Crianças prosperam e aprendem em lares pacíficos, respeitosos e encorajadores. É o que ressalta Maya Eigenmann, autora do best seller A Raiva Não Educa, A Calma Educa. Para isso, por mais desafiador que seja educar uma criança, é preciso ir além de instintos e estudar para superar as barreiras do 'adultismo'.
"É muito fácil ser adulto em uma relação com uma criança sendo respeitoso só quando convém. Ou, então, só amar os filhos quando eles estão bonzinhos, quietinhos. É muito conveniente para nós. Mas, nenhuma relação adulta prosperaria com base nesses argumentos", ressalta.
Para saber o que fazer, Maya indica o aprofundamento na educação respeitosa - que rompe com a 'educação tradicional' na qual, segundo ela, a criança é ensinada a seguir uma lógica similar a de um adestramento: "Quando você é bonzinho, ganha um petisco do meu amor".
O que é educação respeitosa?
Segundo a especialista, educação respeitosa é um termo guarda-chuva que engloba várias vertentes que reconhecem a criança como um ser de igual valor aos adultos, sendo merecedoras de respeito.
Já a educação positiva é a linha seguida por Maya, baseada em quatro pilares: inteligência emocional, desenvolvimento infantil, biografia humana [respeito ao 'desenho original' do ser humano, que não nasce com vergonha de chorar, por exemplo] e apego seguro [vínculo da criança com seus cuidadores].
Para ajudar quem quer trilhar esse caminho de respeito, Maya elenca ao Terra cinco pontos do que não fazer ao educar um filho, trazendo analogias e se aprofundando nos assuntos.
1. Bater
Se as pessoas têm aquela ideia de “eu apanhei quando criança e estou, aqui, sobrevivi”, é porque, realmente, foi uma sobrevivência. O que uma infância não deveria ser. A infância tem que ser uma vivência com muita saúde, com abundância de segurança.
Questão biológica
Existe uma conexão biológica, natural, funcional. A criança nos vê como uma figura de proteção, de quem vai prover alimento, abrigo e também amor. Amor porque a gente não é feito só do nosso corpo, a gente tem também as nossas emoções que precisam ser nutridas e alimentadas.
Então, quando essa pessoa que deveria promover a proteção se torna a pessoa que promove o perigo, o medo, essa criança fica refém de uma situação da qual ela não consegue fugir. A criança não sai à procura de outro adulto.
Palmada não traduz amor
Nenhum adulto vai falar, nossa, amo quando meu companheiro bate em mim, acho maravilhoso, aprendo tanto. Agressão nunca vai ser sinônimo de amorosidade, nunca vai ser sinônimo de abundância emocional. Além disso, a criança nunca vai achar que o problema é o pai, a mãe, quem cuida dela. A criança vai projetar contra si, contra o outro, mas jamais contra os pais.
Então além de machucar o corpo, se machuca a autoestima, o senso de pertencimento. A criança vai começar a desenvolver traços de insegurança.
- Bater é crime?
- Pelo Código Penal, sim. Além disso, a Lei da Palmada (13.010/2014) reforça que casos de castigos físicos e maus-tratos contra crianças e adolescentes devem ser obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar.
- O que diz o ECA?
- “A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los” - Artigo 18-A, Lei nº 8.069
2. Brigar
Também é uma forma de violência. A pessoa não bate com as mãos, mas bate com as palavras. E às vezes ela pensa que deu certo porque a criança parou de fazer o que estava incomodando. Mas precisamos compreender que, em termos neurológicos, ela entrou em um estado de congelamento.
É igual a lagartixa que, quando ela está com medo, faz de conta que ela está morta. Isso reduz as chances da coisa piorar. A criança fica congelada, em estado de choque. Ela faz isso não porque entendeu que precisa ‘parar’, mas faz por medo, por pura sobrevivência.
Não é na dor que a gente prospera. Não é na dor que a gente aprende. É no amor. Se a pessoa fala que aprendeu muito ao passar por certa situação ruim, saiba que ela teria aprendido muito mais se não tivesse passado por aquilo.
Problemas para o desenvolvimento
Em estados assim, o cortisol [hormônio vinculado a situações de estresse e perigo] se eleva muito no corpo da criança, e o excesso dele é um perigo para o desenvolvimento do cérebro. Pode acabar se tornando um corrosivo, afetando diretamente o sistema imunológico da criança.
3. Ignorar
Quando uma criança é ignorada, a mensagem que ela recebe é ‘eu não devo ser tão importante assim’. O ignorar não ensina absolutamente nada, ela só faz a criança se sentir completamente isolada - o que não é diferente em uma relação entre adultos.
Que aprendizado positivo eu posso ter se meu companheiro ficar me ignorando o tempo todo? Se uma amizade me ignora o tempo todo? Você não vai ter vontade de investir nessa relação e vai procurar por outras. A diferença é que a criança não tem essa opção, ela não tem onde recorrer.
Cadeirinha do pensamento
A cadeirinha do pensamento também não ensina. Se a criança fica lá, isolada, ela pode estar pensando sobre tudo, menos pelo motivo dela estar lá. A criança não tem o cérebro maduro. Como elas vão lidar sozinha com o que estão sentido? É injusto da nossa parte.
Quando a criança está isolada, sendo ignorada, o que ela acaba aprendendo é que não tem com quem contar quando as coisas estão difíceis. Nenhuma criança tem vontade de comportar melhor, ser mais colaborativa, quando ela é tratada pior.
4. Comparar
Um bom exemplo é: se você, adulto, tem um companheiro que fica te comparando com outras pessoas, você vai achar absurdo. Mas isso é feito o tempo todo com as crianças.
Ao ser comparada, a criança não pensa “vou ser melhor”. Na verdade, ela vai projetar contra si esse fracasso, como se ela fosse um problema. Por isso a comparação não traz nenhum aprendizado, nenhum benefício. A criança vai crescer com a sensação de insuficiência em vários sentidos.
5. Agir na hora da raiva
Na hora da raiva eu não vou dar conta de ser respeitosa, nem minha criança vai dar conta de aprender por causa do cortisol. Não que seja sobre a gente estar sempre calma e nunca perder a paciência. É sobre reconhecermos quando não estamos bem, que vamos acabar falando besteira e se arrependendo depois.
Muitas vezes a gente acaba descontando nos filhos, projetando nossas dores, achando que eles estão querendo provocar, que estão nos tirando do sério. Mas, na verdade, a gente precisa se responsabilizar nesse processo.
É uma questão da gente entender que na hora da raiva o aprendizado não vai prosperar. Então precisamos nos acalmar. Quantas vezes você não explodiu com algum outro adulto que gosta e depois vai com o rabo entre as pernas pedir desculpas? Não é diferente com as crianças.