Cobras, gatos, coelhos e aves: conheça a rotina de quem é babá de pet

O Terra conversou com profissionais da área para saber como é o trabalho dos cuidadores de bichos de estimação

12 jul 2023 - 05h00
(atualizado às 13h25)
Débora Podda é pet sitter especializada em gatos, mas também já atendeu bichos como cobra e coelho
Débora Podda é pet sitter especializada em gatos, mas também já atendeu bichos como cobra e coelho
Foto: Reprodução/Instagram/@debora_petsitter

Viagens e períodos longos fora de casa exigem planejamento dos tutores preocupados com o bem-estar de seus animais de estimação. É neste cenário que o pet sitter ou babá de pet entra em cena, cuidando da alimentação, limpeza e diversão do bicho enquanto o tutor está fora.

Cada cuidador determina para quais bichos prestará atendimento. Os cães, por exemplo, dominam os lares brasileiros, mas há profissionais que também cuidam de animais silvestres (presentes na fauna brasileira) e exóticos. Assim, alimentar uma cobra, ficar atenta ao enriquecimento ambiental para receber uma calopsita ou preparar comida para um papagaio ser ações corriqueiras na rotina de um pet sitter. 

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O assunto pode parecer frescura para quem não tem pet, mas o vínculo entre humanos e bichos não é novo e, com 149 milhões de animais domésticos nos lares brasileiros, a profissão de babá de pet também mostra que tem espaço para crescer. 

Calopsitas, coelhos e cobras

Débora Lucia Podda (@debora_petsitter), de 48 anos, é Técnica em Veterinária e pet sitter há mais de sete anos. Atualmente o seu trabalho é majoritariamente voltado para gatos, mas ela também tem outros clientes especiais: a coelha Amora, resgatada após sofrer maus-tratos, o papagaio Lôro Pandé e uma cobra cornsnake, que recebe os seus cuidados quando a tutora viaja. 

O atendimento é feito a partir de uma avaliação das necessidades e características do bicho, também conhecida como anamnese. Ela explica que cobras geralmente se alimentam a cada 15 dias de "cobaias vivas ou congeladas". Por isso, a conversa é fundamental. "Você precisa entender quanto tempo o tutor vai ficar fora para calcular como será a alimentação, [precisa saber] como é o manejo correto para oferecer a coabaia para a cobra, saber os cuidados com o viveiro", explica Débora. 

O trabalho de um cuidador de pet exige constante aperfeiçoamento. Antes de Amora, a experiência de Débora com coelhos era voltada para o manejo em biotérios (instalações para pesquisa científica). O cuidado com a coelhinha exigiu que ela buscasse mais informações com veterinário, tutora e o Grupo de Apoio aos Coelhos (GAC).  A experiência foi tão positiva que rendeu tutorial com dicas para manejo e limpeza de viveiros de coelhos. 

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A calopsita Tonico é um dos hóspedes preferidos da pet sitter paulistana Leila Guimarães (@atiadosdogs), de 41 anos. Nos dias em que ele vai para a casa da 'Tia Leila', na região da Bela Vista, o seu tutor fica tranquilo pois sabe que, além dos cuidados com higiene e alimentação, o Tonico vai brincar, dançar e cantar com a cuidadora. "Eles gostam de estímulos diferentes, alguns preferem assobio, outros música. É importante ter esse momento de enriquecimento ambiental", explica. 

Cuidadora de animais desde 2016, Leila não imaginava que o trabalho se tornaria a sua profissão. "Na época, minha filha era pequena e tinha vontade de ter um bicho. Eu tinha acabado de sair de um trabalho e começado outro virtual. Me cadastrei numa plataforma de pet sitter, para ver se ela ia realmente se adaptar aos bichos", relembra. A tentativa deu certo. Hoje Leila cuida principalmente de cachorros, gatos e aves, aceitando clientes por plataformas e muitas vezes por indicação.  

Cobra, calopsitas e coelhos não são as únicas espécies 'menos convencionais' encontradas nos lares brasileiros. A bióloga Helena Truksa, 45, já atendeu "corujas, papagaios e lóris, serpentes, peixes, furões, lagartos, porquinhos-da-índia, ratos e mesmo Artrópodes como aranhas caranguejeiras e tarântulas". Desde 2004, ela é proprietária da Ethos Animal (@ethosanimal), empresa voltada para etologia e bem-estar animal que  oferece serviõs dehospedagem, pet sitter, cursos e palestras.

A criação da empresa foi uma "consequência lógica do tipo de trabalho que eu já fazia, ajudando os tutores a melhorarem sua relação com seus bichos e como respeitá-los adequadamente enquanto indivíduos", pontua Helena. Na época, ela já trabahava com Consultoria e Terapia Comportamental para Animais e ficava responsável pelos cuidados dos animais, realizando visitas até a residência do pet ou o hospedando, quando os clientes viajavam. 

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Débora, Leila e Helena encontraram nas diferentes possibilidades do trabalho de cuidador de animais a sua principal e, ou, única fonte de renda. Os valores cobrados pelas entrevistadas variam, mas a média de preços cobrada por cuidadores em São Paulo é de R$ 35 a R$ 150 por visita ou diária.  

Tonico é uma calopsita e cliente de longa data da pet sitter Leila Guimarães
Foto: Reprodução/Instagram/@atiadosdogs

Estudo e formação 

"Estudar é primordial. As pessoas me perguntam:' Ah, mas eu gosto tanto de animal, eu posso trabalhar como pet sitter? Pode, mas você precisa estudar, adquirir conhecimento. Alguns atendimentos poderão ter emergências e você vai precisar de conhecimento para lidar com a situação", reforça Débora.  

Além das emergências é preciso lembrar que os animais possuem características e manejos diferentes. "Os animais não convencionais possuem toda uma biologia e fisiologia diferentes das de cães e gatos, tornando qualquer trabalho relacionado a eles muito mais delicado e complexo [...] Há muito erro de manejo quando a pessoa pensa que pode lidar com outros animais da mesma forma que faria com um cão ou gato. E as particularidades das espécies são ignoradas nesse momento, tornando o atendimento um risco à saúde física e mental do animal", explica Helena. 

Um caminho para a formação de pet sitter são os cursos Técnicos em Veterinária. Na Ethos, Helena conta com equipe de profissionais formada por auxiliar de veterinário de pets não convencionais, técnicos, biólogos, psicólogos e veterinários. "Só gostar ou ter um bicho em casa não garante que a pessoa saiba como cuidar adequadamente e fazer o manejo correto dos animais neste e em outros serviços", ressalta. 

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Também é possível encontrar cursos de aperfeiçoamento na área, que oferecem certificação, em escolas, empresas e plataformas digitais. O contato com veterinários, biólogos e mentores, como relatou Leila, é outro diferencial para o profissional oferecer atendimento de qualidade e seguro. 

A área tem possibilidade de crescimento, mas, no geral, também falta "regulamentação. As pessoas levam como uma forma de ganhar renda extra e não têm noção do que vão fazer, se sabem cuidar, administrar remédios", reflete Leila

"Nós lidamos com uma vida e com o amor da vida de alguém, isso é tudo muito sério. As pessoas têm que entender que por imperícia e por imprudência podem responder processo. Se profissionalize, não trabalhe do jeito amador", finaliza Débora

Da esquerda para direita: a bióloga Helena Truksa, dona da Ethos Animal, posa com Íris, uma Ararajuba, e Mahin, uma lagartixa leopardo.
Foto: Reprodução/Ethos Animal

Como funciona?

O trabalho geralmente é dividido em modalidades. No atendimento a domicílio, a babá vai até o local e passa geralmente 1h com o animal, cuidando da alimentação, limpeza e administração de remédios, quando necessário, e, claro, do bem-estar emocional, com atenção, brincadeira e carinho. Há também a possibilidade de hospedagem de pets para períodos mais curtos, como uma espécie de creche, ou longos, atendendo aos tutores que irão viajar e não podem levar os companheiros junto. 

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"No pós-pandemia tem muita gente que trabalha no sistema híbrido, eu tenho animais que vem toda segunda e sexta-feira porque são os dias que os pais têm que ir até o escritório. Também é comum a pessoa sair para almoçar num final de semana e deixa o bicho comigo", explica Leila.

A anamnese, o questionário com perguntas sobre o bicho e sua rotina, é fundamental e costuma ser solicitado juntamente ao orçamento. Além disso, é comum a realização de  visitas testes principalmente  quando o pet sitter já tem os seus próprios bichos de estimação e precisa garantir que todos ficarão em harmonia. 

Fonte: Redação Terra
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