Já são doze anos desde que o músico e pesquisador Fernando Tadeu decidiu brilhar em outros palcos. Ele trocou a bateria, a guitarra e os vocais por novos instrumentos de trabalho: câmera, carne, tempero e toda a criatividade característica de sua personalidade. Com a decisão, lá em 2012, mesmo sem querer ele trilhou uma nova carreira: 'caçador de tendências' de hambúrguer.
Apaixonado pelo lanche, que podemos considerar prato típico de grandes metrópoles – Nova Iorque e São Paulo não nos deixam mentir –, ele celebra o lançamento do mais recente dossiê de tendências relacionadas ao hambúrguer e que tem potencial para dominar o mercado na temporada 2024/2025. O saboroso trabalho o torna importante para a indústria, empresários e consumidor final.
"Sempre tive facilidade de comunicar, foi a habilidade que trouxe da música e do meu ímpeto de ser artista. Fui o adolescente que queria ser rockstar, por isso tive banda. Hoje, de certa forma, isso foi realizado, porque eu rodo o Brasil inteiro. É uma espécie de turnê", brinca, em entrevista ao Terra.
E são muitos contratos e participações nessa jornada. Tadeu revela que, como se tornou pesquisador da área de hambúrgueres, sua autoridade no assunto o ajuda a diversificar sua renda. Ele estima que 50% do que fatura vem das marcas que o patrocinam, quando o contratam como especialista, embaixador e/ou influenciador.
Tadeu também participa de eventos fechados, como quando Ronaldo Fenômeno o contratou para um evento particular, faz consultorias, participa de festivais de gastronomia e dá cursos.
"Às vezes dá dinheiro bom, às vezes não dá. Como tenho credibilidade das marcas, tirei um pouco o pé do dinheiro dos cursos. Consigo cobrar menos em qualquer lugar. Você vai me ver numa cidadezinha a quatro horas de Vitória, no interior do Espírito Santo, ou no interior do Mato Grosso, dando aula para 15 pessoas. Mas não é sempre que o curso é limitado assim. Às vezes, faço em Curitiba com 35 alunos e dá uma grana considerável", explica.
Chegar a esse patamar tem um segredo: gostar muito do que faz.
Tudo começou quando…
Dez anos depois de tocar na noite paulistana, Fernando Tadeu decidiu que queria ter mais tempo. Apaixonado por hambúrgueres e sem grandes pretensões, decidiu gravar as receitas que fazia em casa e publicá-las no YouTube. Ele também documentou as viagens que fazia para Nova Iorque, onde seu irmão mora – a primeira, aliás, foi custeada com a grana dos equipamentos que vendeu.
Não havia método definido para mapear o que havia de novo na gastronomia urbana novaiorquina: foi intuitivo e empírico, apenas pensando no que os brasileiros poderiam gostar.
"Aí eu comecei a fazer isso de forma sistemática. O que eu sabia nos primeiros dois, três anos, era que eu tinha que buscar novidades para fazer hambúrguer no Brasil. Paralelo a isso, meu conteúdo começou a ser procurado por gente que estava abrindo hamburgueria. Meu público mudou muito", lembra.
E como o mercado é regido pela lei da oferta e da procura, Tadeu encontrou ali uma oportunidade. Foi então que ele passou a entender a necessidade específica dos empreendedores e a trazer soluções para seus respectivos negócios. Ao mesmo tempo, seu olhar se realinhou para além do sabor: era preciso funcionar comercialmente no Brasil.
Para ensinar, foi preciso estudar
Da pesquisa intuitiva, sem nenhuma habilidade técnica de cozinha, Fernando Tadeu começou a fazer cursos, em suas palavras, "de tudo que aparecia" referente à sua área de atuação. Técnica da carne, o tempero das peças, as características e cortes… Nas viagens para os Estados Unidos, tudo e todos eram referência bibliográfica para ele, até mesmo o porteiro do prédio onde seu irmão morava.
"Foi um trabalho de ir atrás das referências que eu queria, e todas as oportunidades de estudar. Não tem curso para isso. Tem curso de gastronomia, que fala do geral, mas não tem o específico. Eu comecei a buscar meus amigos e pesquisar; a comprar livro sem saber inglês… Os recortes dos conteúdos me ajudaram nesse processo", lembra.
Nessas andanças, Tadeu conta que leu de livros de receita de hambúrguer até materiais sobre genética animal, justamente para construir o repertório que o colocasse como especialista. Não foi fácil dominar a parte técnica, ele admite.
"Tenho TDAH alto mesmo, problema de concentração, e leitura e pesquisa nunca foram fáceis. Tenho 43 anos, então fui uma criança que a escola não estava preparada para o meu nível de abstração. Aí eu descobri que quando a gente é muito apaixonado pelo tema, fica muito mais fácil", acrescenta.
Quanto mais lia, Tadeu percebia que tinha um recorte muito específico e não precisava entender de genética animal como um veterinário, apenas para fazer churrasco e hambúrgueres. Em resumo, a genética animal era aplicada, e isso facilitou seu aprendizado, ao ponto de hoje ele desenvolver uma linguagem simples e leve para ensinar.
Sem abrir mão do lúdico, Tadeu se orgulha do próprio sistema de ensino que é "um caos". Controlável, mas caótico. Ele explica:
"Sei que eles [alunos] precisam de suportes, e é a hora que eu me coloco à disposição. Os grupos dos cursos duram tempo… É normal quando eu saio da cidade e todo mundo ainda fala, manda foto, todo mundo com a cabeça fritando pra fazer a receita, e eu dou suporte. Depois de um tempo, os grupos rodam sozinhos", diz. "Seria mais fácil chegar com receita pronta e eles saírem replicando aquilo e, se forem criativos, criarem outras. Mas eu prefiro que seja um pouco mais divertido".
Mesmo referência, a capacitação continua
Além de aprimorar os conhecimentos técnicos, o pesquisador e coolhunther de hambúrguer Fernando Tadeu busca aperfeiçoar seus métodos de ensino. A criatividade é uma disciplina que de forma recorrente aparece em sua lista de prioridades.
"O mercado de carne e hambúrguer tem o estereótipo do ogro, que de longe não combina comigo, por mais que eu tenha o estereótipo da barba, tatuagens. Estou muito mais à vontade com a criançada do que com os marmanjos do churrasco", revela. "Estou muito mais pelas minorias nesse processo".
A autoridade que conquistou na sua área de atuação deu ao especialista a liberdade de fazer esse tipo de escolha, em vez de seguir uma cartilha já pronta. Tadeu se orgulha de "ser exatamente o que gostaria de ser".
Mas, é claro, não basta dominar os conhecimentos em sua área de atuação, nem ser criativo. Foi preciso aprender a jogar o jogo das redes sociais.
"Você precisa comunicar aquilo que você faz. As pessoas precisam olhar e entender que você tem aquilo internalizado. Não dá pra abrir mão de rede social. Você precisa criar relevância no imaginário da pessoa, de lembrar seu nome quando elas quiserem algo daquela área", afirma.
A compreensão é tanta que hoje sua equipe de comunicação é completa, com assessoria de imprensa, roteirista e contador.
"Começar sozinho é 'tranquilo', dá pra começar. Mas na hora que marcas no tamanho da Polenghi olha para você e diz que vai te patrocinar, não dá pra ser amador", acrescenta.