Aluno trans é expulso de faculdade após criticar professora

Estudante criticou uma questão que exigia domínio da língua inglesa; professora foi demitida por expor o aluno em um e-mail enviado à classe

14 out 2015 - 13h17
(atualizado às 18h10)

O estudante transexual Samuel Silva, 22 anos, foi expulso na última sexta-feira (9), da Faculdade Cásper Líbero, acusado de agredir o coordenador do curso de Publicidade e Propaganda.

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O incidente foi registrado no boletim de ocorrência de número 8543/2015, no 78º Distrito Policial, localizado no bairro do Jardins, segundo informa a instituição de ensino. 

A confusão começou após o jovem publicar no facebook uma crítica ao método utilizado pela professora Marina Magri em uma prova.

Samuel Silva, de 22 anos, afirma ter sido vitima de transfobia na Faculdade Cásper Líbero
Samuel Silva, de 22 anos, afirma ter sido vitima de transfobia na Faculdade Cásper Líbero
Foto: Samuel Silva/Facebook/Reprodução

Durante a aplicação do exame de redação publicitária, a professora exibiu uma questão com áudio em inglês e sem legendas. Samuel conta que se sentiu prejudicado por não dominar o idioma. “O vídeo era uma propaganda conceitual sem legendas, totalmente em inglês, onde não aparecia sequer o produto. Eu não entendi nada e critiquei o fato dela esperar que todos os seus alunos soubessem inglês fluente”, contou. O estudante também afirma que a professora teve atitudes transfóbicas, que é a discriminação relativa às pessoas transexuais e transgêneros, quando, por exemplo, teve “dificuldade” em se referir a ele no masculino.

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Após as críticas, a professora enviou um e-mail para toda a classe como resposta à publicação. “Tenho a dizer que, das quatro turmas de PP, Samuel Silva foi o único aluno universitário que não teve capacidade de assimilar o áudio com sonora em inglês, narrado lentamente, em linguagem cotidiana, de um filme. Foi o único aluno a se sentir colonizado por meio dessa solicitação. Foi o único aluno a não compreender o enunciado da questão que tratava de um comercial premiado, e era fundamentada por um texto base oferecido como consulta a todos”, dizia o e-mail.

O e-mail prossegue e a professora diz que “talvez lhe falte repertório, talvez lhe falte domínio de idiomas, talvez lhe falte o que fazer, mas o fato é que ele transformou suas peculiares características intelectuais em vitimização moral; e a prova, numa desproposital cobrança acadêmica, o que ela de fato não foi”.

No e-mail, a professora afirma que o aluno foi o único que não conseguiu assimilar o áudio com sonora em inglês
Foto: Reprodução

Samuel relata que passou a receber mensagens de ódio e xingamentos de alguns colegas de classe após o e-mail da professora. “Falaram que se queria tanto ser homem, eu deveria ter atitude de homem”, contou.

Após o ocorrido, o estudante relata que no último dia 6 de outubro, o coordenador do curso, Walter Freoa, foi até a classe e chamou o representante da turma e mais dois alunos. “Fiquei desconfiado de que o assunto pudesse ser eu”, conta Samuel, que decidiu seguir o grupo. “Chegando na sala do Freoa [coordenador do curso], fiquei ouvindo e de fato estavam falando sobre mim. Entrei e disse que, se sou o assunto, também gostaria de participar da reunião”.

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De acordo com o aluno, o coordenador não gostou da atitude e começou a tratar Samuel no feminino. “Falei que ele estava me desrespeitando, mas ele continuava me tratando no feminino”, relata.

Após a discussão, o coordenador afirmou ter sido agredido pelo estudante. “Ele saiu por um dos corredores com os três alunos. Eu saí pelo outro corredor. Só que no lugar onde os corredores se encontram, o Freoa, ao invés de seguir na direção dos elevadores, virou como se fosse dar a volta e retornar para a sala dele. Eu vinha correndo, dei um encontrão, e ele caiu”, conta Samuel. Depois do incidente, uma sindicância foi instaurada para investigar o caso.

Na última sexta-feira (9), o diretor da faculdade, Carlos Roberto da Costa, postou um comunicado em sua conta no Facebook dizendo que a instituição recebeu o aluno “de braços abertos desde o início de sua transferência, referendando seu pedido de uso do nome social”. O diretor também afirma que, nos últimos dias, o “aluno insulta a faculdade com ameaças e discurso de vingança... Por isso, a instituição comunica a transferência compulsória do aluno para uma instituição que o atenda”, explica.

Procurada pelo Terra, a assessoria da Faculdade Cásper Libero informou que durante o inquérito foram ouvidas todas as partes envolvidas no incidente e que a agressão foi confirmada por testemunhas.

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“Ainda que tenha havido desentendimento entre o aluno e a professora, nada justifica a agressão física do aluno contra o coordenador do curso. Por isso, a instituição comunica a transferência compulsória do aluno para uma instituição que o atenda”, diz a nota.

A faculdade também demitiu a professora, “entendendo má condução e má postura ao expor o aluno perante a classe e por alimentar a divulgação dos fatos decorrentes, mesmo após orientação de aguardar o resultado da sindicância para se manifestar”. Já o coordenador do curso foi afastado do cargo, mas continua dando aula.

Após o comunicado, Samuel comentou sua expulsão em sua página no Facebook. “Gostaria de dizer que é quase um milagre a Faculdade Cásper Líbero ter recebido um único aluno transexual em sua história enquanto fundação. E não é por coincidência que este único aluno transexual tenha sido expulso em menos de um ano de faculdade”. No texto, o estudante afirma que o coordenador não fez o exame de corpo de delito e aproveitou para criticar o sistema de ensino do País. “O sistema de ensino brasileiro em si é transfóbico e não está preparado para acolher pessoas trans”, escreveu Samuel, que pretende processar a faculdade.

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Fonte: Terra
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