100% home office: CEOs e funcionários contam como é trabalhar em empresas que ficaram a distância

Após grandes organizações retornarem ao escritório, pequenas e médias empresas seguem modelo home office; empresários falam em produtividade, trabalhadores praticam esporte e conseguem morar no exterior

14 out 2023 - 17h10
(atualizado em 16/10/2023 às 18h11)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em algum momento da pandemia, trabalhadores de diversos setores viveram o auge do trabalho 100% remoto. Três anos depois, a realidade mudou. Segundo dados da consultoria PwC, atualmente somente 9% dos profissionais no País trabalham de forma totalmente remota. Apesar da redução e da onda crescente de empresas que regressam ao escritório, muitas organizações, especialmente pequenas e médias, decidem manter seus funcionários em casa.

As razões são inúmeras: desde flexibilidade e maior foco no horário de trabalho até corte de custos com espaços físicos. "A flexibilidade é um benefício importante. Para muitas pessoas, representa um tipo de remuneração, invisível, mas representa. Então, é uma atração de talentos", pondera Sylvia Hartmann, pesquisadora e consultora de empresas na migração do formato de trabalho.

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Para algumas empresas que surgiram com a filosofia de trabalhar de qualquer lugar do mundo, resistir ao movimento de retomada ao presencial não foi uma tarefa difícil.

É o caso da Oxygen, organização fundada em 2019 que produz conteúdo sobre inovação. Com 12 funcionárias distribuídas em diferentes regiões, como São Paulo, Vitória (ES) e até em Londres, a empresa argumenta que os resultados são alcançados sem a necessidade do presencial.

A avaliação é de que o modelo home office permite maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional das colaboradoras - todas são mulheres.

"Achamos que esse é o futuro do trabalho, muito mais leve e flexível, sem o peso das despesas de um escritório, nem as desvantagens da locomoção diária, e é melhor para o meio ambiente", defende a CEO da Oxygen, Andrea Janér.

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Para compensar a ausência das conversas dos corredores, a equipe reserva as terças-feiras para se reunir em uma unidade da WeWork (companhia de espaços compartilhados). As funcionárias de outros locais participam a distância. "Guardamos para resolver nesse dia, aqueles projetos que precisam do pensamento focado e coletivo", explica Janér.

A empresa paga passeios culturais para toda a equipe a cada dois anos, além da viagem da funcionária de Londres ao Brasil pelo menos três vezes ao ano.

Recentemente, a Oxygen foi anunciada como participante do projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil, que agora se prepara para implementar a redução de jornada no negócio.

"Está no nosso DNA testar novas ideias e aprender com elas. Quando olhamos para as tendências, sabemos que a flexibilidade é um dos valores, não só para a geração jovem que está em busca de equilíbrio, mas para todos que acreditam que é possível ser mais feliz nos papéis que desempenhamos na vida", afirma a CEO.

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Modelo remoto trouxe ganho de produtividade

Embora existam muitas empresas que nasceram remotas, outras estabeleceram o formato somente após o teste forçado pela pandemia. A Cubos Academy, plataforma que oferece cursos online para profissionais de tecnologia, foi lançada poucos meses antes da crise sanitária.

Naquela época, o escritório, com sede em Salvador (BA), funcionou por cerca de três meses. Após o lockdown, os funcionários partiram para o remoto e, desde então, não retornaram à rotina presencial.

Com a mudança da forma de trabalhar, veio a necessidade de adotar ferramentas e novas estratégias para a gestão de tarefas.

Além das conhecidas reuniões online, passaram a utilizar a plataforma Slack (aplicativo de mensagens para empresas) para otimizar a comunicação.

"A parte mais complicada foi desenvolver o hábito e a disciplina na rotina. No início, foi muito complexo porque não estava acostumado com o modelo remoto. Depois consegui colocar na minha mente o que era local de trabalho e o que era local de lazer estando dentro de casa", relembra.

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Para alinhar a distância de 16 horas em relação ao horário brasileiro, Ferreira marca reuniões pela manhã na Nova Zelândia, período em que ainda é tarde no Brasil.

O resto do expediente é utilizado para atividades que podem ser tocadas apenas por ele. "Meu modus operandi é 100% remoto e espero que continue assim", relata o profissional.

Quem também aproveitou a flexibilidade do remoto para mudar o CEP foi o publicitário Renan Franco, 30, gerente de marketing do Férias & Co, empresa de benefício de viagens.

Ele migrou da capital paulista para Natal (RN) sem data para voltar. Segundo Franco, não fosse o remoto, ele não teria a oportunidade de visitar outros lugares enquanto trabalhava para decidir onde desejaria morar.

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"Vim para um ambiente diferente, estou perto da praia. Consegui ficar muito mais ativo, principalmente na parte de exercícios físicos. Hoje tenho o hábito de nadar no mar, algo que não era possível no trabalho presencial. Então, fazer o que me faz bem e ser livre para ter minhas próprias escolhas me deixa totalmente motivado a seguir nesse modelo de trabalho", afirma Franco.

Bruno Canone, CEO da Férias & Co, calcula que por mês são poupados cerca de R$ 10 mil em gastos que iriam para manutenção de escritório, água, luz, produtos de limpeza e outras despesas.

Segundo o CEO, o investimento é revertido nas áreas de auxílio home office e benefícios mensais de viagens para os 50 funcionários.

Vantagem competitiva

A economia no custo de operação dos escritórios dá brecha para empresas investirem em alguns benefícios, no resultado da empresa, no custo do produto, em inovação e capacitação dos colaboradores, afirma a pesquisadora e consultora Sylvia Hartmann.

Segundo Hartmann, as pequenas e médias empresas devem estar à frente do modelo remoto nos próximos anos. Esse protagonismo não acontece pela inviabilidade do formato nas organizações de porte maior, mas sim por um olhar superficial das empresas grandes.

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"Uma empresa menor tem mais facilidade de mudar. Já as grandes empresas, escolhem o presencial porque estão acostumadas. Mas, se essas empresas avaliarem o horizonte, aprenderem a trabalhar de forma remota com seus times administrativos, vão ter inúmeras boas práticas que podem ser implementadas com todo o resto da equipe que carrega a empresa de forma operacional", avalia.

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