Após a interdição judicial do campus da zona leste da Universidade de São Paulo (USP) em razão de contaminação do solo, as aulas foram retomadas nesta segunda-feira na sede do Instituto de Psicologia, no bairro Butantã. A mudança é provisória e servirá para que sejam concluídas as atividades do ano passado. O início do próximo semestre, que estava previsto para 17 de fevereiro, ainda é incerto para estudantes e professores.
"Essa solução é paliativa. Há uma expectativa com a posse da nova diretora [do campus] e do novo reitor que eles consigam deflagar soluções para o problema, mas não são medidas imediatas. Não sabemos se voltamos daqui a 30, 40 dias, seis meses ou um ano", disse a professora da área de ciências biológicas e saúde Michele Schultz. A USP Leste, como a unidade é conhecida, tem cerca de 6 mil alunos e 270 docentes.
A interdição, efetivada na quinta-feira, ocorreu por meio de uma liminar, expedida pela juíza Laís Helena Bresser Lang Amaral, da 2ª Vara de Fazenda Pública. A decisão, concedida em uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público Estadual, considera que a continuidade das atividades representam riscos à integridade física dos alunos e funcionários, pois o solo concentra gás metano - altamente inflamável - proveniente do descarte do desassoreamento do Rio Tietê.
O estudante Luís Henrique Marins, do curso de Ciências Naturais, relata que a mudança de local está provocando transtorno para alguns alunos, pois os campi ficam situados a, aproximadamente, 40 quilômetros de distância. "Eu moro a 10 minutos a pé da USP Leste, mas tive que dormir na casa de uns amigos que moram aqui perto, porque vou ter prova até as 23h", declarou. Outros estudantes, segundo ele, já disseram que não poderão comparecer às atividades de reposição.
Apesar de morar mais próximo ao Butantã, Gustavo Burin, aluno do curso de sistemas de informações, acredita que as aulas do ano letivo de 2014 devem recomeçar somente quando os órgãos, que atestaram os riscos da contaminação do terreno da USP Leste, assegurarem que o espaço tem condições de receber professores e estudantes. "Não faz sentido abrir só para cumprir a sentença. Se fechou, pelo menos, arruma e a gente espera até ficar pronto. Se não tiver lugar para ter aula, suspende", declarou.
A possível suspensão das aulas da graduação em 2014 não é o único inconveniente do impasse no campus. Michele Schultz destaca que muitas amostras biológicas, armazenadas em laboratórios, podem ser perdidas. "Estamos pedindo para que todo mundo que passa por lá, dê uma olhada para ver se a energia está funcionando. Mas ninguém tem acesso", contou. A professora desenvolve estudo com a análise genética de pacientes com derrame cerebral para verificar questões que impactam na reabilitação.
Ela relatou ainda o caso de um pesquisador que recebeu um equipamento de R$ 1,5 milhão, mas que não está podendo acessá-lo. A pesquisadora teme que a credibilidade do campus seja afetada diante das dificuldades para dar encaminhamento aos estudos. "Sabendo da não existência de infraestrutura física, os projetos podem começar a ser negados (pelas agências de fomento)", lamentou.
Além do problema com o solo, as atividades na USP Leste haviam sido suspensas no dia 16 de dezembro por determinação da diretoria do campus por causa de uma infestação de piolhos de pombo e de contaminação da água.
De acordo com a assessoria de imprensa da USP Leste, a universidade recorreu da decisão da juíza e, caso a interdição seja suspensa, as atividades serão retomadas lá. Informou ainda que, até o momento, não foi iniciado nenhum trabalho para solucionar a contaminação do solo. A desinfestação dos piolhos, por sua vez, será finalizada esta semana.