Você lembra o que fazia entre os 16 e 26 anos? Luiz Fernando da Silva já trabalhava para mudar a neurociência a partir da relação cérebro-máquina.
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Ficou confuso? De modo popular, ele pesquisa e desenvolve sistemas que permitem ao usuário mexer próteses e outras tecnologias apenas utilizando o poder da mente.
O trabalho de Luiz Fernando da Silva Borges, de 26 anos, é tão relevante que no mês passado, em setembro, ele foi reconhecido e incluído em uma seleta lista de empreendedores de até 35 anos pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) por suas contribuições à neurociência. Mas essa honraria não é a primeira conquista do brasileiro, que já foi reconhecido com "altas habilidades e superdotação" pelo núcleo governamental especializado neste tipo de identificação, o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades–Superdotação (NAAH/S) de Campo Grande (MS).
Antes mesmo de entrar na faculdade, ele desenvolveu um método para controlar próteses robóticas com sensibilidade tátil. Ou seja, a pessoa amputada pode não só retomar os movimentos com o braço mecânico, como também pode sentir a temperatura do objeto que está tocando ou segurando.
Esse avanço no campo da neurotecnologia lhe rendeu uma premiação do Lincoln Laboratory do MIT, que batizou o asteroide 33503 de Dasilvaborges em sua homenagem.
Agora, aos 26 anos e cursando engenharia da computação, ele quer criar as oportunidades que não teve na juventude em Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. Por isso, fundou a Kortex Corp, empresa que tem como objetivo democratizar o ensino da neurotecnologia, fomentar pesquisas e financiar projetos promissores. A ideia, além de colocar o Brasil como referência no ramo, é preparar as próximas gerações para as profissões do futuro.
Conheça Luiz Fernando da Silva Borges, o gênio brasileiro
Nascido no Mato Grosso do Sul, Luiz Fernando é um autodidata que se destacou logo cedo. Criado em uma família regida por mulheres, ele não tinha muito acesso ou recursos, mas o estudo era incentivado desde sempre dentro de casa. Seus horizontes ficaram sem barreiras quando ele tinha 12 anos, época em que a família comprou seu primeiro computador.
"Eu morava numa vizinhança bem violenta. Na minha rua tinha dois pontos de vendas de drogas; já cheguei em casa e tinha batida policial; não conseguia entrar em casa porque a rua estava fechada. Já aconteceu de traficante cair dentro de casa fugindo da polícia, pessoas já foram assassinadas na esquina da minha rua... Então, esse é o ambiente que eu morava", lembra. "Creio que o investimento na educação, para eu conseguir ficar dentro de casa e conhecer o mundo por meio dos livros, por meio da televisão e do PC, foi essencial".
Navegando pelo oceano de conhecimento que a internet proporcionou e inspirado em séries e longas-metragens de ficção científica, Luíz sonhava em estudar genética e adorava consumir conteúdo sobre o assunto. Um de seus ídolos, inclusive, era a geneticista Mayana Zatz. Mas todo seu conhecimento logo o levaria para outra ramificação da ciência.
Entre os 14 e 16 anos, cursando o ensino médio e o técnico em informática no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) – onde adquiriu boa parte de conhecimento em relação à programação –, ele já demonstrava interesse pela neurotecnologia. Luíz participava de feiras de ciência e chegou a desenvolver um sistema embrionário que tinha como objetivo viabilizar a comunicação de equipes médicas com pacientes em coma.
O projeto, por mais inicial que fosse, lhe rendeu duas vitórias na categoria engenharia biomédica, em 2016 e 2017, no Intel International Science and Engineering Fair, prêmio promovido pela multinacional Intel e que destaca projetos em ciência e engenharia.
Profissões do futuro e o Brasil referência na neurotecnologia
Aos 18 anos, Luiz Fernando já tinha conquistado mais de 60 prêmios científicos, conforme lista em seu site oficial. Em 2019, após um ciclo de palestras pelo País, mudou-se para São Paulo, onde estudou no Insper e, durante a pandemia, desenvolveu uma espécie de ventilador pulmonar de baixo custo. Ele também trbaalhou no incentivo à vacinação infantil com uso da realidade virtual no SUS.
Em 2022, iniciou sua graduação no Inteli e fundou a Kortex Corp, com intuito de disponibilizar recursos e transformar o Brasil em um celeiro de novas oportunidades na neurotecnologia.
"O foco principal da empresa é a educação. Existem plataformas já prontas para receber essas aulas online, hoje em dia tem tantos cursos vazios, de coisas que não agregam muito conteúdo, pensei: 'Porque não ocupar esses espaços com tecnologia?'", revela.
A ideia da Kortex Corp é atrair interessados em neurociência, tecnologia e programação, e realizar um nivelamento de conhecimento. Todo esse processo é realizado a partir de aulas online e, assim que concluído, o discente pode adquirir um kit com peças fundamentais para desenvolver seus próprios sistemas e ideias. Projetos promissores e pioneiros têm a possibilidade, inclusive, de ganhar o suporte financeiro da instituição.
"A minha vida foi transformada graças a fazer projetos com neurotecnologia, apresentar esses projetos em feiras de ciências, conhecer o mundo. Representando o Brasil lá fora, ganhei mais de 60 prêmios, dentre eles o asteroide 33503 DaSilvaBorges. Por que não dar essa mesma oportunidade?", provoca. "Só que dando essa mesma oportunidade da questão didática, de aprendizado, e oferecer com isso um mega plano de carreira, dentro de uma empresa só", acrescenta.