Após comprar 37 escolas em SP, grupo chileno enfrenta processos e revolta dos pais

Desde 2019, empresa Vitamina acumula uma série de ações judiciais devido a problemas de pagamento de professores e aluguéis

11 mai 2023 - 10h10
(atualizado às 10h10)
Foto: Estadão

O grupo chileno Vitamina, que desde 2019 adquiriu 37 escolas particulares de educação infantil em São Paulo, enfrenta agora uma série de ações judiciais devido a problemas de pagamento de professores e aluguéis, além de reclamações por parte de pais relativas ao atendimento das crianças de zero a 5 anos

Conforme apuração realizada pelo Estadão, na terça-feira, dia 9, algumas escolas não abriram ou registraram faltas de funcionários em decorrência da ausência de pagamento dos salários deste mês pela empresa.

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“Cada hora era uma professora, era desesperador. Não tinha auxiliar as crianças sem referência alguma de um adulto na sala de aula e não nos deixavam nem entrar na escola”, conta a psicóloga Cecília Dias, mãe de João, um aluno da Escola Jacarandá que permaneceu na instituição até o final de 2022. 

Antes de ser adquirida pelo grupo em 2019, a instituição era reconhecida como uma referência em educação infantil na cidade de São Paulo, com mais de 25 anos de atuação na região de Higienópolis.

“É muito triste ver o que aconteceu com a escola, as donas eram profissionais maravilhosas, mas toda a proposta pedagógica foi mudada. Agora virou um espaço apenas para as crianças estarem sem educação alguma”, diz. 

Após retirar seu filho João da escola, Cecília comparou a situação atual com o atendimento que teve para seu filho mais velho, que atualmente tem quase 7 anos e cursou toda a educação infantil na Jacarandá.

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De acordo com ela, a escola começou a unir turmas de diferentes idades, deixou de oferecer aulas de música e removeu brinquedos do pátio.

“Tudo era feito sem transparência alguma, ninguém explicava, a diretora não tinha autonomia e não conseguimos falar com a Vitamina", completou. 

Mensagens aos quais o Estadão teve acesso revelam que, para tentar contornar a falta de professores que era demitidos ou faltavam por não receberem salário ou vale-alimentação, a Vitamina criou um grupo no WhatsApp denominado SOS Escolas, que supostamente visava prestar apoio aos funcionários. 

De acordo com os prints das conversas, a empresa solicitou a funcionários do setor administrativo que fossem às escolas para cuidar das crianças, o que constitui uma prática ilegal.

Isso porque, a legislação brasileira estabelece que somente professores com formação superior podem atuar como responsáveis pelas salas de aula no ensino infantil. 

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Pandemia

As escolas de educação infantil foram as mais afetadas pela pandemia em 2020 e 2021, pois a obrigatoriedade de matrícula se inicia a partir dos 4 anos de idade e o ensino online não é recomendado para crianças pequenas. 

As instituições adquiridas pela Vitamina, que enxergou uma oportunidade de negócio com a perda de receita e alunos, eram em sua maioria pequenas e ofereciam atendimento personalizado. 

Denúncias

Durante a apuração, a reportagem teve acesso a um vídeo que mostrava a presença de baratas nas dependências de uma das escolas adquiridas pela Vitamina. Além disso, funcionários e professores relataram problemas como vazamentos de água, infiltrações e falta de manutenção nos equipamentos de ar-condicionado das instituições. Vale ressaltar que algumas dessas escolas possuem mensalidades que chegam a cerca de R$ 3 mil.

“Como meu filho tinha perdido muito com a pandemia, acabei deixando mais um ano na mesma escola, mas me arrependo”, conta advogada Amanda de Queiroz, que também tirou o filho de uma escola comprada pela Vitamina. 

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Uma mãe cujo filho estudava na escola Lumens, em São José dos Campos, que foi adquirida pela Vitamina, publicou um vídeo nas redes sociais este ano, denunciando a falta de alimentos na instituição. Como resultado, a escola perdeu todos os seus alunos e foi fechada.

Credores 

De acordo com um advogado que representa diversos credores da empresa chilena, os funcionários e professores da Vitamina não recebem o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) desde setembro. Além disso, as verbas rescisórias dos trabalhadores que são demitidos estão sendo divididas em parcelas mensais de 11 meses.

Desde o final de 2022, os aluguéis dos prédios que abrigam as escolas adquiridas pela Vitamina também não são pagos. Joel Batista, representante das escolas e funcionários que estão em litígio com a empresa, afirma que, caso a situação não seja regularizada, a Justiça poderá solicitar o despejo dos imóveis.

“Isso deve se arrastar até o fim do ano apenas em respeito às crianças que estão no local”, diz.

O que diz o grupo

Ao ser questionada sobre a situação da empresa e as denúncias feitas por pais, professores, funcionários e ex-proprietários de escolas, a Vitamina respondeu por meio de uma nota, afirmando que foi afetada pela pandemia, "assim como outras empresas do setor", mas que não está à venda e deseja construir um "projeto de longo prazo no País."

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“Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para honrar o compromisso de entregar uma educação infantil de qualidade a todas as nossas crianças e famílias”, diz trecho da nota. 

O grupo chileno também afirmou que está adotando uma "política mais rigorosa de gastos, em consonância com a realidade e o atual contexto do setor". A empresa ainda ressaltou que nunca tomou decisões que possam colocar em risco a "integridade das crianças que frequentam as escolas adquiridas".

Além disso, a Vitamina destacou que investiu uma quantia significativa de recursos para modernizar as instalações das escolas, melhorar a segurança, ampliar as cozinhas e as salas de aula, entre outras ações realizadas.

Fonte: Redação Terra
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