Brasil está entre países que fecharam escolas por mais tempo na pandemia: 'É uma das decisões mais difíceis'

Relatório da OCDE avalia impactos da covid-19 sobre educação no mundo e aponta desafios e potenciais da retomada.

8 set 2020 - 07h46
(atualizado às 08h24)

A pandemia do novo coronavírus tem sido como um "abalo sísmico" na educação global, aponta relatório divulgado nesta quinta-feira (8/9) pela OCDE, que coloca o Brasil no grupo dos países já com mais tempo de escolas fechadas desde o início da pandemia.

Em média, os países da OCDE haviam mantido suas escolas fechadas por 14 semanas até o fim de junho; no Brasil, foram 16 semanas ate essa data
Em média, os países da OCDE haviam mantido suas escolas fechadas por 14 semanas até o fim de junho; no Brasil, foram 16 semanas ate essa data
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Até o fim de junho, de 46 países avaliados no relatório, 52% deles haviam fechado suas escolas por 12 a 16 semanas e 28% as mantiveram fechadas por 16 a 19 semanas. O Brasil, onde a maioria das escolas permanecem fechadas, está bem no limiar — com 16 semanas contabilizadas até 30 de junho.

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Em média, porém, os países da OCDE haviam mantido suas escolas fechadas por 14 semanas até o fim de junho.

Outros 17% dos países iniciaram a reabertura de suas escolas após no máximo 12 semanas fechadas.

A OCDE destaca, porém, que os dados devem ser vistos com cautela, uma vez que muitas vezes a situação varia dentro de cada país (já que autoridades municipais têm autonomia sobre seus sistemas educativos locais) e porque algumas redes incluíram férias e feriados durante os períodos de fechamento.

Além disso, muitos países no hemisfério Norte reiniciaram seu ano letivo agora em setembro, ficando de fora dos números acima.

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No relatório anual Education At Glance, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o chamado "clube dos países ricos" avalia aspectos da educação de seus 38 países-membros e de países parceiros, que é o caso do Brasil.

Escola sendo preparada para reabertura no Camboja; tamanho das turmas é critério crucial, diz OCDE
Foto: EPA / BBC News Brasil

A edição de 2020 focou no impacto da covid-19 sobre a educação mundial, mas também em diferentes segmentos de políticas educacionais, como ensino técnico e preparação de jovens para o mercado de trabalho.

Tamanho das turmas e desafios da reabertura

O tamanho das turmas é, segundo a OCDE, "um parâmetro crítico" para a reabertura das escolas, já que "países com turmas menores podem ter mais facilidade em cumprir com as novas exigências de distanciamento social".

Nesse ponto, o Brasil tem uma situação mais desafiadora que a maioria da OCDE: aqui, o tamanho médio das turmas dos anos iniciais do ensino fundamental é de 24 alunos nas escolas públicas, contra 21 na média de países da organização.

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Esse número sobe para 28 alunos por turma nos anos finais do ensino fundamental (contra média de 23 na OCDE).

No entanto, destaca o relatório, "a necessidade de reduzir o tamanho das turmas pode depender de outros fatores, como espaço físico, disponibilidade de salas e de funcionários e decisões pessoais de estudantes e educadores sobre o retorno às aulas".

Como e quando reabrir escolas, lembra o relatório, "é uma das decisões mais difíceis e sensíveis das agendas políticas" da atualidade, destacando que diferentes países foram forçados a tomar diferentes medidas com base nos estágios da pandemia e nas possibilidades de novas ondas de contágio.

Como e quando reabrir escolas, lembra o relatório, "é uma das decisões mais difíceis e sensíveis das agendas políticas" da atualidade
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"Na maioria dos países onde as escolas reabriram, a presença não é obrigatória para todos os estudantes, para levar em consideração os que estão doentes ou têm parentes no grupo de risco, ou porque as escolas não conseguiriam receber todos os estudantes por causa das novas medidas sanitárias que exigem distanciamento social", prossegue o relatório.

A maioria também reabriu gradualmente — em muitos países europeus, priorizando a volta da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, antes dos alunos mais velhos. Já a Coreia do Sul, por exemplo, deu preferência aos estudantes dos anos finais do ensino médio, prestes a prestar exames finais e se preparar para a universidade.

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'Esnobado', ensino técnico é reforço para preparar jovens na crise

Em um contexto de crise econômica aguda, os jovens tendem a ser os mais afetados pelo desemprego. O ensino técnico, defende a OCDE, pode ser um escudo protetor, ajudando o aluno a entrar no mercado de trabalho em empregos mais qualificados e mais bem remunerados. Mas é uma modalidade que não recebe a atenção necessária.

"O ensino técnico oferece habilidades técnicas e profissionais para a força de trabalho. Comumente negligenciado em favor de rotas acadêmicas mais prestigiosas, esse tipo de ensino muitas vezes é deixado de lado em debates de políticas educacionais", diz o relatório.

Em média, diz o relatório, 11% dos estudantes de ensino médio do Brasil optam por programas técnicos ou vocacionais, número bem inferior à média da OCDE (42%).

A educação profissionalizante faz parte do Plano Nacional de Educação, conjunto de metas previsto em lei para serem atingidas (embora muitas já tenham sido descumpridas) pelo Brasil até 2024.

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No caso, a meta é ter 5,2 milhões de matrículas de ensino profissional no ensino médio. Em 2017, porém, o Brasil tinha apenas 1,8 milhão dessas vagas.

"Durante a quarentena, a dependência de serviços vitais de manufatura e saúde, muitos dos quais fincados na educação vocacional, joga luz, mais do que nunca, que precisamos olhar para ela com novos olhos e implementar medidas para aumentar sua atratividade para aprendizes em potencial", diz, no relatório da OCDE, o secretário-geral da entidade, o mexicano Angel Gurría.

Um ponto positivo aferido pelo relatório da OCDE é que aumentou, entre 2009 e 2019, a quantidade de jovens brasileiros com diploma de ensino superior. No entanto, no ano passado, enquanto 21% dos brasileiros de 25 a 34 anos tinha curso universitário completo, esse índice é de 45% na média dos países da OCDE.

Em artigo no relatório, Angel Gurría lembra que a pandemia de covid-19 já aumentou as dificuldades dos alunos mais vulneráveis e, por conta da crise econômica, deve comprimir os gastos públicos com educação.

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Enquanto as perspectivas futuras são incertas, diz Gurría, "a pandemia expôs nossa vulnerabilidade a crises e revelou o quão precárias e interdependentes são as economias que criamos. (...) Nossa capacidade de reagir efetiva e eficientemente no futuro dependerá da preparação dos governos. Por meio de seu papel em desenvolver as competências e habilidades necessárias para as sociedades do amanhã, os sistemas educacionais precisarão estar no âmago desse planejamento."

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