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Na prática: alunos descobrem lições sobre a Câmara Federal

Alunos da UnB simulam atividades de deputados e falam o que aprenderam após estarem atrás da bancada

28 jul 2015 - 08h51
(atualizado às 11h41)
Estudantes de ciência política e comunicação se organizam para simular, da maneira mais fiel possível, as atividades da Câmara dos Deputados
Estudantes de ciência política e comunicação se organizam para simular, da maneira mais fiel possível, as atividades da Câmara dos Deputados
Foto: Alana Martinez / Facebook / Reprodução

E se falássemos que a presidente da Câmara dos Deputados é uma mulher e feminista? Uma imagem um tanto quanto contrastante com a do deputado Eduardo Cunha, atual presidente da casa. Porém, essa é a realidade na Câmara do projeto Politeia, idealizado pelo Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

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Estudantes de ciência política e comunicação se organizam para simular, da maneira mais fiel possível, as atividades da Câmara dos Deputados, desde a criação de projetos de lei até o processo de aprovação delas.

As maiores pautas na simulação deste ano, que ocorreu entre os dias 20 e 24 de julho, foram sobre o aborto, homolesbotransfobia, agressão às mulheres e terceirização. Demandas dignas da vida real, não?

Segundo a coordenadora docente do projeto, Graziela Teixeira, o projeto tem grande peso não apenas na formação de futuros cientistas políticos mas também na criação de cidadãos.

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“Quando estamos de fora, muitas vezes temos uma visão preconceituosa da política, mas, lá dentro, os alunos passam a entender o que está acontecendo. Eles podem ser melhores cidadãos com esse projeto e não só usarem isso na profissão mas também para esclarecer outras pessoas de como funciona a política brasileira”, explica a professora.

Então, se você ainda acha que passar um projeto de lei é fácil ou que o impeachment é algo rotineiro, aqui vão algumas lições dos estudantes da Politeia que te farão repensar a política brasileira:

Passar uma lei não é fácil

Vamos com calma. Não é só bater panela, não é só protestar para um projeto de lei ser aprovado ou vetado. “O maior aprendizado é ter o conhecimento do quão difícil e burocrático é a apresentação e o encaminhamento de uma lei. Cobrar medidas dos deputados torna-se um tanto quanto fácil para quem está de fora, mas para quem está lá dentro é difícil”, afirma o estudante Guilherme Camargo, assessor de logística do projeto. Ele ressalta que cobrar é importante, “só que o que falta é o conhecimento de como se dá o processo por trás das leis”.

Ao analisar o Politeia, o professor Rodrigo Gallo, do curso de pós-graduação em Ciência Política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), acredita que projetos como esse são ótimos, pois “no Brasil, temos um grande problema: a população não tem noção de como funciona a divisão dos poderes, o que o legislativo, executivo ou judiciário fazem”.

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Segundo Gallo, "o projeto é legal porque mesmo que de forma lúdica, simulativa, faz com que a pessoa entenda como funciona as leis. Ela pode passar a fiscalizar o andamento delas pela internet, por exemplo. É algo que funciona na vida real.”

Lugar de mulher pode e deve ser na política

Apesar das mulheres serem maioria e representarem 51,95% da população brasileira, elas ainda não chegam a 10% na Câmara dos Deputados. Porém, se depender dos alunos participantes do Politeia, esse é um quadro a ser mudado em breve.

Mariana Mesquita, estudante de ciência política, simula a presidente da Câmara dos Deputados, sentando na cadeira de Cunha. Ela é a primeira mulher do projeto a ser eleita para o cargo. Com fala firme, diz que o feito tem uma importância crucial e complementa: “o ideal é que a gente não visse (uma mulher no cargo de presidente da Câmara) com tanta desnaturalidade, mas infelizmente temos uma política na vida real que é basicamente composta por homens”.

Para a estudante Beatriz Ventura, que participa de sua primeira simulação como deputada do Partido Progressista (PP), o projeto é uma forma de questionar por que não existem tantas mulheres na política. “Tem muito aquela coisa de ‘a mulher não está na política porque não gosta’, então a gente está mostrando que não é isso. Se aqui a gente está tendo voz, apresentando projeto, falando, deliberando... por que na vida real não acontece? Então acho que causa esse questionamento e isso é bastante positivo na sociedade de maneira geral”.

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Lugar de negros também é na política

Se a representação de mulheres já é pequena na política, a de negros então... Eles são apenas 4,3% da Câmara.

Para Rodrigo Gallo, “é fundamental que a representatividade de mulheres e negros aumente no Congresso. Temos o hábito de dizer que as minorias precisam ser ouvidas, mas mulheres e negros não são minorias, numericamente falando. Então isso só mostra que há um preconceito com essas pessoas. O Congresso precisa refletir a pluralidade da população.”

Mayra Dutra de Oliveira simula a líder do PP e acredita que a representatividade dessas minorias no Politeia é de grande importância, já que o projeto tem uma grande visibilidade e é transmitido até pela TV Câmara. “Essa ideia possui uma grande importância para demonstrar para a população que a gente está aqui, que também nos interessamos por política e que temos tanto direito de estarmos aqui quanto todos os outros parlamentares homens e brancos.”

Mayra Dutra de Oliveira representa a líder do PP no Politeia e acredita que a representatividade de mulheres e negras no projeto é importante para mostrar que essas "minorias" também se interessam por política
Foto: Alana Martinez / Facebook / Reprodução

Porém, a “presidente da Câmara” Mariana Mesquita acrescenta que a expressão de mulheres negras no projeto poderia ter tido uma expressão maior “se não fosse nossa estrutura tão branca e tão machista”. Ela explica que o projeto “tem uma frente negritude muito ampla, uma frente de mulheres muito ampla, mas que para a gente nunca vai ser ampla o suficiente para compensar tudo que acontece na vida real”. Contudo, Mesquita acredita que isso já dá uma cara muito melhor ao projeto. 

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Fonte: Terra
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