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Brasileiros estão trocando a graduação para gastar com apostas on-line, aponta pesquisa

Pesquisa revelou que 35% dos brasileiros adiaram o início da graduação em 2024 devido a gastos com apostas on-line

16 set 2024 - 14h11
(atualizado às 14h42)
Jogo do tigrinho é citado pela família da jovem como um dos possíveis motivos para seu desaparecimento
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Foto: Alice Labate/Estadão / Estadão

Uma pesquisa encomendada por instituições privadas de ensino revelou que 35% dos brasileiros que planejavam ingressar em um curso superior em 2024 adiaram essa decisão por estarem comprometendo sua renda com apostas on-line. A pesquisa, realizada pela Educa Insights, destaca que plataformas de apostas, como bets e jogos de cassino virtual, incluindo o popular "jogo do tigrinho", têm desviado os recursos que seriam usados para educação.

Segundo Daniel Infante, sócio-fundador da Educa Insights, esse percentual equivale a aproximadamente 1,4 milhão de pessoas. As informações são do jornal O Globo.

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"Os grupos educacionais agora têm as bets como um novo concorrente", afirma Infante ao jornal.

O impacto é ainda mais significativo entre as famílias com renda de até R$ 2,4 mil por pessoa, nas quais a porcentagem de pessoas que abandonaram a ideia de cursar o ensino superior sobe para 39%. Para quem tem uma renda per capita de até R$ 1 mil, esse número chega a 41%.

A pesquisa entrevistou 10,8 mil pessoas de todas as classes sociais e regiões do Brasil, que manifestaram interesse em ingressar em instituições particulares de ensino superior.

"O setor sempre trabalha em prol do seu crescimento, nunca contra outras formas de investimento. Mas, nesse caso, vamos discutir uma entrada no debate da regulamentação", adiantou Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).

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O presidente do Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (IBJR), Magnho José, reforça que o Brasil enfrenta um "hiato regulatório" que tem permitido a proliferação de sites de apostas sem qualquer controle sobre o bem-estar dos jogadores.

"Eles estão fazendo um verdadeiro estrago nesse mercado, mas essa operação selvagem vai acabar no dia 1º de janeiro de 2025", afirma.

Entre as novas regras previstas para entrar em vigor estão a limitação diária de gastos, o cadastro obrigatório de jogadores com reconhecimento facial e o registro de empresas autorizadas a operar no País. De acordo com José, essas medidas têm como objetivo restringir jogadores que veem nas apostas uma forma de renda, em vez de um entretenimento. No entanto, especialistas alertam que o formato dos cassinos on-line, que tende a estimular o vício, continuará liberado.

Apostas como concorrente direto

Um levantamento realizado pela PwC mostrou que o setor de apostas movimentou R$ 100 bilhões em 2023, equivalente a cerca de 1% do PIB brasileiro. Nas famílias de baixa renda, as apostas representam 76% dos gastos com lazer e cultura e 5% das despesas com alimentação.

O impacto das apostas on-line tem sido percebido em vários setores da economia, principalmente no varejo. Em agosto, Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central e cotado para ser o próximo presidente da instituição, afirmou que o aumento da renda no Brasil não está sendo refletido no consumo ou na poupança das famílias, possivelmente por conta dos gastos com jogos on-line.

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Entre as instituições privadas de ensino, já existia a suspeita de que as apostas poderiam estar afetando o desempenho do setor. Reuniões com acionistas abordaram o tema, levando a ABMES a contratar o estudo que confirmou a influência negativa das apostas na educação.

"Cursar o ensino superior não é uma aposta, é certeza. Educação e trabalho duro são os únicos caminhos para o sucesso. Esses apostadores estão muitas vezes alimentados pela ilusão e vício. Por isso, é preciso regulamentação e campanhas de conscientização", defendeu Niskier ao O Globo.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em junho reforçam a importância da educação superior: trabalhadores sem nível superior tiveram um salário médio de R$ 2,4 mil, enquanto aqueles com graduação recebiam, em média, R$ 7 mil — quase três vezes mais.

Fonte: Redação Terra
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