Há 17 anos, nascia no Catalão, cidade no interior de Goiás, Henrique Peixoto Godoi. De lá para cá, muitas mudanças aconteceram na vida dele, inclusive o lugar onde se estabeleceu. Apesar disso, ele continua sendo um orgulho para a pequena cidade e seus 114 mil habitantes.
Henrique foi um dos 50 finalistas classificados pelo prestigioso Global Student Prize 2023. O prêmio internacional reconhece estudantes ao redor do mundo que impactam a sociedade através da aprendizagem e de projetos sociais. O goiano figura entre os dois brasileiros selecionados, dentro os 4 mil inscritos de 122 países.
Aluno do Colégio Atenas, em Goiânia, para onde se mudou sozinho aos 15 anos, Henrique se apaixonou pela neurociência aos 11 anos. A paixão se revelou após ele assistir ao filme Mãos Talentosas, que conta a história de Ben Carson, o primeiro cirurgião a separar com sucesso gêmeos siameses.
"Depois, conheci pesquisadores na escola e soube que quero trabalhar com isso. Meu objetivo é estudar a neurociência, com foco em ciência da computação e economia, ser pesquisador", revela, em entrevista ao Terra.
O desejo se fortaleceu no Ensino Médio, quando ele fundou o Instituto Merzenich, que homenageia em seu nome o neurocientista americano Michael Merzenich. A startup juvenil existe há cerca de um ano e já conta com 50 voluntários do Brasil, da Argentina e dos Estados Unidos. A organização promove olimpíadas científicas voltadas à inclusão de estudantes neurodivergentes e ao conhecimento do tema no meio educacional.
O termo "neurodivergentes" se refere às pessoas que têm funcionamento neurocognitivo atípico, ou seja, fora da média esperada. Isso inclui, por exemplo, pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Síndrome de Asperger, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e dislexia, entre outras condições neurológicas.
Na expectativa de conseguir alavancar o Merzenich com a premiação, Godoi já traçou os próximos passos para a instituição, que por enquanto atua de maneira online em turmas entre o oitavo ano do Ensino Fundamental e o terceiro ano do Ensino Médio.
"Agora é expandir a ONN [Olimpíada Nacional de Neurodiversidades] para que ela seja realizada de maneira impressa nas escolas e universidades públicas do Brasil. Também queremos adaptar uma Interface de Acessibilidade a Neurodivergentes (IAN), com planos de aula em formato de jogos para tornar o aprendizado dessas pessoas mais acessível e confortável", explica.
Entre os 50 escolhidos para participar da competição internacional, apenas um vencedor conseguirá o prêmio de US$ 100 mil – o que equivale hoje a R$ 473 mil. O valor será destinado ao projeto vitorioso. Até novembro, quando o anúncio final é esperado, ainda haverá uma segunda fase, na qual 10 estudantes serão selecionados.
"Estou com muita expectativa, porque a demanda por mecanismos de atendimento à neurodiversidade aumentou muito nos últimos anos. As pessoas vão ter que encarar esse reconhecimento. Queremos facilitar essa inclusão, mostrando que, para isso acontecer, não é preciso excluir as outras pessoas. O objetivo é que todos estejam presentes e que todos aprendam juntos de maneira mais eficiente", destaca.
Desafios, sacrifícios e conquistas
Durante os meses da seleção para o prêmio, os candidatos participaram de entrevistas individuais nas quais tinham que escrever oito redações contando quais foram os impactos que promoveram na sociedade enquanto estudantes. Ele não hesitou em listar as diversas atividades extracurriculares ao longo de sua jornada escolar - que ainda está em andamento.
"Falei dos artigos publicados, medalhas científicas, projetos sociais, trabalhos voluntários, envolvimento em debates simulados da ONU…", relembra. "Colocar isso em palavras e contabilizar as conquistas é muito complicado. As entrevistas também foram muito subjetivas. As perguntas são, por exemplo: 'Se você encontrasse o ministro da Educação do seu país, o que falaria para ele?'. No fim, eles querem que o vencedor faça um bom uso do dinheiro. As suas notas não são o mais importante", diz.
Para o jovem goiano, a conquista dessa indicação dos 50 melhores projetos sociais e de aprendizagem foi o reconhecimento de um trabalho de anos.
"Tive que sacrificar muitas coisas para estar onde estou. Me mudei para estudar, porque onde nasci não tinha suporte, recursos. Mas perdi a convivência com os meus irmãos, com a minha avó, que faleceu", conta.
Mesmo de longe, Henrique diz que pôde contar com os pais durante todo o processo. E, embora eles não tenham entendido muito bem o que significava, se emocionaram com a notícia da indicação ao prêmio. "Quando o prêmio divulgou o resultado nas redes sociais, eles choraram", recorda.
Em fase final do Ensino Médio, Henrique está finalizando o processo de inscrição para aprender mais sobre neurociência em faculdades no exterior. Entre as aspirações, está a prestigiada Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Já no Brasil, o plano é atrair mais pessoas para o Instituto Merzenich e começar a distribuir o material impresso das olimpíadas neurodivergentes para as escolas públicas do Brasil – começando, claro, com as instituições de Goiânia e da sua cidade natal no interior.