Fernando Brancaccio, 54, começou a explorar o tema da felicidade em 2012, após sofrer um burnout como executivo de RH. Na época, percebeu que as ferramentas de avaliação organizacional não capturavam o bem-estar dos colaboradores, o que o motivou a buscar alternativas e a criar a Fairjob, empresa especializada em análise de índices de bem-estar no ambiente corporativo. Neste ano, ele foi ao Butão, na Ásia Meridional, para compreender os princípios da Felicidade Interna Bruta (FIB) e entender como poderia aplicar na cultura de trabalho brasileira.
O índice FIB foi criado pelo Butão como contraponto ao PIB (Produto Interno Bruto). O conceito tem como prioridade o bem-estar humano e o equilíbrio com a natureza. A abordagem é fundamentada em nove dimensões:
- Bem-estar psicológico
- Saúde
- Uso do tempo
- Vitalidade comunitária
- Educação
- Cultura
- Governança
- Meio ambiente
- Padrão de vida
No Butão, a liderança, simbolizada pelo rei, é central para o bem-estar coletivo. Fazendo um paralelo com o ambiente corporativo no Brasil, Fernando sugere que os CEOs devem assumir o papel de "reis da felicidade" nas empresas, cuidando de todas as partes interessadas, desde funcionários e fornecedores até clientes.
Fernando destaca que a espiritualidade e o respeito pelo ser humano são pilares das relações de trabalho no Butão. O equilíbrio entre progresso econômico e respeito à natureza também é respeitado.
Educação emocional e impacto nas empresas
Fernando visitou escolas e empresas no Butão para observar como a educação emocional é integrada desde a infância. Ele percebeu que esses ensinamentos podem ser aplicados no treinamento de adultos para uma gestão emocional mais eficaz.
Empatia como base para os negócios
Outra descoberta feita pelo profissional tem relação com o conceito de empatia. Segundo Fernando, apesar de o país ser simples e com baixa renda na média, é exemplar em qualidade de vida e felicidade.
O respeito mútuo e o cuidado com os outros são valores centrais, inclusive no atendimento ao cliente, destaca. A cultura do Butão valoriza a simplicidade no servir e a atenção plena no que se faz.
Felicidade no trabalho como processo, não como resultado
No Butão, o foco está no processo e na qualidade do trabalho realizado, e não no resultado como um fim em si mesmo. Essa abordagem valoriza o caminho e o cuidado com as pessoas envolvidas.
Uso do tempo e pausas intencionais
O tempo no trabalho e na escola é usado com propósito. A prática de pausas regulares ajuda a manter o equilíbrio emocional e a produtividade, observa Fernando. Nas escolas, são feitas pausas de um minuto a cada 40 minutos em prol de concentração e saúde mental.
Relação com produtividade
No Butão, produtividade não é medida pela intensidade, mas pela qualidade e pelo impacto do trabalho. Para Fernando, esse é mais um exemplo em prol do bem-estar das pessoas no trabalho e na vida pessoal, já que reduz o estresse e melhora a saúde geral.
Assim, o equilíbrio entre lucro e cuidado com as pessoas é uma diretriz central no Butão. O lucro é visto como consequência, e não como o objetivo principal.
Considerando a realidade do mercado de trabalho no Brasil, Fernando avalia que alguns conceitos do Butão podem ser adaptados e aplicados. Por exemplo: as pausas ao longo do dia, além do uso mais eficiente do tempo.
Outro ponto para as empresas é a necessidade de diferenciar o que o funcionário sente (percepção) do que a empresa oferece (condição). "Percepção é como o funcionário se sente; condição é o que a empresa faz para promover o bem-estar", resume.