Principal base de sustentação do bolsonarismo nas redes sociais, movimentos de rua que pediram o impeachment de Dilma Rousseff, ativistas 'olavistas' e influenciadores digitais conservadores se uniram em uma campanha para que o coronel do Exército José Gobbo Ferreira seja escolhido para comandar o Ministério da Educação (MEC). Os ativistas criaram até a hashtag #gobbonoMEC e têm pressionado parlamentares governistas. Parte dos grupos bolsonaristas quer impedir que o centrão - colegiado de partidos de centro que apoia o Palácio do Planalto - indique o próximo ministro. O nome do coronel, que é amigo do presidente Jair Bolsonaro, também agrada a setores do Exército.
Bolsonaristas foram contra a nomeação do secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, que contava com apoio de líderes do centrão, e rejeitam o nome do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL), que foi sondado por Bolsonaro e é um dos favoritos para a pasta. A atual secretária de Educação Básica, Ilona Becskehazy, também foi cotada para assumir o Ministério da Educação (MEC) e passou a ser criticada quando o Estadão revelou que ela participou da elaboração do plano de governo do então candidato Ciro Gomes (PDT) à presidência em 2018.
Líderes bolsonaristas ressaltam o currículo do coronel formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Gobbo é bacharel em Engenharia Química pelo Instituto Militar de Engenharia, pós-graduado em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade de Itajubá e doutor em Engenharia Aeroespacial pela Universidade de Poitiers, na França. O nome dele tem apoio dos grupos Acorda Brasil, do qual o coronel faz parte, Nas Ruas e Avança Brasil, os três principais movimentos bolsonaristas.
"O centrão pode estar no governo via cargos. Isso é inevitável, mas na chefia da pasta é preciso um nome mais comprometido com a pauta que elegeu Bolsonaro e que agrade a ala militar. O Gobbo era membro do Acorda Brasil e foi um dos nossos mentores intelectuais", disse Otávio Fakhoury, um dos fundadores do movimento Acorda Brasil ao lado do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).
O presidente tem dito a interlocutores que o futuro ministro da Educação precisa ter um currículo sólido e ser engajado na política da escola sem ideologia. A bancada evangélica da Câmara também pressiona o presidente a escolher um nome que seja fiel às bandeiras conservadoras e a pauta dos costumes.
"Entre os nomes cogitados, Gobbo tem um currículo invejável", disse Tomé Abduch, porta-voz do grupo Nas Ruas. Já a fundadora do grupo, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), disse que o nome de Gobbo está sendo defendido por movimentos pró-Bolsonaro, mas apoia a indicação do deputado Vitor Hugo. "A saída de Weintraub foi muito traumática para quem trabalhou pelo Bolsonaro de uma forma geral. Ele entrou com uma energia que vinha da campanha. Nenhum nome terá o mesmo o peso, mas o Vitor Hugo fez tudo que se propôs a fazer e fez bem. Ele também entende de orçamento e não vai chegar mudando tudo", disse a parlamentar.
Major do Exército, Vitor Hugo é mestre em operações militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e é formado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, da Universidade Federal do Rio, entre outros títulos. Bolsonaro disse a interlocutores que vai sentir a receptividade do nome de Vitor Hugo para o MEC entre os apoiadores. O deputado informa ter mestrado e é sempre elogiado por Bolsonaro por ter sido o 1.º colocado em sua turma na formação militar.