxiliar administrativa e entregador, nova aluna da USP pretende ser professora de literatura para mostrar aos jovens que a aula não precisa ser chata. Duas professoras a inspiraram no amor à arte e à docência.
Letícia Dantas Costa acordou com o despertador do celular às 10 horas da manhã desta quarta-feira, 22 de janeiro. Tinha dormido tarde na noite anterior. Pegou o celular e viu a mensagem da amiga do cursinho enviando a lista da Fuvest.
“Fiquei super nervosa, abri tremendo, pedindo a Deus. Quando eu vi, comecei a chorar e a agradecer muito, sou muito espiritual. Chorei bastante, tremendo, liguei para a minha mãe”, conta Letícia.
Ainda desacreditando, conferiu o CPF, era ela mesma: aprovada em Letras na Universidade de São Paulo (USP). Esperou o pai chegar, contou, recebeu abraços, o primo telefonou, depois o repórter.
Aos 18 anos, Leticia prestou vestibular pela primeira vez. Concluiu o ensino médio no ano passado, na Escola Técnica Estadual (Etec), e frequentou o Cursinho Elza Soares, que funciona dentro da favela São Remo, vizinha à USP.
“Eu amo os livros, amo mesmo”, repete a caloura
Letícia é filha única de uma auxiliar administrativa e de um entregador. A mãe veio para a capital paulista aos 20 anos de idade, do interior do Rio Grande do Norte. O pai nasceu em uma favela de Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo.
A nova aluna de Letras mora no Jardim Arpoador, zona oeste, próximo à USP. Ama literatura e quer ser professora. Sempre leu, mas o amor pela ficção e pela docência foi despertado por duas professoras.
Uma delas, “era fora do normal, falava do livro como se fosse uma grande fofoca, todo mundo gostava”. Aos 13 anos, identificou-se com a protagonista de Minha Vida Fora de Série, personagem de ficção com a mesma idade.
“Eu amo os livros, amo mesmo. Me encontrei muito na literatura. Eu falei: quero isso pra minha vida. Quero ser professora, quero dar aula para adolescentes, para mostrar que literatura não é chato”, diz.
Leticia foi duas vezes à USP
A primeira vez que Letícia entrou no campus central da Universidade de São Paulo (USP), zona oeste da capital paulista, ficou encantada. Era 2022 e ela prometeu a si mesma que estudaria ali.
“Falei: meu Deus, é o meu pessoal”. Ela fazia uma visita escolar e passou pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde acabou de ingressar.
“Depois fui no Instituto Butantã, que fica ao lado da USP, passei por ela e fiquei encantada de novo. Imagina uma cidade universitária, onde todo mundo estuda”. Aprovada em Letras, Letícia saberá como é fazer parte da turma.
Ela ainda aguarda o resultado do vestibular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Provão Paulista e Sisu. Com Letras sempre na primeira opção, Letícia pode ter mais boas notícias nos próximos dias.