Baiana realiza sonho de ser professora ao criar startup de educação empreendedora

Karine Oliveira já formou 5 mil alunos na escola voltada para empreendedores individuais e que carinhosamente chama de 'Sebrae da Quebrada'

15 mai 2024 - 05h00
(atualizado em 16/5/2024 às 19h21)
Jovem transforma sonho de ser professora em escola de educação empreendedora com mais de 5 mil alunos
Jovem transforma sonho de ser professora em escola de educação empreendedora com mais de 5 mil alunos
Foto: Reprodução/Shark Tank Brasil

Ao lado da mãe na Bahia, de onde é natural, Karine Oliveira começou a dar aulas. Não de empreendedorismo, mas de economia solidária. Hoje, ela comanda a Wakanda, escola de educação empreendedora com mais 5 mil alunos dentro e fora do País, e até já foi reconhecida na Forbes Under 30 de 2020 devido ao seu trabalho. 

A Wakanda nasceu em 2018, a partir de um trabalho da faculdade de Serviço Social, curso que Karine estudava na época. Agora, com seis anos consolidados de empresa e novas etapas pela frente, a empresária conta que nem sempre foi sempre assim. 

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Natural de Engenho Velho da Federação, um dos bairros mais populosos de Salvador, ela relembra que o sonho "original" era ser professora universitária. Com a vontade de torná-lo realidade, começou a dar aulas com 19 anos para grupos da comunidade em que morava, e lá permaneceu até os 24 anos. 

"Eu era uma menina preta que nunca teve medo de falar no microfone", conta. "Nesse processo de dar aula para outras pessoas e vendo a minha mãe dar aula -- ela sempre vai ser minha maior inspiração --, fiz meu primeiro curso de empreendedorismo, em 2016, quando eu tinha 24 anos", relembra. 

Ali, Karine sentiu um verdadeiro choque de realidade. Primeiramente, raiva e, em suas palavras, ódio.

"Era muita palavra em inglês, era muito termo técnico e, nossa, eu, uma pessoa que só dava aula para quilombos, para comunidades indígenas...", compara.

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Sua mãe, quem ela tem como maior fonte de inspiração, tentava incentivá-la, convencendo-a de que mais importante do que reproduzir, ela precisava tornar o conteúdo ensinado acessível. Com essa ideia, ela saiu do curso motivada para colocar tudo em prática e abrir sua primeira empresa. 

Naquele mesmo ano, Karine investiu em uma pequena empresa de roupas, a 'Oxente'.

"Foi a primeira vez na minha vida em que, ao invés de ensinar empreendedorismo, eu coloquei tudo em prática. Não sabia nem costurar", conta, aos risos. "Em sete meses, fiz um lançamento incrível. Consegui parcerias legais e fiz 11 dias de evento no shopping. Uma semana depois, minha primeira lição: a empresa não deu certo".

Karine precisou escolher entre tocar a 'Oxente' e terminar minha faculdade de Serviço Social. Naquele momento, era muito mais importante estudar.

Karine Oliveira contou ao Terra sua trajetória até ser reconhecida profissionalmente e cases de sucesso da Wakanda
Foto: Reprodução/Tiago Caldas

Nascimento da Wakanda, o 'Sebrae da Quebrada'

Após concluir a faculdade, resolveu retornar para o empreendedorismo, mas, desta vez, como professora. A partir de um trabalho de faculdade, Karine escreveu sua primeira metodologia, adotada na Wakanda. Eram três aulas presenciais para ensinar precificação, vendas e planejamento.

"O nome 'Wakanda' veio porque exatamente em março de 2018 teve o lançamento do filme Pantera Negra. Lá que eu conheci a Wakanda e falei que ia fundar uma Wakanda em Salvador", relembra. 

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Na história do super-herói da Marvel, Wakanda é uma das nações mais ricas do mundo, localizada no Continente Africano. E é exatamente o que a escola de educação empreendedora propõe para seus alunos, com sede na cidade com mais pessoas negras fora da África. 

"A gente utiliza a linguagem informal para poder acessibilizar o conteúdo e, a partir disso, tornar o conteúdo muito mais palpável ali na ponta. A Wakanda é um Sebrae da quebrada que utiliza as múltiplas linguagens informais como idioma", conta orgulhosa. 

A escola é voltada para pessoas que empreendem por necessidade, e ensina conceitos básicos sobre negócios com uma linguagem regional, cursos e acelerações. 

Wakanda, em 2019.
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Até 2020, a escola funcionou presencialmente, na Bahia, mas com a pandemia precisou avançar para o online, formato que mantém até hoje. Os interessados podem se inscrever por Whatsapp e por lá recebem os links para as aulas e mentorias, todas lecionadas por Karine e outros professores qualificados. Os valores de cada curso variam, mas são todos sociais. A ideia principal é ser acessível para o bolso do aluno. 

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"O nosso principal cliente são empresas de grande porte multinacionais, porque o que a gente entende é que o nosso objetivo como impacto social é que esse curso chegue com um valor social ou gratuito para esses empreendedores", explica Karine. 

Variedade de cursos

Na Wakanda há cursos para capacitação em marketing digital, uso de inteligência artificial, precificação, vendas, capital de giro, gestão de planejamento, planejamento estratégico, organização de tempo e prioridades, entre outros. Cada um deles com nomes próprios, como o "Pega a Visão", que é voltado para gestão financeira de pequenos negócios.

Com a ideia, Karine foi destaque no programa de investidores Shark Tank Brasil, em 2020. Ela avalia que foi naquele momento que a iniciativa saiu de um negócio de impacto social para se tornar uma startup. 

"Fui uma das primeiras baianas a participar do Shark Tank Brasil com uma empresa em Salvador. Eu não tive que me mudar pra São Paulo. [...] A minha empresa teve renome ainda estando em Salvador. Então, foi uma experiência muito bacana", destaca. 

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Cases de sucesso

Hoje vivendo do sonho de dar aulas, Karine Oliveira não tem dúvidas de que é possível aprender a ter uma mente empreendedora, e a vendedora Lady Jane é um de seus cases de sucesso. De acordo com a empresária, Lady vendia seus brownies de chocolate belga por um preço abaixo do que valia, e não tinha nenhum lucro com o pequeno negócio. 

"Eu desafiei ela. Falei: 'Olha, vamos fazer assim, porque não entra na minha cabeça o seu brownie ser de chocolate belga e ser R$ 3. Ou ele é muito ruim ou você está vendendo errado. Então, pedi para ela trazer para aula e vender. [...] Ela tentou vender, ainda falou 'R$ 5' de um jeito muito tímido", relembra. 

Inicialmente, os colegas compraram para ajudar, já que ela não estava muito segura. Quando provaram o sabor, ficaram tão surpresos que afirmaram que pagariam até R$ 10 no doce.

"Durante a Páscoa, ela conseguiu direcionar as vendas para pessoas que realmente gostam de brownie e, moral da história, pela primeira vez, ela ganhou R$ 5 mil [de lucro] em uma Páscoa", conta, sem esconder sua empolgação. 

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Ainda segundo Karine, a aluna conseguiu lucrar com as vendas até encontrar um emprego na verdadeira área dela, que era Engenharia Elétrica.

"Pra mim, isso é sucesso. Porque ela conseguiu entender que o empreendimento dela dava certo até o momento que ela conseguiu voltar para o mercado de trabalho, que era o sonho dela", destaca.

Fonte: Redação Terra
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